Beijos e sabonetes

104 19 26
                                    

Gerard viu o inferno passar por seus olhos. A brisa ácida que lhe ocorreu depois de cruzar os olhos com Carmen... O fez... Sentir aquele impulso assassino que sempre sentia quando alguém ousava triscar em Frank. Ele poderia surtar, e ser novamente internado por não saber controlar seus sentimentos.

Isso já fazia muito tempo. Mas nunca esqueceu. Era como... O fogo do incêndio do circo queimando flamejante, as labaredas que pareciam tocar o céu.

Carmen, com seus olhos castanhos e misteriosos notou a situação desconfortável. O dono do lugar veio ao encontro dos três, perguntando em italiano o que havia acontecido, e essa fora a deixa para ela desconversar sua fala anterior, com um “nós pagaremos por isso”.

-Bem... – Falou tirando algumas cédulas, enquanto o dono do lugar se enraizou perto da mesa, com as mãos na cintura e uma feição nada satisfeita. – Acho melhor eu ir. – Afastou a cadeira e se levantou.

Isso. Foge vadia. Se não, você terá primeiramente vinho e depois rosas e um caixão para se debruçar e enterrar”

Ela, depois de deixar o dinheiro na mesa e o dono do estabelecimento pegá-lo fugazmente, partiu rumo à parada de táxis. Way a acompanhou com o olhar, até que a viu entrar em um automóvel e ir embora.

-Gerard. – Frank o chamou, ainda com os ombros tensos e sua barriga nervosa como um iceberg. – Gerard. – Repetiu, vendo que os olhos dele não desgrudavam do automóvel. Até que virou a esquina.

-Diga inferno! – Se voltou para Frank, que simplesmente não aguentou aquele tom raivoso e violento.

Pegou sua bengala, ergueu o corpo e saiu daquela mesa o mais rápido que pôde. Seria idiota e muita submissão ficar atrelado às suas vistas, como um cão obediente e insensível.

Ciúmes?! Que ridículo

Atravessou a rua desajeitado por conta de seu quadril e adentrou a delegacia em direção ao banheiro dos servidores que ficava no segundo andar. Quando pegou o elevador, encostou sua testa na parede fria de metal, tentando não se abalar com aquilo.

“O problema é que qualquer mínimo detalhe ou palavra rude que seja, é devastador.”

Talvez estivesse estressado. Talvez, sua perna e seu quadril invalidados estivessem colocando sua capacidade como ser humano em questão.

“Eu não posso salvar à mim mesmo nesse estado”

Tudo era uma merda e cogitou que as coisas só iriam piorar, já que não aguentava sequer um momento de raiva de Gerard.

A porta se abrira, e ele logo avistou a porta do banheiro. Adentrou-o e ligou a torneira, largando a bengala, encostando na pia.  Molhou seu rosto, sentindo a fadiga e a preocupação o tomar por inteiro.

Céus, vamos brigar pela mesma coisa de novo”

Dito e feito.

Gerard abriu a porta e a fechou com força. Como sempre, seu rosto estava sem expressão. Apenas... Aquela escuridão e mistério de sempre que a cercava de maneira nada positiva.

-Não diga que a culpa é minha. Você sabe que não é. – Ele disse. Frank pôde ver através do espelho ele gesticulando e apontando o dedo em sua direção. Não ousaria olhá-lo. Na verdade, cogitava uma válvula de escape para não ter que protagonizar mais um discussão.

-Eu não disse absolutamente nada. – Falou, secando as mãos com um dos papéis toalhas amontoados ao lado da pia.

-Mas pensou. – Enfiou as mãos nos bolsos. Gerard se sentiu impaciente.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora