Amores e camas de hospitais[Frank Iero]

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Talvez eu tenha exagerado um pouco.
Correr atrás de uma moto, como se eu realmente fosse capaz de alcançá-la, fora uma nítida demonstração de idiotice, com direito à um público muito intelectual e seleto.

Por sorte, a mulher de óculos estilosos era asmática, do contrário, eu estaria numa maca de necrotério agora.

Ok, vou ter que usar do meu aprimorado e deprimido senso de humor aqui. E não, se você acha que está tudo bem apenas pelo fato de eu estar falando toda essa baboseira, está completamente enganada.

Eu posso ter escapado de não morrer de asma, porém, ninguém me dizia o que diabos havia acontecido com o meu quadril. Óbvio, doía. Mas me imobilizaram e me enfiaram dentro de uma ambulância barulhenta e depois me deram morfina e eu fiquei completamente chapado.

O que em partes era interessante.

Gerard estava ali, ao meu lado como sempre. Claro que eu amava esse fato. Gostava de vê-lo ali, me olhando preocupado e respeitando meu espaço – o de não nos tocarmos intimamente demais quando alguém está por perto ( no caso os dois socorristas), toda sua carapuça de homem diferenciado e elegante sumia quando alguma coisa acontecia comigo.

Eu deveria me jogar no chão mais vezes.

Na verdade, sobre a regra de pouco contato em público, Gerard oscilava entre calar a boca e me olhar como se fosse matar, ou sair de casa e fechar a porta bem na minha cara enquanto eu tentava explicar que não me sentia confortável com isso.  Ele não era de explodir ou gritar comigo – ok que de vez em quando ele falava um tanto mais alto. Mas não era como se ele tivesse tendência à escândalo e drama. Era elegante demais para isso. Já eu, como ele próprio me chamava de “little boy” sou mais propício à explosões. Basta só uma fagulha para que meu pavio curto vire cinzas e BOOM!

E realmente é um porre essa merda toda.

Sabia que a cada dia que passava, a cada situação em que estávamos juntos em público, era uma nova facada que eu dava no seu peito. Isso me doía. Mas é como se fosse uma trava de segurança que me impede. As janelas Killers da minha mente se abrem e eu penso nas pessoas nos olhando; dos crimes de ódio; da rejeição...

Eu apenas não quero que aconteça nada conosco. Pelo menos dentro daquele momento em que vivíamos.

Poderia eu considerar o grande e óbvio fato de que estávamos na Itália e basicamente ninguém nos conhecia, apesar de ele ser influente no mundo da arte, com um quadro de sete milhões rolando por aí com seu nome assinado. Eu poderia relevar e agir com mais amor com ele.

Mas não dá. Eu não consigo. E isso não significa que eu não gosto ou sinto atração por ele. Eu reconheço que é um defeito meu.

E tudo bem se você acha que eu estou sendo um completo imbecil em relação à demonstrações públicas, mas não é como se eu morresse de amores por me exibir. Era apenas um bloqueio, que mais cedo ou mais tarde seria um empecilho muito mais sério entre mim e ele. Tinha consciência disso. Mas empurrava tudo com a barriga.

Porque além de ter um aprimorado senso de humor e uma coleção extensa de tragédias, eu também era um exímio procrastinador.

E apenas continuei olhando para o teto do hospital. Usava uma camisola ridícula e vulgarmente comprometedora, com sua abertura na parte de trás e um lacinho bem no meio das minhas costas. Fico imaginando a enfermeira tendo que me vestir, vendo o estado deplorável do meu corpo  e minha feiura.

Só Gerard mesmo para me querer.

Até porque eu odiava tudo em mim.

E eu ainda me perguntava o que diabos ele viu em mim para me amar tanto, porque quando eu olhava no espelho a única coisa que vinha na minha mente, era que eu era um indivíduo que não deveria ter nada que refletisse sua própria imagem dentro de casa.

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