Roubos e Festas

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PARTE II - TOCCARE: UM FURTO NO MUSEU

Não me mostre o paraíso, e depois o destrua.
-Harlan Coben, Não Conte a Ninguém.

-Me diga o que quer, que eu farei. – Ele disse, passando as mãos nos cabelos do outro. Sentiu um pouco da oleosidade daqueles fios, e o aroma que deles emanava. Sentiu seu corpo enrijecer novamente, fazendo com que se mexesse um pouco debaixo dos lençóis.

-Eu não quero nada. Já tenho tudo o que quero. – Falou olhando para o teto, e depois tragou o cigarro entre os dedos, com um olhar comprimido e reflexivo.

-Parece que você está querendo algo. – Gerard disse por fim, tomando o cigarro de sua boca.

Frank sorriu. Estava meio bêbedo e não eram nem oito horas da manhã – Segundo o relógio com o fuso horário da Itália. Este, olhou para aquele que estava ao seu lado, que tentava cobrir o corpo pálido com aquele lençol de seda encarnado.

-Como eu te disse, já tenho tudo o que quero. – Com isso, Frank se inclinou para beijá-lo com desejo, depois fazendo seu corpo avançar para sobre o de Gerard, num farfalhar de corpos e têmporas ruborizadas pelo desespero daquele beijo.

O problema de Way era este: achar que Iero sempre estava insatisfeito. Ele andava constantemente preocupado, o medo o dominando vinte e quatro horas por dia. Fez até um manuscrito sobre isso:

“Eu, subterfúgio da insalubridade;
Filho da tristeza emudecida pela culpa;
Busco agora recordar, na ternura da luxuria os tempos gloriosos de alguém sem sepultura.
Eu, subterfúgio e subalterno;
Bucólico e indeciso,
Busco na cama a redenção das minhas mãos sujas de sangue e lixo”

Após escrever isso numa madrugada chuvosa enquanto seu adorado Frank dormia tranquilamente em sua cama, fechou o livreto no cadeado e passou dias sem reler seu texto. Como que com certo temor do que toda aquela metáfora significava.

Havia em Gerard a certeza de que o dia em que Iero descobrisse tudo, chegaria. Toda vez que pensava nisto seu sangue congelava. Se arrependia do que fez desde o início com ele, e lutava para se arrepender das mulheres que matou. Mas neste último caso não estava tendo muito êxito.

Já Frank seguia indiferente como sempre. Claro que quando estava em sua intimidade tratava Way como O Tal, mas em público as coisas eram diferentes. Era essa a grande questão do momento entre os dois. Na lógica de Iero, demonstrações públicas não eram necessárias.

-...Hmm. – Gemeu Frank entre os beijos. – Precisamos nos vestir, o casamento começa em duas horas e temos que sair  daqui a pouco. – Ele falou se afastando e sentando sobre o corpo de Way. Olhou de relance para seu blazer exposto sobre a poltrona e saiu de cima dele, pulando para fora da cama.

Com muito esforço, Gerard se levantou e fitou a janela. Não se preocupou com a sua nudez, a mansão que tinha alugado era no meio do nada. Tinha algumas outras construções imponentes dos lados, mas cada um era na sua e ninguém tomava conta da vida uns dos outros. Frank deu a volta na cama se aproximou e beijou seu ombro:

-No que está pensando? – Perguntou olhando para o maxilar dele.

-Em como Alex e Jamia são sortudos por ser homem e mulher. Por poderem sair de mãos dadas livremente, se beijar livremente, se casarem sem muitos esforços ou sacrifícios... – Suspirou derrotado. – Queria que fôssemos considerados normais, para que pudéssemos fazer coisas normais.

Frank ficou calado. Encostou sua cabeça em seu dorso, ao que meditava sobre aquelas palavras. E ele concordava com elas. Se fossem homem e mulher tudo seria mais fácil. Não falou nada porque justamente sabia que estava sendo hipócrita. Muita gente – seus conhecidos, achava que ele ainda era o homem enlutado pela morte da namorada. Apenas três pessoas sabiam que ele tinha um caso com Gerard.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora