Prisão a minha liberdade

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Abri os olhos.

O cheiro da loucura permanecia empregada na minha pele, como aquelas tatuagens falsas que vinham dentro da embalagem de chiclete.

Uma dor no peito. Uma dor cansada, e na tentativa de falar um palavrão, meu peito chiou e uma vontade terrível de tossir me tomou. Então o fiz. Senti alguém se mexer ao meu lado.

Era ele.

Perguntou por mim. Não quis olhar seus olhos. Eu iria cair de novo. Estava cansado de ser um idiota.

-Você está bem? -Ele insistiu na sua pergunta. Seu tom parecia preocupado. Para mim era pura encenação.

Ignorei- o. Tentei levantar, mas não pude. Meu corpo todo parecia doer e uma vontade estranha de chorar me tomou, mas me contive. Não queria demonstrar fraqueza na sua frente.

Desisti de levantar. Passei as mãos furiosamente nas têmporas, para me livrar daquela fraqueza e lentidão atípica que me envolvia naquele instante.

-Fale alguma coisa... -Tocou meu ombro. Virei um pouco e olhei irritado para sua mão pousada ali.

Ele a tirou.

-Me leve para casa.-Tornei a fitar o nada no chão.

-Você está se sentindo bem, precisa de alguma coisa?

-Sim. Estou bem. Também preciso que cale a boca e me leve para casa, entendeu?

Eu, mais uma vez, estava furioso com ele. Tudo bem, os seu métodos estavam funcionando. Eu me sentia menos traumatizado em relação à Kendall. Mas naquele instante eu estava com medo de chegar perto dele em qualquer lugar com água. Mas eu nunca conseguia ficar com raiva por muito tempo. Ele sempre tinha o hábito de ultrapassar os limites. E o que eu fiz, queridos?

Voltei.

Porque sou um otário.

Nosso caminho de volta para casa fora silencioso e cheio de mágoa. No meio do caminho, sentia-me melhor física e psicologicamente. Ele pegou um suposto atalho, e eu fiquei logo em alerta vermelho.

Parou e eu notei que na verdade, não era um atalho.

Era só um precipício.

um precipício.

Acelerou um pouco e parou consideravelmente próximo a borda daquela coisa que parecia não ter fim.

Arregalei os olhos, em pânico. Quando fiz menção de abrir a porta do carro, ele me segurou firme pelo braço.

-Você vai ficar.-Falou como se fosse me devorar ali mesmo.

Voltei lento e à contragosto. Minhas pernas bambearam e bufei.

-O que quer, nos matar?!-Irritado, girei a manivela que abria a janela.

-Não exatamente. Você tem apenas duas opções Frank. A primeira é: você me perdoa, eu dou ré e voltamos para casa felizes para sempre. Eu sou a abóbora e você a Cinderela. Mas sem deixar sapatinho de cristal no meio do caminho...-Usou o seu melhor sarcasmo. -A segunda é: você permanece com raiva de mim, me bate, depois nos beijamos apaixonadamente, acelero e nos jogo no precipício. Qual você escolhe?

Eu não entendia como uma pessoa conseguia ser tão irritante. Tinha vontade de socar sua cara até ela se desfigurar, pegar os cigarros que ele fumava e queimar de pouco em pouco aquela sua cara pálida, depois, tiraria sua roupa, roubaria seu carro e sairia dali o deixando nu no meio da estrada.

-Dê a ré e vamos voltar para casa. Não me irrite mais do que eu já estou irritado com você, Gerard.- Fitei ele sincero.

Ele respirou fundo e entediado. Tirou as mãos do volante, e acelerou e parou e assim repetiu, fazendo o carro brecar e a poeira levantar. Eu me agarrava na alça de apoio um pouco acima da janela, arregalando os olhos, sentido novamente aquele pavor.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora