Labor

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Nevava muito do lado de fora. Talvez a maior nevasca em quatro anos, o que era de se surpreender, já que há pouco tempo eu estava derretendo de tanto sentir calor. As ruas estavam sendo limpas por um caminhão de médio porte, com uma pá gigante enferrujada com pintura amarela descascada.

Eu era um pontinho marrom no meio daquele mar gelado de neve. A gola do meu sobretudo estava alta, e eu encolhia o corpo para que meu rosto fosse protegido pelo tal.

Como era impossível usar meu carro naquelas condições climáticas, então eu teria que ir andando mesmo.

Notar os detalhes do lado de fora daquele prédio das ilusões, não significava que estava tudo bem. Eu sabia que tinha uma nebulosidade no meu olhar, a mesma nebulosidade na qual eu esbocei quando nadei até à margem do lago e fiquei sentado o admirando e me arrependo. A raiva, já não era apenas fundamentada na atitude invasiva e demoníaca de Gerard, mas também em algo muito mais profundo, que se arrastou durante anos.

A verdade era que, eu era muito bom em ignorar. Enfrentar e dar meu rosto para baterem seria muito mais difícil. Estava empurrando todos os meus problemas com a barriga, e nunca aprendia que tal era tão prejudicial quanto o álcool que eu estava buscando.

Mas eu estava preso num ciclo vicioso.

Eu teria que levantar e falar para o meu eu: só por hoje eu não vou ignorar. E todos os dias, do resto da minha vida, quando eu acordasse falaria aquilo, para tentar tornar as coisas mais saudáveis.

Mas se tratando de pais, e traumas causados por eles, tudo se complicava ainda mais. Não era perdoar. Eu, Frank Iero não perdoo. Era uma questão de parar de remoer e aceitar que eu fui tratado como um qualquer nas mãos deles. A carência da minha infância, tornou-se indiferença na minha maturidade. E indiferença não é indiferença, se não for acompanhada de raiva e quem sabe até mágoa.

E não, comigo não tem essa de "a vida que segue!" quando alguma coisa me derruba. Eu era o negativismo em pessoa.

Eu era um antagonista dentro da minha própria mente. Esta, atribulada e desconcertada, era dominada pelo mais puro e autêntico sofrimento. A grande diferença do meu sofrimento, das outras pessoas, era que ele estava ali, eu o sentia diariamente, mas ele era suprimido num lugar específico da minha cabeça.

Eu parei em frente ao Pub, ponderando se deveria ou não seguir em diante. Eram quase nove horas da manhã, e eu não tinha feito desjejum. Mas eu estava com raiva, e acabaria pisando no meu fígado de qualquer maneira.

Ele era tão bonito de fora. Todo em madeira, com uma logo clássica e uma frase para marketing bem convincente: um pedaço da Inglaterra, com um toque americano. Tinham umas armadilhas de pegar mosquitos dependuradas na estrutura perto da porta, estava escuro, mas eu não entendia o por quê de estarem ligadas se era inverno.

Fui em passos firmes e decididos. Abri a porta. As cadeiras estavam viradas sobre a mesa, e um homem de média estatura e barba ruiva me olhou surpreendido, segurando seu esfregão.

-...Ah...-Tirou um pano limpo que estava no grande bolso de seu avental, limpou as mãos e andou em minha direção. Apertou minha mão. -Bem vindo...-Ele falou meio confuso.

-Eu não sei se estão abertos... Passei aqui em frente por esses dias...-Apontei para trás com meu polegar - Achei o lugar bonito...

-Ham, tudo bem... O que quer, uma cerveja, um chá?

-Chá?-Questionei, já que lá era um Pub. Mas era um Pub Inglês...-Ah... "Um pedaço da Inglaterra..."-Sorri, lembrando do lema do estabelecimento.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora