Inesperado!

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Eu sofria com uma leve palpitação naquele momento. Prendia e soltava os dedos, olhava e não olhava. Buscava respostas nos rostos dos meu dois amigos, mas até eles estavam em pânico. Não sabíamos o que fazer.

Como eles conseguiram aquele endereço, e porque eles vieram da Georgia, até Jérsei?

-Por que não nos disse que se casou? -Minha mãe falou, entrando sem ser convidada.

Fiquei abismado com sua atitude.

Meu pai analisou o local. Olhava para os lutres luxuosos no teto, os móveis, as cortinas... Depois olhou para mim desconfiado. Olhou para Jamia e para Alex, que estavam lado a lado. Pelo o que conheço ele, estava infinitamente desconfiado de mim.

-Ah você deve ser a esposa de Frank...-Minha mãe estendeu as duas mãos em direção à ela.

Coitada, não sabia o que fazer. Apenas foi na onda da situação.

-Me conte, como se conheceram...?- Minha mãe arrastou Jamia apartamento adentro.

-Como comprou isso aqui...?- Ele andou un pouco, robusto e cheio de razão. Estava com as mãos na cintura, e se virou para mim. - Você não tem dinheiro para isso...

-Pai...

-Seu tio é corretor, Frank. Eu tenho noção do quanto isso aqui vale...

-Vocês não deveriam estar aqui...-Falei comigo mesmo.

Era horrível tê- los ali. Primeiro que poderia, pela centésima vez, colocar tudo por água abaixo e segundo porque eu sempre me sentia desconfortável perto deles. Minha mãe sempre fingiu cuidado na frente dos outros, enquanto dentro de casa eu era apenas mais um "inquilino". Servia apenas para compor a fachada de família estruturada e feliz. Meu pai, como a maioria que se torna um chefe de família acidentalmente em uma noite de muito álcool, sempre descontava as frustrações de sua vida, em mim. Críticas, sugestões sufocantes e invasão de privacidade eram suas atividades prediletas.

Todos em Georgia admiravam a capacidade que eles tiveram de criar os filhos. Mal sabiam todos que, éramos disfuncionais até o último fio de cabelo. Fingíamos até mesmo dentro do nosso próprio seio familiar. E eu claro, era o menino estranhamente e paradoxalmente inteligente e violento.

Os irmãos do meu pai me chamavam de "granada, pequeno porém mortal". Não que eu tenha matado alguém, mas nunca fui uma pessoa de muita paciência. E quando eles diziam isso, eu apenas retrucava "eu apenas me defendo", mas nunca surtiu nenhum efeito em especial.

Eu sempre fui o melhor de seus filhos. Mas nunca fui o suficiente.

Os pais sempre querem mais. Às vezes querem que as vidas dos filhos, sejam aquelas nas quais eles nunca conseguiram viver e construir.

E isso se dá pela romantização de tudo. Do casamento, dos filhos, da educação. E construir uma vida baseada num romance, acaba que por ser uma vida para os outros, um rótulo onde não há nenhum erro de impressão.

E não sei minha mãe, mas meu pai me odiava por eu não ter romantizado minha vida, e com isso, ele não acreditava e nunca acreditaria no meu sucesso. Por isso tanta reprovação e desconfiança no que eu supostamente havia "conquistado".

E eles se mastigavam e vomitavam o que tinham: um filho policial, de classe média, com trinta e poucos anos, solteiro e frustrado.

-Por que não deveríamos estar aqui?-Ele perguntou, cruzando os braços.

Eu passei a mão na cabeça em desespero. Alex assistia tudo, sentindo muita tensão, e assim como eu, estava muito nervoso. Não poderia contar ao meu pai que estávamos disfarçados, que o FBI estava nos olhando do outro lado da rua, e que tínhamos um assassino em potencial como vizinho. Não sei como as coisas estavam indo entre Jamia e minha mãe lá dentro, e isso me deixava mais agoniado.

-Não é nada de mais... Só não deveriam estar aqui...- Cometi o erro de me virar para ele.

-Está de pijama e uma arma na pala da sua calça. Está esperando algo de ruim acontecer, não é?-Ele praticamente afirmou, com aquela voz forte e ameaçadora.

Parecia que eu tinha seis anos de idade e ele estava me dando uma bronca por uma bobagem qualquer. Era horrível sentir tudo de ruim da infância de novo. O medo sem fundamentos... O medo de decepcionar, mesmo sabendo que eu nunca seria o suficiente para nenhum dos dois. Era uma exigência interna e imensamente íntima. Quase um trauma de infância.

Eu não queria falar a verdade para decepcionar eles, pois se eu os decepcionar, ou os chatear, eu escutaria o que por toda a minha vida eu fizera por onde para não ser chamado: inútil.

E seria como arrancar a casca de uma ferida que nunca cicatrizou completamente e colocar sal depois.

-Pai... Eu...

-Você está envolvido com o tráfico de drogas, Frank?!-Ele falou exaltado e um pouco mais alto.

Alex pediu para que ele falasse mais baixo, senão os vizinhos escutariam toda aquela situação embaraçosa.

Ele ficou ainda mais vermelho, olhando para Alex como se fosse matar ele à qualquer momento.

Meu pai sempre domesticou uma fúria que estava sempre à postos para dar o ar da graça. Ele passava de um homem aposentado, para um lenhador com problemas de raiva de um segundo para o outro. As pessoas geralmente se irritam pouco à pouco, até que explodem. Ele não. Bastava uma palavra, e sua Little Boy* interior explodia.

E geralmente sempre se achava certo, e não deixava que ninguém se explicasse.

Talvez todo o meu medo dele seja por causa da gritaria que ele promovia quando se irritava comigo, com meus irmãos ou com coisas banais, que pessoas normais não ficariam sequer chateadas.

-E você ein, quem é?!-Pergundo, indo para cima de Alex lentamente.

Alex foi dando passos para trás. O medo percorria seu testa em forma de suor, e a calefação nem estava tão quente para tal.

-Sou Alex, o amigo do seu filho...

-Amigo mesmo?

-Sim...-Ele afirmou, meio hesitante e meio ofendido.

-Ele é meu amigo desde o colegial pai...-Falei, tentando controlar minha raiva.

Além de um brutamontes, ele era uma pessoa de péssima memória fotográfica. Não sei se era por causa da idade, mas ele esquecia os rostos até dos próprios amigos. É impressionante como ele não esquecera meu rosto depois de tanto tempo à distancia.

-Eu tenho quase certeza que esse apartamento não é seu. É seu, não é?! Frank nunca iria comprar uma coisa dessas...-Apontou com as mãos toda a extensão da sala. - Ele é muito pouco ambicioso...!

Fechei os olhos, tentando não dar nenhuma coronhada nele.

-Não, o apartamento não é meu. Está no nome dele e de Jamia...-Alex falou, sem olhar para o meu pai.

-Aliás...-Ele se voltou para mim.- Quem é essa Jamia?

-Ela é a minha esposa...-Falei desconfortável, e mostrei o anel no dedo da mão esquerda.

-Conta outra...- Ele passou as mãos nas têmporas.-Você nem encosta em mulheres. Não nos fala de namoradas há anos. Sabia que sua mãe chora, por achar que você é uma bicha?!

Alex tentou disfarçar, mas queria rir.

-Olha pai, eu não preciso falar todos os passos que dou. E eu não sou uma bicha, sou muito bem casado com ela e ponto final.

-E ele faz o que aqui, então?! -Apontou para Alex, que arregalou os olhos para mim, enquanto enxugava o suor da dua testa.

-Está passando uns tempos com a gente. Enquanto... Procura um apartamento aqui perto.

Finalmente minha mãe e Jamia voltaram da parte mais interna do apartamento. Minha mãe sorria, e Jamia estava mais pálida que o normal.

-Adorei conhecer Jamia... Querido, você está mais magro... Sua pele está seca... Voltou a fumar, não foi? Você nunca viu a parte de trás das embalagens de cigarro. O mal que eles fazem são...

-Mãe, pai...-Interrompi ela, que fez uma cara de cadela magoada. - Como vocês chegaram até aqui, como conseguiram me achar?

-Oras, foi o seu amigo... Ham... George... Ah, Gerard Way!

Ah não...!

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora