Capítulo 20

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Adriane tomou banho e desceu para encontrar Caio na cozinha. Olhou pela janela, o dia estava lindo, ensolarado. Heitor saiu pela cozinha correndo.
__ Opa, opa aonde o senhor pensa que vai? - Caio o segurou pelo braço.
__ Quero ir lá fora, no solzinho. A "profe" deixa a gente brincar de manhã na pracinha , ela disse que é bom a gente pegar sol.
__ Claro que é, Heitor, mas tem que esperar um minuto, ok? Que tal a gente tomar café lá na beira da piscina? -  indagou olhando para Adriane. __ Assim ele pode correr lá fora e ficamos de olho. 
__Oba!! Vamos mamãe? 
__ Claro, mas enquanto arrumamos o café, você fica aqui. Não quero ninguém perto da piscina sozinho.

__ Ok, eu espero. - concordou Heitor.
Ultimamente, as teimosias tinham dado lugar aos "okeis" que ouvia da boca de Caio.
Assim que prepararam tudo, foram para fora.
A piscina era enorme, de lajotas azuis e brancas, no fundo, sob a água que cintilava com os raios de sol, o desenho de um peixe colorido. 
Luzia e o marido eram caprichosos em tudo. Mantinham sempre, tudo muito bem limpo e o gramado e os arbustos muito bem cortados e aparados.
Adriane soube por Caio que Luzia fazia questão de cuidar do jardim.
Heitor era pura alegria, descobrindo lugares e esconderijos entre a vegetação.
Ela esperava uma oportunidade para que pudesse conversar com Caio, porém estava difícil. O filho exigia sua atenção a todo momento.
Tinha que ser hoje, não iria esperar mais nenhum dia para revelar a Caio sobre Heitor.
Ouviu quando Caio se aproximou, acompanhado de Luzia.

__ Bom dia, Adriane! - cumprimentou ela com um sorriso no rosto.
__ Como vai Luzia? Dia lindo, né?
__ Muito. - respondeu olhando para o céu sem nuvens e logo após para o menino que corria entre os arbustos do jardim. __ Heitor parece estar se divertindo.
__ Demais. Sabe como é, moramos num apartamento. Ele tem muita energia.
__ Eu entendo, ao meu ver, criança deveria por lei, morar numa casa com pátio enorme. Os meus se criaram aqui, não é Caio?
__ Sim. A gente se divertia muito em época de férias! - respondeu Caio, as mãos no bolsos da calça jeans.
__ Quantos filhos tem, Luzia?- indagou, afastando uma cadeira para que a senhora sentasse ali junto deles.
__ Três. Duas meninas e um menino. O meu mais velho é da idade de Caio, as meninas são gêmeas; dois anos mais novas que eles.
Puxou o celular mostrando as fotos com orgulho.
__ Nossa, ter gêmeos não deve ter sido fácil! Um, já dá trabalho!
Caio deu uma gargalhada.
__ Botávamos o terror aqui!  Imagina: três da Luzia, eu e meus irmãos!
__ Caio e Marcos só faltavam por fogo na casa! - entregou Luzia.
Adriane olhou para Caio, que sorria, lembrando daqueles tempos.
__ Eu imagino... Espero que ele pague na mesma moeda, as travessuras, quando tiver filhos. - cutucou ele com o dedo em sua barriga.
Caio desviou os olhos dela, o sorriso sumindo aos poucos, os olhos parando num ponto fixo do gramado.

__ A vida tem muitas surpresas, mas acho que desta água não beberei. Não nasci para ser pai. - afirmou ele.
__ Se me permitir, gostaria de levar Heitor até minha casa, queria mostrar uma ninhada de  patinhos pra ele. Sinto falta dos meus netos, todos moram longe. Prometo que cuido bem dele. Daqui a pouco voltamos.
Caio olhou para Adriane.
__ A Luzia mora ali, depois da grade, perto do lago.
__ Ah, sim, avistei a casa ontem. Claro, Luzia, pode convidá-lo.
Luzia pediu licença e se afastou; conversou com o garotinho e acenou com a mão, indo em direção a escadaria que levava ao portão de acesso ao lago.
Adriane aproveitaria a ausência de Heitor para conversar com Caio.
__ Então você era o cabeça das malandragens, né? - brincou, a voz debochada.
__ Eu e o Marcos. - afirmou ele.
__ Sei. 
Não sabia como entrar no assunto. Tinha ensaiado mil vezes, em sua cabeça, agora tudo parecia muito difícil.

__ Caio... Lembra o assunto que queria conversar com você? - perguntou receosa.
__ Lembro, pode falar. Também quero conversar. Acho que agora, que estamos  a sós é o momento.
__ Então... Aquela noite em Madri... - era difícil falar, estava com medo da reação dele.
Respirou fundo criando coragem.
Caio era um homem inteligente, ele mesmo, várias vezes, a pressionara a contar a verdade  ao suposto pai de Heitor, iria entender. - pensou.
__ Aquela noite?- indagou ele, juntando as sobrancelhas.
__ Não restaram apenas lembranças, Caio... Heitor... Como posso te dizer isso? Estou com medo de te falar!
__ Estou curioso, seja o que for, não tenha medo!
__ Eu engravidei naquela noite! Heitor é seu filho!

Caio sorriu a encarando como se não tivesse entendido nada.
__ Não entendi, está querendo me dizer que engravidou, naquela noite? De mim?
__ Sim, Caio, de você. De quem mais? Aconteceu. Eu te procurei muito, queria que soubesse disso. Estou tentando te falar desde a noite que minha irmã morreu. Ela queria que eu te contasse, deixou você entrar sem o meu consentimento naquele dia, no meu apartamento; ela queria que Heitor tivesse um pai.
Caio levantou e seu rosto mudando de expressão com a notícia. 
Virou de costas, as mãos no bolso da calça, olhando para a água cintilante da piscina.
Adriane levantou junto, ficando a sua frente, o encarando .
Caio estava com os músculos da face contraídos e uma veia pulsando em sua têmpora.
__ Isso não é possível, Adriane! - exclamou ele, a voz baixa .
__ Sei que parece irreal, mas aconteceu! Olha só Heitor!Tem os seus olhos... Você foi o último, nunca mais tive ninguém, Caio.
Ele sorriu sarcástico. Sua expressão agora era de raiva.

__ Posso ter sido o último, mas quem me garante que não é filho do penúltimo?
__ Caio, está me ofendendo! Acha mesmo que em pleno séc. XXI, mentiria sobre isso! Ele é seu filho, sim! Não está feliz? Você mesmo disse que ele era um encanto de criança e que o pai deveria saber do filho.              
__ Chega! - a olhou com raiva. __ Arruma as suas coisas e de Heitor, vamos embora assim que ele voltar! Aquele papo de confiança ontem... - sorriu amargo. __ Estava sendo perfeito demais pra ser verdade!
Saiu, passando a mão nos óculos de sol de cima da mesa e pendurando na gola da camisa. Adriane o seguiu apressada. As palavras saíram com raiva de sua boca.

__ Qual o problema descobrir que tem um filho comigo?
Ele se virou e Adriane esbarrou em seu corpo. Os olhos de Caio examinaram minuciosamente seu rosto.
__ O problema é outro. Arrume suas coisas, não vou discutir com você. Outra coisa, não fale a Heitor sobre mim em hipótese alguma! Achei que fosse diferente. - passou a mão no cabelo, num gesto nervoso. __ E eu que tinha planos ... Você não vale nada!- a voz cheia de mágoa. __ Exatamente iguais as outras!
__ Essa reação é que eu temi o tempo todo... - as lágrimas encheram os olhos. Está me ofendendo!Também me enganei com você! - respirou fundo. __ Não falarei nada. Heitor jamais saberá que você é o pai dele, pelo menos não da minha boca!
Caio se afastou a deixando parada no meio do gramado, o sol batendo em seu rosto, iluminando as lágrimas que começavam a cair.
Adriane limpou o rosto com as costas das mãos. Quem ele estava pensando que era?
Deu meia volta e juntou as coisas de cima da mesa, levando até a cozinha. Se dirigiu ao quarto, caminhando firme. Não devia nada a ele. Não iria se humilhar!
Até agora,  Heitor viveu sem conhecer o pai e assim seria até que ele crescesse e entendesse os motivos dela.
Abriu a porta e entrou. Caio estava parado na sacada, olhando para o lago. Não iria puxar conversa, nem tentar explicar mais nada. Ele se quisesse que a procurasse para conversar.
Jogou as roupas dentro da mala, juntando também seus objetos de uso pessoal e saiu indo ao quarto de Heitor. Tirou os lençóis da cama do filho e dobrou, deixando-os em cima do colchão para que depois, Luzia levasse à lavanderia. Fazia isso automaticamente, para aplacar a raiva que sentia de Caio no momento. Desceu e saiu para fora, ficando a espera de Heitor no jardim.
Cerca de uma hora mais tarde, a cabecinha dourada, apontou com Luzia, subindo os degraus. Foram até ela, que disfarçou, não queria que Luzia visse que tinha chorado. Pôs seu óculos de sol.
Heitor sorria,  o rosto avermelhado pela caminhada.
__ Mamãe, a tia Luzia tem patinhos, bem pequenos, amarelinhos! - contou com entusiasmo. _ Ela disse que quando eu voltar aqui eles estarão nadando no lago!
Adriane sorriu, pegando o filho no colo como se quisesse protegê-lo de Caio. O extinto materno falando mais alto.
__ Ele é um menino adorável! Meu marido se encantou com ele.
__Obrigada, Luzia! - respondeu Adriane, vendo Caio se aproximar delas.
__ Se estão prontos, podemos ir? Talvez volte daqui  há alguns dias, Luzia, no feriado de setembro.

__ Claro. Vamos esperar. Marcos e as gêmeas também virão. Por que vão tão cedo? Poderiam ir à tarde.
Caio deu um beijo em Luzia e não respondeu; saiu em direção à garagem, dizendo que já tinha levado as malas para o carro.
Não era mais o mesmo, agia friamente. Como, se saber que ter um filho fosse o fim do mundo. - pensou Adriane.
Se despediram de Luzia  e saíram.
Às vezes, o silêncio sepulcral da viagem era quebrado por Heitor, que fazia uma ou outra pergunta. Por fim, o sono dominou o menino.
Adriane observava Caio dirigindo, as mãos apertavam fortemente o volante com raiva, em alta velocidade. Parecia que não suportava a presença dela ali, no mesmo ambiente que ele.
Ela estava magoada. Fez o que ele sempre pediu e não entendia porque rejeitava assim, Heitor. Ele e o filho tinham se tornados amigos nestes últimos dias, talvez, Caio estivesse pensando que ela iria querer uma boa vida agora. A comparou com outras que dormiram com ele e que dispensou por serem interesseiras.
Estavam a mais de hora na estrada. O silêncio foi quebrado por Adriane .
__ Se der, podemos parar em algum lugar? Preciso alimentar Heitor, se isso não for te incomodar. - pediu receosa.
Ele a olhou de canto, sem responder.
Meia hora, mais tarde, ele encostou em um restaurante, na beira da estrada.
__ Acorda o menino. Vou esperar aqui!
Ela desceu pegando o filho no colo e o levou ao banheiro. Lavou seu rostinho e o puxou pela mão para irem até buffet.
Serviu algumas coisas que ele gostava.
__ Tio Caio não tá com fome? - indagou com toda sua inocência.
__ Não, meu amor, ele não está bem. Vamos comer pra gente não se atrasar, tá bem?
__Ok!- respondeu usando o termo que aprendera com o pai.
Adriane sentiu vontade de chorar ali mesmo. Ver Caio ignorar ele era como se uma faca atravessasse seu peito. Naquele momento, sentiu um ódio tão grande quanto o amor que nutria por ele.

Assim que terminaram de comer, voltaram e Adriane ajeitou o filho no assento elevado sentando-se ao lado de Caio.
Heitor cantava uma musiquinha que aprendera na escolinha.
__ Canta comigo, tio Caio!
Adriane repreendeu o garoto .
__ Agora não Heitor, tio Caio está dirigindo! Não vamos atrapalhar.
Caio a olhou de canto. Não disse nenhuma palavra. O silêncio incomodava e o resto da viagem foi assim.  Vez ou outra Heitor perguntava algo, que era respondido por Adriane, mesmo a pergunta, sendo dirigida a Caio.
Ao entrarem, em Porto Alegre, o trânsito era calmo, não demoraram a chegar no endereço de Adriane.
Ele estacionou o carro em frente, ao prédio dela, desceu e tirou as malas, depositando no saguão.
__ Amanhã, a gente conversa. Tchau! 
Saiu sem olhar para trás.
__Grosso!! - resmungou em voz baixa.
Heitor já a esperava no elevador com o porteiro que a ajudaria  com as malas.



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