A segunda revelação

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23:58, Coreto.

Eu estava sentado naquele degraus, remoendo cada centímetro de vergonha que ainda insistia em assolar-me. Eu estava afetado com o Gerard e isso, consequentemente, era nocivo, prejudicial à minha mente. E eu precisava dela para o meu trabalho.

Familias contavam com o meu desempenho como policial para solucionar o caso e eu parecia estar empurrando tudo com a barriga.

Estava definitivamente pronto e de mente aberta, para escutar ele e para falar sobre aquilo.

Eu ainda estava nervoso, óbvio, mas nada que impedisse a minha fala e minha opinião.

Fazia um frio dilacerante no Jardim, que já era naturalmente fresco. A copa das árvores balançavam graciosas com as brisas que passavam alternadas e os grilhos pareciam animados naquela noite. Apenas eu não estava. Nunca estava animado.

Mas Gerard chegou no Jardim, trazendo uma ventania consigo. Meu coração disparou de susto e fiquei automaticamente tenso. Pupilas dilatadas, as quatro pupilas.
Eu sei, perfeitamente que esses efeitos colaterais-os temidos efeitos colaterais, não apenas atingiam à mim. Ele também sentia, tremia e salivava. Suava e se amedrontava.
Apesar de frio, ele ainda era humano. Ainda tinham substâncias químicas saindo de seu cérebro e se espalhando por todo seu corpo, como uma endemia.

-Boa noite...-Ele falou, esticando as mangas da camisa cinza surrada.

-Sente-se.-Imperei, sentindo uma síncope se aproximando.

Ele achou estranho e logo obedeceu.

-Qual a razão de tremer tanto?-Ele perguntou franzindo o cenho, parecendo estar amplamente perturbado com o meu tremor, o que era evidenciado por suas mãos agarrando a calça na altura do joelho.

-Precisamos conversar, sobre aquilo...-Eu falei sem consegui olhá-lo.

-Sobre o beijo?

Fiz que sim com a cabeça e finalmente o fitei.

-Sim, sobre o beijo.

-Achei que demoraria mais uma eternidade para me chamar para falar sobre isso. Você é todo inatingível...-Resmungou.

Eu permiti-me sorrir. Mas logo o motivo de eu estar ali tornou à minha memória e o gosto amargo na boca voltou.

-Você chamou à mim, na intenção de beijar naquela noite?

-Eu planejava o beijo há muito tempo. Moldava-o na minha mente, tal qual moldo um quadro, ou um poema.

Eu tinha que manter o controle da respiração, mas era difícil. Difícil de controlar e difícil de entender por que tantas reações acontecendo no meu corpo.

-Acho que fomos loge demais...-vomitei as palavras.

Ele olhou para mim, desentendido por algum tempo. Mas sua expressão mudou e ele sorriu convencido.

-Eu sei que você não quer parar...

Seu beijo veio de supetão. Um selo nos lábios, como se eu fosse uma carta para a Europa. Um selo suficiente para me deixar furioso.

-Você está louco?!-Sussurrei irritado.-Alguém poderia ter visto!

-Deduzi que gostaria de mais um...-Deu de ombros.

Respirei profundamente.

-Como estou vendo que você não irá parar com essas coisas...

-Coisas que no fundo gosta que eu faça...-Completou.

-Prefiro falar sobre seu irmão. Não se incomodou com o meio em que ele vive, como ele anda levando a vida?

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora