A proposta

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Colocaram a vítima em um gavetão no caminhão. Tão branca quanto porcelana chinesa, ela estava por debaixo do lençol de alumínio em que a colocaram.

A Perícia continuava a se esgueirar dentro do edifício, fazendo fotografias e todo aquele ato padrão que costumam seguir.

O assassino ou a assassina fora bem ardiloso. Fez com que só as pegadas da vítima aparecessem, me deixando enfurecido, pois não havia absolutamente nada. Nada.

Ele ou ela eram como fantasmas.

Watson se aproximou com Jamia, como se dependessem do meu cérebro para tudo. Mas no mundo policial é assim: uns sempre se aproveitam da inteligência do outro, para se vangloriarem depois.

— Então, o que achou desta vez? — Ele falou, tocando meu ombro por trás.

— Ele sabe que estamos atrás dele.

Departamento de polícia de New Jersey.

Infelizmente, eu não fazia parte do protocolo de depoimentos. Apenas recebia a papelada do escrivão da sala do Watson depois que tudo era terminado.

Jamia dormira no meu sofá, o que particularmente me irritou.

Eu era um tanto egoísta.

Mas a coitada não dormia há dois dias e eu não era um ser humano tão ruim assim. Não mesmo.

Não havia conseguido fechar os olhos, pensando. Pensando em tudo e inquieto. Eu queria escutar os depoimentos dos moradores. Mas não podia.

Jamia se revirou no sofá, abrindo os olhos.

— Que horas são? — Ela perguntou coçando os olhos.

— Quase sete da manhã.

— Nenhuma notícia nova sobre o caso?

— Os moradores do prédio ainda estão depondo para Watson.

— Você não comeu nada desde ontem... — Ela falou como se preocupasse comigo.

— Não tenho fome.

— Ah, vamos à cafeteria aqui do lado.

— Não quero ir. — Fui sincero. — Pegue — Tirei minha carteira do bolso e tirei a fotografia que estava em um dos bolsos para que ela não visse. — Me compre um macchiato e um sanduíche de peito de peru. Se for para você parar de me encher.

Ela sorriu, colocando minha carteira em mãos e logo saindo da sala.

Encostei-me na cadeira, olhando o retrato.

O retrato dela.

A água em abundância, as mãos... A respiração... Os olhos dela...

Mas eu logo enfiei a foto, com cuidado, numa das gavetas. Pois eu tinha que esquecer aquilo. Mas eu tinha que guardá-la, dentro de mim, independente de tudo.

Respirei fundo e amaciei minhas têmporas.

Ali vi o quanto eu estava cansado.

Depois de alguns minutos, Jamia apareceu com meu pedido e o dela.

— Olhe, comprei dois sanduíches, por que você parece um anêmico.

Eu me perguntava se ela era tão preocupada assim apenas comigo, ou com todos do departamento.

— Argh... Vou pegar um molho na cozinha... — Falei, levantando-me da mesa.

Nos fundos do nosso andar, havia uma cozinha. Como nosso trabalho era árduo, não tínhamos tempo para restaurantes ou para a cozinha de nossa própria casa, então, adaptaram o quartinho velho para uma cozinha, muito útil por sinal.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora