Capítulo 46

6.4K 461 14
                                    

Os três dias, que se seguiram, foram demasiados longos para Adriane.
Caio tentou várias vezes, falar, mas ela não atendia suas ligações e nem visualizava suas mensagens. 
Trabalhou como nunca naquele escritório, na tentativa de não pensar nele.
A parte mais difícil do dia, era a noite, quando os pensamentos e as lembranças não a deixavam dormir e ainda tinha que driblar as perguntas de Heitor sobre o pai.
Algumas vezes, chorava no banheiro. Sua vida havia mudado drasticamente, depois que reencontrou Caio. 
Pensou na irmã e no que ela diria, caso estivesse viva. Sentia a falta dela, agora, mais do que nunca.
Estava acabando de digitar um relatório para enviar a Cíntia em São Paulo, quando seu telefone tocou; olhou o número do contato,  era Juan.
__ Alô, Juan?
__ Olá, Adriane, como vai?
__ Bem e você? Só trabalhando muito. Estou praticamente, sozinha, tentando dar conta do recado.
__ Eu imagino. Bia me disse que pelo menos até amanhã, vocês duas estarão super ocupadas ainda. Eu fiz um convite a Bia e a Ivan para amanhã, a noite e gostaria de estendê-lo a você também.
Adriane concordou e indagou:
__ Pretendem ir a algum lugar especial?
__ Na verdade, estou de aniversário na sexta-feira. Alguns amigos vão lá no meu apartamento e queria contar com sua presença. Vou oferecer um jantar... coisa bem simples!
__ Não te prometo nada, Juan, pois não tenho onde deixar Heitor. Se conseguir alguém para ficar com ele, eu irei com certeza.
__ Claro eu entendo. Se quiser levá-lo  não me importo, afinal, você é mãe e sei que agora, não tem com quem contar para ter ajuda. Meus pais iriam adorar conhecê-lo.
__ É, tudo ficou mais difícil, depois que ela se foi.... Agradeço que compreenda. Pablo também estará lá?
__ Sim.
__ Vou fazer o possível, prometo! 
__ Vou aguardar então. A gente se fala. Sabe o meu endereço, né?
__  Sim, sei. Te ligo para confirmar.
Conversaram algumas banalidades e então, Adriane desligou o telefone já pensando em falar com D. Cândida para tomar conta do filho.
Procurou o número na agenda e ligou, explicando a situação a ela que prontamente, concordou em levar Heitor para dormir em seu apartamento. Ele já estava acostumado com a senhorinha e gostava de ficar com ela. 
Em seguida, ligou de volta a Juan confirmando presença
Suspirou, levantando e indo ao banheiro.
Sua aparência estava péssima! Precisava dar um jeito no visual.
Desde que recebera aquelas fotos que não tinha muito ânimo para se arrumar. Caio tinha tirado seu chão.
Nada que não seja sua culpa! - pensou se recriminando.
__ Ele só fez com você o que permitiu! - disse baixinho se olhando no espelho.
Saiu do banheiro e ligou para o salão, marcando horário.
Queria voltar a se sentir bonita, queria retomar as rédeas de sua vida, antes tão pacata. 
Caio não merecia seu sofrimento! Conseguiu a única hora que estava disponível. Logo após o almoço na sexta-feira. Marcou.
Caio que se danasse! - pensou.
Iria ao salão, no horário de expediente, se não gostasse poderia lhe demitir, o que já seria um alívio, não ter que conviver com ele dentro daquela sala.
Se concentrar no trabalho era o melhor que tinha a fazer, assim, a manhã, passaria rapidamente. 
Olhou seu celular e já era quase meio dia. Na tela, o ícone de mensagens piscava. Abriu.
Caio não desistia de falar com ela. Visualizou e não respondeu.
Pegou sua bolsa e desceu, o telefone na mão, fazendo uma ligação para Julio, que atendeu imediatamente.
__ Alô, Adriane? 
__ Julio, estou saindo para almoçar. Podemos comer juntos?
__ Claro, querida . Tô no saguão. Te espero aqui.
Adriane desligou, esperando pacientemente, os olhos contando os andares que ainda faltavam.
Assim que a porta se abriu, enxergou Julio vindo ao seu encontro e o cumprimentou com dois beijos, um em cada lado do rosto.
__ Como vai, minha amiga preferida? - A olhou de alto a baixo.
__ Nem sei porque fui perguntar. Parece que um trem passou por cima de você!  Que cara é essa?
__ Ai, Julio ... Tô péssima! Não tenho ânimo pra nada. A noite pra mim é um tormento, demoro a pegar no sono.
__ Para com isso, mulher! Ele não vale tudo isso! 
__ Eu sei, mas tá sendo complicado! Me manda mensagem toda hora... não respondo.
__ Isso aí! Ele tem que aprender que não pode ficar brincando com as pessoas assim! Essa família, eu, hein, vou te contar! - exclamou Julio liberando sua afetação.
Adriane sorriu, era sempre assim, com ela podia ser ele mesmo. 
Julio passou o braço por cima de seus ombros e caminharam até o pequeno restaurante em que algumas vezes, tinha almoçado com Caio. 
Entraram e escolheram uma mesa perto da parede. Fizeram os pedidos e continuaram conversando, até que Adriane, entrou no assunto chamado  Daiana.
__ Você conheceu bem Daiana? 
__ Mais ou menos. Bia sabe mais do que eu. O que sei mesmo é que ela faria qualquer coisa pra ter Caio. Acho que até simular uma transa... Já pensou nessa possibilidade?
Adriane riu irônica.
__ Ah, Julio, convenhamos! Caio estava sorrindo, nu, naquela cama com ela...Pra mim ele estava aproveitando e muito!! 
__ Sei lá,  hoje em dia, existem métodos pra levar pessoas pra cama e conseguir o que se quer! Já decidiu se vai conversar com ele quando voltar amanhã?
__ Não sei. Tô cansada, Julio. Se ele me pôr pra rua será um alívio. Estou enviando currículos. Não quero mais conviver com ele. Sei que vou sangrar, mas será pior vê-lo com outras mulheres. - tomou um gole de suco de laranja, os olhos cheios de lágrimas.
__ Sei bem como é... tá pensando em fugir do contato direto com ele, né?  Eu mesmo fiz isso.
Dói, porém, dói bem menos do que de estivesse encontrando Matheus nos lugares aonde costumávamos frequentar com nossos amigos.
Acho que fiz bem. Seria insuportável! Por isso, te entendo e apóio se tomar esta decisão.
Adriane levantou os olhos do prato de salada que estava servido a sua frente, o encarando. 
__ Só tenho a agradecer por ter sido tão meu amigo. Não poderia ter escolhisdo pessoa melhor!
__ Assim você me deixa sem jeito! Eu é que amo ser seu amigo, me aceita do jeito que sou.
Ela sorriu com um ar de compreensão para ele.
Almoçaram tranquilamente e essa era a sensação de estar com Julio, a de paz e tranquilidade. Sua ansiedade pelos acontecimentos vindouros a abandonava em sua companhia.

A tarde que se seguiu foi  bem ao contrário do almoço com Julio. Quando voltou ao escritório, recebeu uma mensagem de Bia.
"Adriane, não sei o que aconteceu entre você e Caio, mas ele precisa falar urgente contigo, algo sobre negócios. Pediu pra você ao menos, abrir as duas últimas mensagens de áudio dele"
Ela suspirou com raiva. Não era possível ele estar usando de artifícios infantis para poder falar com ela!- pensou irritada.
No entanto, para não ficar com a consciência pesada, abriu.
"Adriane, sei que está possessa comigo, mas por hora, queria apenas uma explicação. Nunca achei que se vingaria me prejudicando nos negócios. O projeto que confiei a você, está sendo mostrado, neste momento, em uma reunião da empresa concorrente. Nunca pensei que pudesse me apunhalar desta forma! Se vingou sem nem ao menos conversar comigo!"
Adriane releu a mensagem, não entendendo muita coisa.
Caio estava falando do projeto de Brasília. Como assim, vingança?
Respondeu imediatamente:
" Se isto for um tipo de truque para ter minha atenção, saiba que não vou cair na sua lábia novamente. Não sei do que está falando!"
"Estou saindo da reunião agora, atende minha ligação!
Em menos de cinco minutos, a ligação dele vibrava na tela de seu celular. Adriane pensou em ignorar, mas sua intuição lhe dizia o contrário. Atendeu.
__ Caio?
__ Adri, porque fez isso? Sabia que esse projeto era o meu sonho! - sua voz era triste.
__ Caio, não sei do que está falando! Me explique melhor! Tem a ver com o projeto de Brasília? Como assim, foi apresentado pela empresa concorrente?
__ Precisamos conversar seriamente sobre isso! Confiei em você! 
__ E eu não, Caio? Se é verdade o que está falando, não tenho nada a ver com isso! Jamais me vingaria de alguém! Por mais que tenha me destruído...porque foi isso o que você fez comigo durante esse tempo, em que estivemos juntos! 
__ Adriane, amanhã quero você bem cedo no escritpório! Dei folga a Cíntia porque trabalhou muito nesta viagem. Vamos ter uma conversa séria! Não vou admitir traidores dentro da minha empresa! 
__ Como achar melhor! Não fiz nada de que possa me envergonhar! 
Adriane desligou o celular, as lágrimas de raiva, escorrendo já pela face!
As palavras dele a feriram , demonstrando que não estava nem aí para os seus sentimentos.
Droga! - exclamou baixinho, nesses três últimos dias, só o que fazia era chorar. Estava emocionalmente abalada.
__ Imbecil! Achou o quê? Que ele se apaixonaria loucamente? - se recriminou baixinho.
Sem demora, verificou seu computador em busca de algo que pudesse descobrir de como o projeto  foi parar nas mãos dessa tal empresa. 
Não encontrou nada! Nenhum vestígio! 
 Tentou lembrar se alguma vez, esqueceu algo relacionado ao projeto em alguma gaveta. Revirou as duas  gavetas suas e nada. Se tinha caído nas mãos do concorrente, com certeza, alguém que tinha acesso ao escritório tinha pegado.
Só restava saber quem e na sua cabeça já se delineava um suspeito.



































Palavras Não Ditas 🔞 Proibido Para Menores 🔞.Onde histórias criam vida. Descubra agora