Noir

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O mundo parecia girar rapidamente ao meu redor, e apenas eu ficava para trás. Não conseguia seguir o seu ritmo, e aquilo me deixava cada vez mais frustrado. A sensação de dormência na ponta dos dedos, parecia histamina dilatando minhas veias dentro da minha carne.

A raiva lateja, e como lateja...!

Meus pais me olhavam sem entender. Como que, eu estivesse envolto de um grande mistério. E eles sabiam que eu não iria compartilhar o meu segredo com eles, afinal, não era do nosso feitio sermos confidentes. Mas mesmo assim, eles insistiam em saber quem era Gerard Way.

E quem ele era? Eu percebera ali, que nem eu mesmo, que vivia grudado no seu encalço e vive e versa, sabia.

Ele continuava sendo um mistério escuro e maquiavélico. Acho até que ele estava se entupindo de álcool e charutos, para comemorar o seu novo e bem sucedido feito.

Alex olhava para o chão em negação, reprovando no seu íntimo toda aquele deslize. Acho que ele estava decepcionado comigo, e sufocado por não poder agir da maneira que desejava com Jamia. Isso doía em mim também. E ele não sabia o quanto...! Eu devia muito à ele, e o deixar chateado, era como estar fazendo mais uma dívida.

Jamia me olhava, sabendo exatamente o que passava dentro de mim, sem me julgar por minhas externas e superficiais atitudes. Ela sabia da angústia, da raiva e da hesitação. Ela sabia que eu queria me livrar dos meus pais, conversar com Alex e comer pizza gelada depois. E a única coisa que ela podia e se permitia sentir era compaixão e pena. E eu odiava o fato de alguém sentir isso por mim. Jamia tinha uma vasta noção do quanto as as emoções são embaralhadas e cheias de nós dentro de mim, como um ninho confuso e indeciso.

Mas a verdade, era que eu não suportava decepcionar ninguém. Acho que era por tal fato, que eu nunca errava no meu trabalho, sempre tive palpites que se mostraram certos e eficazes. Mas eu estava fazendo com aquelas pessoas ao meu redor o que eu não suportava: decepcionar. Estava decepcionando meus pais, que estavam desconfiados de todo aquele luxo - e no fundo, bem no fundo, eles queriam que eu estivesse envolvido em algo ruim, sim. Mas eu não falava exatamente como fora parar num edifício em que a taxa de condomínio é mil dólares por mês. Estava decepcionando Alex, por não saber gerir e limitar Gerard e estabelecer quem era o líder naquela relação estranha, e permanecia na inércia. E por fim, estava decepcionando Jamia, que sempre se mostrou tão doce e fiel à verdade, e que estava na minha frente, torcendo que eu falasse a verdade para os meus pais e os tirasse dali, para nossa e para a segurança deles, o mais rápido possível. Ela suplicava com o seu olhar.

-Gerard Way é perigoso. - Quebrei o gelo, e tirei a arma da pala da minha calça de moletom, e coloquei sobre a mesa de centro.

Meus pais franziam o cenho simultaneamente. Minha mãe segurou um pouco mais forte a alça de sua bolsa.

-Ham, querem um chá?- Jamia perguntou, vendo que o silêncio permanecia.

-Adoraríamos. - Minha mãe respondeu, arrastando meu pai pelo braço até o sofá.

-Vou trocar de roupa...- Alex falou, e logo após, pegou o caminho do corredor que levava aos quartos.

Aproveitei a deixa e fui atrás dele.

Andamos, e ele me puxou pelo braço até o seu quarto. Fechou a porta e pegou sua arma na gaveta do criado mudo. E depois se voltou para mim.

-Está vendo o que acabou de acontecer?-Ele falava com raiva, porém não falava alto. Jogou a arma sobre a poltrona que ficava ao lado do criado mudo.

-Eu sei...!-Bati as mãos na minha cabeça.

-Ele fez com que os seus pais saíssem da Georgia até aqui! Daqui à pouco será o que, os restos mortais da Kendall na nossa porta?!

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora