Chuva

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Fiquei entalado na janela.

Depois de todo meu esforço para atravessar a propriedade sem ser notado, o meu recente ganho de peso se mostrou o ganhador da batalha.

Estava pensando se valia à pena perturbar o sono de Jamia. Mas eu tinha que dar um jeito de deslizar para dentro, uma vez que a minha bolsa já estava desmantelada no piso laminado do irmão mais novo.

Além disso, ela não fazia a menor ideia que eu havia pegado um caso. E se dependesse de mim, continuaria sem saber. Exceto se eu fosse descoberto incrivelmente morto.

Bom. A casa não era exatamente dele. Era uma casa da família. O que é estranho, porque, a maioria dos executivos jovens e cheios de testosterona vivem, geralmente, em apartamentos caros e cujo designer de interiores parece sofrer de algum grau de transtorno personalidade antissocial.

A decoração era erudita. Estátuas e tapetes, móveis da era vitoriana, com arabescos e frufrus provavelmente esculpidos à mão. Aquelas coisas pareciam antigas. Mas eu tinha que contar com a possibilidade de que ele gostasse de antiguidades, e essas coisas custam caro, e talvez fosse assim que ele estivesse lavando o dinheiro que estava desviando da empresa.

A arte do contorcionismo não me cai bem. Tento e tento, lamentando que eu deveria ter comido salada Casear ao invés de feijão e bacon no café da manhã. E cerveja. Muita cerveja nos pubs de Londres, rodeado por sujeitos falando em cockney, lamentando o novo rei. Sinto falta disso agora, estando miserável e enquadrado na moldura branca da janela.

Se ao menos…

Sinto duas mãos na minha canela, e uma onda de adrenalina percorre meu corpo. Minha pistola está na bolsa bem na minha frente, sem que eu possa alcançá-la. Por que eu não fiquei em casa?

— Sabia que isso daria errado no momento que pulou o muro. — Ouço a voz anasalada atrás de mim.

Ah, não.

— Que porra pensa que está fazendo aqui, Gerard? Vai embora. — Tento escorregar para trás, mas o agarre dele é firme.

— Não antes de descobrir porque está invadindo uma mansão. É algum tipo de modalidade nova de avaliação nas corretoras?

Antes que pudesse responder, o desgraçado me empurra com tudo para frente, e eu mergulho no piso como um saco de merda, sentindo mais do que o necessário todas as juntas velhas do meu corpo.

Tento me recompor, enquanto ele surge, enquadrado pela janela, com um sorriso sardônico e seu aspecto perfeito. Um terno preto, os cabelos em ondas ao redor do rosto pálido e o conjunto todo da obra, alto e poderoso e inevitavelmente sombrio.

— O que estou fazendo não é da sua conta. Agora pode ir.

— Hã — Ele ajusta graciosamente o blazer e passa uma perna elegantemente pela janela, seu sapato preto lustroso cintilando com o pequeno feixe de luz lunar entrando pela outra janela. — Não.

Ele está completamente na sala, bem na minha frente, enquanto ainda estou de joelhos, com toda essa decoração, iluminação pobre e o zíper dourado da sua calça social praticamente na minha testa. É como um filme pornô italiano antigo, mas sem o final feliz.

— Pode parecer super normal para você andar por aí perseguindo as pessoas — Me ergui agarrando minha bolsa e minha dignidade. — Mas existem leis muito rígidas sobre stalking. E considerando que não é réu primário…

Andou pomposamente até uma réplica de alguns centímetros em madeira de um cavalo, pousado majestosamente na cornija pálida da lareira, analisando-a com seu olho de artista, ignorando completamente a gravidade da situação.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora