Capítulo 7

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Adriane serviu um copo descartável com a bebida quente e alcançou-lhe. Caio estava encostado na pia e ela em seguida também serviu-se de um.
__Quanto tempo morou em Madri, Adriane?-indagou Caio, bebendo um gole de café.
__Cinco anos. Fui trabalhar e fazer pós-graduação lá. 
__ A empresa em que trabalhou está em maus lençóis, devido aos escândalos de corrupção. Você tinha conhecimento das negociatas? 
__ Eu desconfiava. Cresceram muito. Choviam contratos de obras públicas. A gente sabe como funciona, financiam as campanhas políticas e depois recebem em dobro tudo o que investiram, mas nunca assinei nada autorizando esse tipo de transação. Eu coordenava vários investimentos, porém as transações de dinheiro e negociatas com políticos, nunca participei.
A PF me chamou para depor, afinal eu era uma pessoa que detinha muito conhecimento dentro da empresa, reviraram minha vida. Não acharam nada. Não devia, então não temi. 
__ O mal de uns é o bem de outros. Sempre trabalhei dentro dos padrões de honestidade . Nunca faturei tanto quanto as outras empreiteiras, porém, hoje estou tranquilo, não devo nada a ninguém e temos fechados muitos contratos. Estamos indo bem.
__ Joana me falou. Não esperava ser chamada para a entrevista e muito menos conseguir esse emprego. Levei muitos "nãos". Estamos em crise econômica, a ordem é demitir.
__ Muitas empresas falindo...
__ Bem, não me disse o que achou do meu café.- perguntou sorrindo, formando duas covinhas no rosto.
__ Muito bom. Esta contratada! - ele riu.
__ Se soubesse que fazer café seria um diferencial no meu currículo, teria colocado isso lá a mais tempo.
__ Sério, seu café é ótimo! Secretária que não sabe fazer café, não serve. 
__ Obrigada, Sr. Santelli! - disse piscando.
__Ah, não... não faz isso !
__ Isso o quê? -perguntou sem entender.
__Sorrir e piscar.   
Já não tinha mais o sorriso no rosto e a olhava como da primeira vez que a vira naquela balada.
Ela disfarçou e saiu dali. Era difícil não ficar encantada com Caio. Seu olhar a despia, essa era a sensação. Ele mexia com ela, não queria se sentir exposta diante de Caio.
Ele a seguiu. 
__ Tem alguém que possa me guiar para me mostrar a empresa? - indagou mudando de assunto. 
__ Tem. Eu.
__ Não, tô falando sério.
__ Eu também! - afirmou. __ Vem, vamos dar uma volta por aí!
Pegou o copo da mão dela e jogou no lixo.
__ Vamos começar no térreo. - disse ele, a puxando. 
Adri sentiu o calor da mão dele apertando a sua. Muitas noites sentira esse calor quando em seus sonhos, ele teimava em aparecer.
Entraram no elevador e desceram.
Passaram o resto da manhã,  explorando a empresa e Caio explicando como tudo funcionava ali. Voltaram ao escritório, do décimo segundo andar, já era passado do meio-dia.
__ Que horas volto? -indagou ela. __ Pode me indicar algum restaurante aqui por perto?
__ Tem um lugar bem legal, não muito longe daqui, cerca de três quadras .
__ Que bom! Então até mais! Duas horas é tarde para voltar?
__ Costumo voltar nesse horário. Seria pedir muito se a  acompanhasse no almoço? 
__  Pode ser,  assim me mostra onde fica o restaurante.
Saíram do prédio e o sol do meio dia bateu nos seus rostos e com ele um vento gelado. 
Caio sorriu, mostrando os dentes perfeitos, olhando para o céu claro através da lente de seu Ray Ban. 
__ Se tem coisa que gosto, é o inverno. Pra mim é a melhor estação do ano. 
__ Somos privilegiados neste ponto. Quando começamos a enjoar do calor, vem o frio. Gosto do inverno, mesmo que signifique médicos e remédios. Heitor tem asma. Piora muito no inverno e na primavera.
Era a primeira vez, que citava o nome do filho.
__ Eu tinha asma, quando pequeno. Era horrível!  Minha mãe vivia em pânico, sempre preocupada. 
__ Pois é assim que me sinto. Tenho medo que aconteça uma crise à noite e eu não veja.
__ Nas minhas crises tinha um lado bom, minha mãe sempre me levava pra dormir na cama dela.Sinto falta dela, faz dois anos que faleceu...
__ Sinto muito, Caio. Faço o mesmo com Heitor. Ele adora dormir comigo.
__ Acredite, qualquer um que tivesse a chance de dormir com você se sentiria feliz. - ele riu.
Adriane ficou sem jeito. Será que ele queria insinuar que tinha ficado feliz por ter dormido com ela naquela noite? Se bem que, o que menos fizeram foi dormir - pensou. 
__ Desculpa, não devia ter feito essa brincadeira. - disse a olhando, o vento frio revirando os cabelos dele.
__Você é sempre assim? Mal conhece e fica com essas brincadeiras? Posso não gostar e você vai acabar ficando sem secretária novamente...
__ Desculpa, eu sou assim. Vou procurar me controlar, prometo. - ele riu, cruzando os dedos sobre os lábios.
Adriane avistou a fachado do restaurante, atravessaram a rua e entraram.
O lugar era bem aconchegante e Adri escolheu sentar perto de uma vidraça, onde o sol batia.
__ O que você costuma comer quando vem aqui, Caio?
__ Às vezes como à la minuta. Gosto de batata frita e bife, mas o consomé que eles servem é muito bom, eu recomendo.
__ Então, vou seguir sua sugestão! Notei que você tem hábitos simples, o que é bem estranho para um empresário de sua posição. 
__ Sou assim e o dinheiro é a consequência de muito trabalho. Meu avô e meu pai batalharam muito pra erguer a empresa. Nossa família tem hábitos muito simples. Vou te acompanhar, no consomé! - disse ele, chamando o garçom.
Fizeram o pedido e enquanto esperavam continuaram conversando sobre a empresa.
Voltaram ao escritório eram quase duas da tarde.
Adriane ficou na antessala, em sua mesa, tentando se achar naquele monte de números e memorandos.
Caio fechou a porta do escritório atrás de si e suspirou.
Deus, que mulher!
Fazia muito tempo que não via várias qualidades reunidas numa só : beleza, simpatia, inteligência e sensualidade.
Não sabia se ela fazia de propósito, sorrir daquele jeito, ajeitar os cabelos, os enrolando e pondo de lado sobre um ombro...Eram coisas que que chamavam atenção.
Durante o almoço, notou os olhares de outros homens pra ela, porém parecia alheia a tudo isso.
Era sexy, com um certo ar de inocência.
Pegou o envelope do detetive, que havia guardado na gaveta da mesa; foi a primeira coisa que a atendente do térreo alcançou pra ele quando cruzou o hall de entrada.
Vê-la entrar no seu escritório naquela manhã, não causou nenhuma surpresa a ele. No relatório já constava que havia conseguido emprego ali. Ele sorriu, em meio aos seus pensamentos.
Quis o destino, se assim se pode chamar essas coincidências da vida, que ela viesse parar justamente, como secretária dele!
Passou os olhos pelos papéis. Ali, dizia quase tudo sobre sua vida, mas não indicava quem era o pai do menino.
Puxou algumas fotografias. Heitor sorrindo no carrossel no parque,  Adriane limpando a boca do garoto que tinha se lambuzado comendo algodão doce, ela sorrindo...
Demorou olhando a foto em que os dois sorriam juntos; Heitor no colo dela.
Esse garoto o fazia lembrar alguém, só não conseguia descobrir quem.
Ouviu uma batida na porta. Era ela; guardou tudo no envelope e socou na gaveta.
__ Pode entrar.
__ Caio, gostaria que me mostrasse alguns gráficos que não encontrei nos arquivos do meu computador. Encontrei os memorandos, mas não os achei.
__ Claro, puxa a cadeira, vou te mostrar. Como estava sem secretária, alguma coisa eu guardei aqui no meu, mas é tranquilo... - falou, abrindo as pastas com os arquivos.
__ Eu sei que não posso ficar te importunando, porém só queria entender e como não tenho uma auxiliar, você  vai ter que me aguentar, pelo menos até eu começar a dominar o trabalho.
__ Tudo bem, vai aprender logo. Inteligência é o que tem de mais marcante em você. Em quinze dias, no máximo, estará sabendo melhor do que eu. É pra isso que pago uma secretária, não esqueça disso!- falou sério. 
Adriane entendeu que era hora de trabalhar e Caio sabia fazer bem essa divisão.
Passou o resto da tarde, anotando, pesquisando números, cálculos...Muita coisa nem era da função de secretária, mas estava tão acostumada com aquilo que fazia as coisas sem perceber.
Caio olhou o relógio.
__ Cinco horas, moça! Não quero que te prender aqui além do horário, só quando for realmente necessário.
__ A tarde passou rápida. Vai dar tempo de pegar Heitor na escola, pra infelicidade dele.
__ Como assim, infelicidade?
__ É que disse que se não tivesse tempo, minha irmã o buscaria e eles voltariam de ônibus para casa. Ele gosta.
__ Seus olhos brilham quando fala no seu filho, sabia?
__ É o que tenho de mais importante na minha vida, não consigo me imaginar sem ele. Pena que eles crescem, criam asas...
__ Faz parte, Adriane. Nós, mesmos, já causamos esse sentimento em nossos pais.
__ Claro. É que às vezes, penso lá na frente, sabe?
__Tem medo de ficar sozinha?
__ Não, não é isso, ou talvez seja! Sei lá, deixa eu ir, senão me atraso. Até amanhã!
__ Até! Não esqueça, quando chegar amanhã, meu café! Só começo o dia depois dele.
Ela sorriu, saindo da sala, fechando a porta.
Lembrou que não tinha avisado a irmã que pegaria Heitor. Ligou enquanto descia de elevador e se dirigia ao estacionamento da empresa.

Chegou em casa, tomou um banho e fez o mesmo com o filho. Enquanto ele assistia seu desenho favorito, em frente a lareira, Adri preparou algo para comer.
Sua irmã apareceu na cozinha.
__E então como foi seu primeiro dia de trabalho?
__ Nem te conto! Acho que a vida está me aprontando uma! -  olhou para ver se Heitor estava mesmo na sala. __ Adivinha quem é o presidente da empresa Santelli?
__ Ah, não! Sério, isso? O pai do Heitor? 
__ Shiii! Fala baixo. Se Heitor escutar vai querer saber, fazer perguntas sobre o pai.
__ Maninha, você vai trabalhar com o lobo mau! Sinto muito, mas está perdida! Ninguém resiste aquele homem. E aí, conta como foi? 
Adri contou tudo, no final suspirou.
__  É isso Ariane! Ele é uma pessoa legal... não é arrogante, me tratou bem. Depois, não vou ficar pra sempre lá. Se não conseguir uma promoção dentro de um ano, essa é minha meta, vou partir para outra.
__ Ih, mas num ano, muita coisa pode acontecer, maninha!
__ Pode, porém não vai acontecer nada. Você também, né? Só pensa bobagem! 
__ Adri, cai na real! Ele é o pai do Heitor. - baixou a voz para dizer isso. __ Ele nunca vai te perdoar se descobrir por outra pessoa que tem um filho e que a mãe, sua secretária, esconde dele!
__ Ariane, o que você  quer que eu faça? Que chegue amanhã, entregue um copo de café e diga: "Bom dia, Caio, trouxe o seu café e o seu filho pra você conhecer."
Não posso contar assim! Primeiro vou conhecê-lo um pouco melhor, depois, eu vejo se merece saber ou não da existência de Heitor! 







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