Cônjuges

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Não era nada de mais. Era apenas incessante e desesperado.

Gerard caminhou pacientemente até a cozinha, encontrando o foco do barulho. A dispensa. Frank, angustiado na sala, pensava em uma maneira de ser útil naquela situação. Mas bem, ele sequer conseguia se levantar sem ter algo em que se apoiar, para pegar sua arma que estava no quarto. E o corredor era longo e talvez só chegasse até a porta no dia seguinte, de tão lento que andava, mesmo que apoiado em algo.

Way sentiu seu peito se agitar pelo coração acelerado, e elevou sua mão lentamente em direção à maçaneta desgastada e azul clara. Olhou rapidamente para o balcão, que ficava bem no meio do cômodo, e observou uma tábua de madeira e vários vegetais dispersos e a faca abandonada no chão. Os armários estavam abertos, e a sorte era que não havia nada sendo cozinhado no fogão. 

Agarrou- a e abriu a porta. Ignorando aquela sensação de medo e apreensão que estava sentindo de uma maneira absurda. Não iria se render à eles de maneira tão fácil. E ao contrário do que esperava encontrar, viu Bradley e sua esposa, Elise, amarrados um de costas para o outro com fita isolante. Era ela quem batia com os pequenos saltos elegantes que Way insistiu que ela usasse com o uniforme, contra a porta. Gerard rapidamente os libertou.
Elise ainda chorava muito, os cabelos loiros bagunçados e os olhos negros apavorados. Bradley estava quieto e taciturno. Se levantaram e Gerard pediu para que tomassem um copo de água .

Frank, na sala, virou o rosto e observou o telefone fixo acendendo e apagando. Geralmente fazia isso quando tinha alguma chamada perdida. Pegou-o do gancho e olhou a tela.

-Quatro chamadas de Gerard. – Falou ouvindo a conversa lá dentro. Reconheceu a voz de Elise e de seu marido.

Os três vieram da cozinha, Bradley tentando consolar a esposa e Gerard enfiando as mãos no sobretudo e Iero leu em seu rosto que ele estava afetado com a situação. E não que também não estivesse, na verdade estava apavorado, mas claro que nunca iria admitir. Assim como Way.

-Sentem-se, por favor. – Gerard pediu, indicando o sofá.

Eles obedeceram. Elise analisou o local e detestou a bagunça que fizeram ali. Tinha deixado a casa impecável e aqueles trogloditas  acabaram com todo seu trabalho.

-Que bom que o senhor voltou, sr. Iero. – Ela disse, mesmo enxugando as lágrimas, para receber Frank. Bradley lhe afagou as costas, sorrindo minimamente da bondade da esposa.

-Obrigado. – Frank disse calmo e com um sorriso compreensivo, completamente diferente do que Way tinha visto do lado de fora da casa. – Se sente apta a falar sobre o que aconteceu? Ou você Bradley?

Iero não se preocupava com formalidades. Se fosse Gerard, teria os chamado de Sr. e Sr.ª Antonioni. Porém, como Frank odiava essa coisa de ser superior ou patrão dos outros, optava por tratar todo mundo igual. Exceto os idosos.

-Eu estava preparando o jantar, assim que o Sr. Way saiu. Ele disse que iria ligar para Bradley, que tinha ido buscar os remédios do Sr. Iero na farmácia, quando fosse para buscá-los no hospital. – Ajeitou a barra do vestido no joelho. Frank percebeu que sua meia-calça branca estava rasgada em vários pontos. – Quando cinco homens encapuzados arrombaram a porta e começaram a revirar tudo. Eu estava sozinha, e nunca pensei que seria uma assalto. Essa região é segura. E foi por isso que corri até a sala. E então... – Ela passou a derramar mais lágrimas. – Eles me agarraram e me puxaram cozinha adentro. – Bradley apertou sua mão com força, para lhe mostrar que estava ali.

-E foi quando eu cheguei. – Ele finalmente disse, com a voz rouca.

Bradley era esquisito, segundo a concepção de Frank. Calado e taciturno. De vez em quando ficava o encarando quando Gerard dava as costas, e Iero o encarava de volta. Não para corresponder à sabe-se lá o que, mas para mostrar que não tinha medo e nem que iria cair no que quer que fosse que Antonioni estava se aventurando a fazer. E mesmo estando casado com Elise, Frank cogitou várias vezes – geralmente quando ele desviava rapidamente o olhar do seu, que Bradley era gay. Porém, também levou em consideração o fato de que no seu olhar não havia desejo ou provocação. Era um olhar enigmático e cheio de uma coisa que ele não sabia distinguir entre a amargura e a infelicidade.

Drowning Lessons (Em Revisão) || Frerard ||Onde histórias criam vida. Descubra agora