O assassino do vinho tinto

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"Depois de meses, o suposto assassino do vinho tinto voltou a matar. A polícia ainda investiga, e diz que tem suspeitos, porém, a investigação segue em sigilo para não prejudicar seu andamento. Em nota, a policia de Newark afirmou que novas provas serão encontradas com esses novos assassinatos. Reconheceram a lentidão de avanços, mas pediram paciência à sociedade pois sabem da importância do esclarecimento dos crimes. "

Em quatro semanas, quatro vítimas. Ambas com resultado de perícia inicial afirmando que era suicídio. Mas depois de chegar na mãos de outros peritos e outros médicos legistas, apenas pelo detalhe da taça de vinho, concluíram que foi assassinato.

Eu estava sentando no sofá e tirando a embalagem de um hambúrguer. Ao meu lado estava um caderninho, onde tudo que passava na televisão sobre esse assunto eu copiava.

Era lastimável tanto o meu estado, quanto os novos assassinatos. Uma vítima por semana, a sangue frio - eu não diria a sangue frio, mas as pessoas gostam. Estava me tornando neurótico, paranoico. Faziam dois dias que eu não tomava banho... Não me restara nada... Aliás, restaram mais quatro vítimas.

Eu já não era o melhor.

Eu já não era o mais requisitado.

Era apenas mais um frustrado, sem nada a perder.

E pensar que eu estive diante de tudo aquilo que poderia ser letal, que os medrosos sequer fariam menção de pensar em fazer. Perdi tudo aquilo por causa de um desconhecido, que sabia mais de mim do que eu mesmo. Pior que eu sabia que era ele quem matava. Mas parecia que ele não estava lá!

Desisti do hambúrguer. Joguei- o sobre a mesa de centro e levantei do sofá, desfiz a amarração do roupão e segui para o quarto de visitas que transformei em escritório. Não tinha porta, era todo desorganizado e fedia a bolor. Na parede tinha um quadro verde, uma mesa com papéis e muitas caixas com livros espalhadas no chão.

No quadro verde haviam fotos e vários alfinetes espetados, onde várias amarrações de linha de lã, conectavam-se. As fotos pertenciam tanto as vítimas, quanto aos suspeitos.

Observei aquilo por alguns instantes. Cruzei os braços e repassei tudo que sabia até ali sobre o caso, mesmo que eu estivesse fora. Mesmo que as pessoas não me respeitassem mais. Mesmo que doesse não ter meu distintivo no cinto da minha calça e nem uma arma. Mas eu era a essência de toda aquela porcaria suja e misteriosa.

Tendo isso em vista, respirei fundo. Peguei um piloto cor vermelha e coloquei o sinal de interrogação na imagem de Gerard à minha frente.

-Eu vou pegar você... Uma hora vai falhar...

Joguei o piloto no chão e sorri satisfeito.

Voltei para sala sem nenhum entusiasmo. Era chato e entediante estar ali, mas antes que eu pudesse sentar no sofá, alguém bateu à porta.

Vagaroso, caminhei até a porta e observei pelo olho mágico. Ponderei se deveria abrir ou não...

Se não fosse Jamia, eu não iria abrir aquela porta.

-Frank, o que aconteceu? Faz duas semanas que não atende os nossos telefonemas...!-Ela falou preocupada, referindo-se a ela e Alex.

-Estive ocupado...

Ela fez uma cara feia quando falei.

-Há quanto tempo não escova seus dentes?

-Ah... Acho que uns dois, três dias... Alguma coisa assim... Entre...-Fiz menção para que ela entrasse.

-Ah Frank...!-Ela exclamou com pesar.-Olha esse lugar... Está sujo...-Olhou para a mesa de centro.

Haviam vários pacotes de fast food e comida tailandesa de uma semana anterior àquela. Um cinzeiro entupido de bitucas de cigarro, garrafas vazias de uísque, o tapete manchado de alguma coisa amarela -que eu tenho certeza que ela pensou ser urina, mas não era. Um rolo de papel higiênico, um espelho de bolso, três caixas de cigarro vazia, todos eles no chão.

-Lar doce lar...-Falei pegando uma garrafa de vodka ao lado do sofá. Isso ela não tinha visto.

-Você está bebendo descontroladamente... Qual foi a última vez que você comeu vegetais?

-Faz muito tempo... Você sabe porque eu bebi metade dessa garrafa e não estou ficando bêbado? -Falei me jogando no sofá.

-Por que você está começando a se viciar de verdade... Vamos... Levante daí, vamos dar uma volta... Existe um monte de parques espalhados por Jérsei... Se quiser chamo Alex...

-Não!-Bradei.-Não vou sair...-Falei já embriagado.-Eu vou ficar aqui. Quieto. Só assim ninguém vai zombar de mim...

Eu tinha perfeita consciência do que eu dizia apesar de tudo. Estava inseguro, incompleto. Nada estava ao meu favor. Receava sair na rua e sentir na pele a reprovação das pessoas, sendo que maior parte da população sequer sabia minha profissão... Mas parece que quando se comete um erro, todos os olhos se voltam para você. Uma sensação estranha de estar sendo observado te toma, e te leva ao descontrole.

Então, eu apenas queria evitar...

Eu tinha medo de sentir a reprovação das pessoas mesmo tendo a consciência de que elas não me conheciam; eu tinha medo de ver Gerard por aí; de não conseguir mais olhar os homens da mesma maneira que eu enxergava antes.

-É complicado tentar convencer você...

-Eu sei-Sorri como uma criança travessa.

-Eu posso não saber como te convencer, mas sei do que você precisa...-Falou calma.

Aproximou-se do sofá, inclinou o seu corpo. Pensei logo em Alex. Pensei no fato de que ela iria tentar beijar um cara que não escovava os dentes há três dias... Nossa... Que pânico...

Mas não.

Deu um tapa seco, estrondoso. Levantei de supetão. Jamia estava vermelha, raivosa e decepcionada comigo. Olhei para ela indignado, perguntando sem palavras porque ela tinha feito aquilo. Jam respirou fundo e acrescentou:

-Ainda falta mais uma coisa que você precisa...

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora