Ludovico Markov, aquele que nunca aparece

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Eu havia reparado em uma coisa; Ludovico, um dos moradores do edifício, nunca aparecia.

Era algo curioso.

Estava sempre indisposto ou com dores. Angelina falou que era pela razão de que ele era russo, e que não lidava muito bem com tempo quente.

As quartas-feiras eram os dias em que todos se reuniam para jogar baralho.

Naquela quarta em especial, eu pude conhecê-lo.

Robusto, quase careca.  Branco como a neve e olhos mais cristalinos que as águas das ilhas Malvinas.

Usava luvas, como um louco. Segundo Angelina, essa fora uma mania adquirida durante quase toda sua vida, ao que trabalhava como mordomo para um grande empresário russo.

— Jam... preciso checar as filmagens da noite passada.

— Aconteceu algo suspeito? — Ela falou vestindo o roupão de seda.

— Aconteceu. Mas não com eles, mas comigo.
Ela me olhou, preocupada.

— Quando chegamos daquela maldita festa, eu não me lembro de muita coisa. —  Continuei falando baixo, pois o nosso apartamento estava sendo vigiado na base do outro lado da rua. — Mas eu simplesmente acordei no apartamento de Gerard.

— Gerard, o do apartamento 20?

— Sim. Eu preciso saber como eu cheguei lá. Jamia, o apartamento daquele cara é bizarro. Cheio de quadros malucos, com uma decoração de capela de cemitério, só indo para ver.

— Então vamos checar as filmagens para entender o que aconteceu.

Ela abriu o notebook e acessou as pastas onde as filmagens eram armazenadas. Mandamos uma mensagem para a base do outro lado da rua, para que mandassem as filmagens de toda noite passada, que ainda não havia chegado no nosso aparelho. Em poucos minutos as mensagens vieram, só que criptografadas.

O pessoal da inteligência era assim: "somos inteligentes, então, sempre vamos dificultar o processo para vocês".

Levantei do sofá e fui até a janela, e como em um ato infantil, destaquei meu dedo do meio para eles, que logo mandaram outra mensagem, só que desta vez sem chaves de codificação.

"Que feio, o que a Morrison acharia disso?"
Então eu havia me dado conta de que eles também tinham câmeras no jardim, e que usariam isso contra mim de propósito. Para sempre.

Okay, sorte sua que antes da Narcóticos tentei entrar para CIA e para o FBI, e tenho base de mensagens criptografadas. Agradeça-me com um bom pote de típico brigadeiro brasileiro, obrigada.

Revirei os olhos voltando ao sofá.

— Conseguiu?

— Quase. Você deveria comer algo. E pelo jeito não dormiu.  Onde consegue tanta energia?

— Curiosidade, eu acho.

— Oh, está aqui! — Ela se animou ao ver que as imagens começaram a se reproduzir no média player do notebook.

Lá estava eu, sentado no sofá com aquele terninho justo de festa. Jamia foi ao banheiro, e logo eu tirei os sapatos e deitei. Fechei os olhos, com o braço apoiando a cabeça.

Passaram-se alguns minutos, e eu continuei daquela mesma maneira.

— Acelere a imagem. — Pedi.

A verdade era que eu sou péssimo com coisas tecnológicas. Eu costumava brincar que, eu sou um agente de toque. Tenho que estar lá presente, tocar, cheirar e sentir, para tirar minhas conclusões.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora