Adriane bateu na porta da sala de Caio e entrou. Ele estava sentado virado de costas para a porta. Girou a cadeira para a olhar.
__ Caio, já estou indo. Ainda está valendo a ordem que eu poderia sair assim que acabasse a reunião?
__ Claro. Se quiser posso te levar. Será mais rápido.
__ Obrigada, mas vim de carro. Até amanhã.
__ Teve notícias do Heitor?
__ Sim, liguei a pouco, ele está dormindo já foi medicado.
__ Até amanhã, então. Se precisar de alguma coisa, por favor, me avise, ok?
__ Sim, claro.
Saiu e fechou a porta. Desceu até ao estacionamento, uma garoa fina e o vento congelante fustigaram seu rosto. Entrou no carro e saiu apressadamente, em direção ao prédio em que morava.
Caio abriu a gaveta, tirando o envelope de dentro. Verificou o endereço; morava num bairro não muito longe dali. Não conseguia arrancar muita coisa dela, não estava aberta para contar sua vida.
Não queria ser chato, mas a curiosidade sobre ela era grande. Olhou a foto de Heitor novamente, era um garotinho bonito.
Por qual motivo o pai não sabia da existência do filho? Ressentimento de um amor não correspondido não era, pois ela confessou que não o amava.
Guardou as fotos no envelope, olhou no relógio de pulso, ainda tinha algumas coisas para resolver ali, então, se concentrou no trabalho.Adriane estacionou o carro na vaga do prédio, subiu apressada os quatro andares até seu apartamento. Atirou a bolsa sobre o sofá e foi até ao quarto ver Heitor. Entrou sem fazer barulho.
Ariane, sentada numa poltrona, fazia algumas anotações com o notebook aberto no colo. Levantou os olhos quando viu a irmã.
__ Ele está bem agora.- comunicou à Adriane.
__ Que bom, estava morrendo de preocupação. - disse se aproximando da cama e passando a mão na testa do filho.
Os lábios e a s bochechas estavam vermelhos, sinal que ainda tinha um resquício da febre.
__ Ariane, obrigada! Agora vai cuidar da sua vida. Já faltou aula hoje.
__ Sim, vou tomar um banho e depois vou terminar o trabalho. Temos que apresentá-lo semana que vem, na segunda-feira. Deu um beijo na irmã e saiu.
Ariane era estudiosa, estava no quarto semestre de arquitetura e a faculdade lhe tomava a maior parte do seu tempo. Só faltava quando era por uma causa importante, no caso Heitor.
Adri verificou a febre dele novamente, estava com trinta e sete e meio.
O estado febril persistia e ela receava que assim que o efeito do antitérmico passasse a temperatura dele voltasse a subir.
Foi ao banheiro e tomou um banho rápido. Vestiu uma calça de moletom e um blusão um pouco largo. Prendeu os cabelos num coque despojado com uma piranha.
A temperatura tinha caído ainda mais, acendeu a lareira para aquecer a sala. Talvez, Heitor acordasse e quisesse sair da cama.
Olhou o relógio de parede da cozinha, marcava dezoito e trinta. Voltou ao quarto, encontrou Ariane dando um beijo na bochecha rosada do filho.
__ Vou indo, maninha, volto perto das onze.
__ Vá de carro!- ordenou Adriane.
__ Não, você pode precisar para levar Heitor ao PS!
__ Eu chamo um táxi. Não quero que ande por aí à noite de ônibus. É longe aonde vai. Quero que vá de carro, assim fico mais tranquila.
__ Tá bem. Cuida bem do nosso gurizinho, tá?
Adriane a abraçou .
__ Vai, senão se atrasará.
__ Deixa eu dar um último beijo no meu pinguinho de gente. Fica com Deus, meu amor, a dinda te ama. - disse, passando a mão pelos cabelos do sobrinho.
Saiu e fechou a porta atrás de si.
Adri sorriu, todos os dias agradecia por tê-la por perto. Desde que perderam a mãe elas se uniram ainda mais, uma ajudava a outra, isto era o sentido real de família.
O som da campainha interrompeu seus pensamentos. Foi até a sala e abriu a porta. Se surpreendeu ao dar de cara com Caio parado ali.
__ Caio! - exclamou.
__ Desculpa ter vindo assim sem avisar...Peguei seu endereço no RH e encontrei sua irmã na porta do prédio. Foi ela que deixou eu subir. Atrapalho?
__ Não. Claro que não. Entra. - falou, se afastando para ele passar.
Ele a examinou de alto abaixo, parando o olhar em seu rosto.
Adriane se sentiu envergonhada por causa das roupas que estava usando, também estava sem maquiagem.
Ele percebeu seu constrangimento e desviou os olhos.
__ Se soubesse que viria, teria posto uma roupa melhor.
__ Pra quê? Você não precisa de roupa pra ficar bonita.- afirmou, insinuando que já a conhecia até sem roupa. __ Poderia ter avisado, estava preocupado com Heitor, mas fiquei com receio que não quisesse me receber.
__Tudo bem. Não tenho frescuras e não sou médica para receber as pessoas com hora marcada. Senta. - apontou o sofá, perto da lareira.
__ Bonito seu apartamento. - elogiou correndo os olhos pelo ambiente.__ Tem cara de lar.
Ela sorriu para ele, formando duas covinhas no rosto.
Aquele sorriso atiçava ainda mais a cobiça de Caio em jogar para ganhá-la como se fosse um troféu.
__ Sua casa não tem cara de lar?- perguntou com ar de brincadeira, dando ênfase a palavra LAR.
__ Assim como aqui, não. Lareira, caixa de brinquedos no canto sala ... - se referiu a caixa de Heitor, cheia de bugigangas. __ Meu apartamento é frio. Até pensei em comprar outro em que tenha uma dessas aí. - mostrou com um sinal de cabeça a lareira. __ Então, pensei melhor... o que eu faria com ela, se só entro em casa pra dormir, não faz muito sentido.
Ela riu do desabafo.
__ Acho que senti uma pontinha de solidão, nessa conversa... Viu como uma namorada faz falta! - disse em tom de brincadeira. __ Quer beber alguma coisa? Café?
__ Não quero te incomodar, só passei para ver Heitor.
__ Ele está dormindo. Vem aqui. - estendeu a mão a ele e o puxou até ao quarto do filho, empurrando a porta devagar para não acordá-lo.
__ Ainda tem febre? - perguntou baixinho no ouvido.
Adri sentiu o hálito quente perto do seu pescoço. Um arrepio subiu pelo corpo. Cruzou os braços, para se proteger, num gesto involuntário.
__ Só estado febril. Está cedendo.
Caio olhou em volta a decoração do quarto. Parou os olhos no boneco do Homem de Ferro e sorriu.
__ Olha só o que eu encontrei aqui, o homem de ferro, numa versão mais moderna! - pegou o boneco para olhar melhor. __Quando era menino, tinha um. Na verdade ainda tenho guardado. O único brinquedo que não deixei minha mãe doar. Ele era meu preferido! - comentou, pondo de volta o brinquedo na mesinha de cabeceira ao lado da cama.
__ Também é o preferido dele. - disse Adri, pensando que talvez eles tivessem mais coisas em comum, além dos olhos. __ Sempre o leva para a escola, quando pode.
Caio se aproximou dela. Os olhos verdes iluminados pela luz da lâmpada do abajur. Deus, eram ainda mais lindos quando refletiam a luz! - pensou. Ela recuou.
__ Quer um café? Posso passar um. - disse tentando disfarçar a atração que sentia por ele.
__ Aceito.
Ela saiu do quarto, Caio a seguiu.
__ Vou até a cozinha, senta aí que já trago o café pra você.
Ele percorreu com os olhos a sala. Parou em frente ao aparador, olhando as fotos dela, da irmã, Heitor bebê... Ela grávida ...Uma estranha sensação o invadiu, não sabia o porquê.
Alguns minutos depois, ouviu passos no tabuão, atrás de si. Virou-se.
Adriane lhe estendeu uma caneca de café fumegando.
__ Há quanto tempo sua irmã mora com você, Adriane?
__ Voltei pra cá com sete meses de gravidez, queria que ele nascesse aqui.- apontou a foto do filho recém nascido no colo dela. __ Desde o momento, em que pus o pé no aeroporto, ela nunca mais foi embora. Somos unidas demais. E você tem irmãos?
__ Sim. Uma irmã e um irmão. Sou o mais velho. Minha irmã mora em Madri. Ela que ficou tomando conta dos negócios de lá, quando vim para o Brasil, a pedido do meu pai. Meus dois sobrinhos nasceram lá. Meu irmão do meio mora em São Paulo, é médico.
__ Ruim quando se mora tão longe, né? Depois, que Heitor nasceu, pedi para ficar aqui no Sul; a proposta era voltar, mas não quis. Heitor precisava de uma família e a minha está aqui.
Caio pôs mais lenha no fogo, o ambiente estava aquecido. Nem parecia que lá fora fazia quase zero graus.
__ E seus pais moram onde?- indagou ele, afundando na maciez do sofá.
Não que não soubesse, o relatório trazia todas as informações que ele precisava, menos a identidade do pai do filho dela, mas a pergunta era um modo de fazê-la se abrir e confiar nele. Sabia que não era certo o que estava fazendo, se aproximar, ganhar sua confiança e assim poder tê-la do jeito que ele queria; sua consciência lhe avisava o tempo todo, mas sempre foi assim, queria ela e a teria de qualquer jeito de novo.
__ Minha mãe faleceu há alguns anos, meu pai casou de novo e esse é também um dos motivos de Ariane morar comigo, não se dá bem com a nossa madrasta. Eles moram no interior, Santa Maria pra ser mais exata.
Ouviram passos no corredor e avistaram a figurinha de Heitor parado no final dele, de pijama e meias.
Ela se levantou e pegou ele no colo.
__ Oi, meu amor! Olha só quem veio te visitar. - mostrou Caio, que abanou para ele.
O garoto mostrou um sorriso fraco, estava com as bochechas avermelhadas.
__ O titio... - resmungou, escondendo o rosto no pescoço dela.
__ Vamos dar oi, para o tio Caio?- incentivou Adri.
Ele assentiu com a cabeça.
Caio levantou, se achegando para perto deles.
__ Como vai, Heitor?- cumprimentou passando a mão nos cabelinhos finos dele.
__ Tô dodói...
__ Eu sei, por isso vim te ver. Vem aqui, no meu colo, quero te contar uma coisa.
Heitor o olhou e deu os braços a ele, que o agarrou, sentando no sofá não muito perto do fogo.
Adriane observou a cena, eram muito parecidos. A mesma cor de cabelo... os colocando assim, lado a lado, nem precisaria de DNA para saber de quem Heitor era filho.
Sentiu um aperto no coração, estava sendo injusta escondendo deles a verdade, tinha que começar a pensar em como faria para contar, nem tanto por Caio, mas pelo filho que tinha o direito de saber quem era o pai.
__ Fui no seu quarto e vi um boneco do Homem de Ferro! Sabia que tenho um também?
__ Tem um, mas adultos brincam?
__ Alguns sim. Eu ganhei do meu pai, quando fiz sete anos. Brinquei muito com ele. Era meu preferido, tinha um Super Homem também, mas não era tão legal quanto o Homem de Ferro.
__ O Homem de Ferro é muito forte, titio! - exclamou o garoto. __ Você traz o seu para brincar comigo?
__ Claro. Na próxima visita eu vou trazer e ele até pode ficar uns dias aqui, pra te fazer companhia. Eles podem ser amigos, assim como nós dois, o que acha?
__ Yes!! - exclamou Heitor.
Adriane pôs a mão na testa dele, a temperatura tinha cedido.
__ Está com fome, Heitor? - Adriane perguntou.
__ Tô. Quero comer.
__ Vamos fazer o seguinte, fica um pouco aqui, conversando com tio Caio, que a mamãe vai fazer alguma coisa pra gente comer, certo? Tio Caio pode jantar conosco!
__ Fica titio?
__ Não sei. Tenho medo que sua mãe não cozinhe bem e eu seja obrigado a comer por educação. - disse brincando, levantando os olhos do menino para olhá-la.
Ela riu.
__ Pois fique sabendo que sou ótima cozinheira! Heitor não reclama.
__ É verdade, Heitor?
__ Sim, minha mamãe sabe fazer batata frita e eu gosto.- afirmou, passando a língua nos lábios. Caio não conteve a risada.
__Bom, vou ficar então e experimentar a comida, se Heitor está falando que é boa, eu acredito. - disse piscando para ela.
__ Só que não vou fazer batata frita espertinhos, vou fazer outra coisa.
__ O quê? - perguntou Heitor.
__ Vou fazer uma sopa bem levinha, você está doente, mocinho.
__ Sopa? Eu não gosto disso! - reclamou o garoto.
__ Vou te contar um segredo, sopa deixa a gente bem forte, assim como o Homem de Ferro! Então, vamos brincar um pouco aqui, enquanto sua mãe prepara ela? Tenho certeza que vai ser bem gostosa!
Heitor, por fim se convenceu.
Adri foi até a cozinha e começou a preparar a sopa. Não exigiu muito tempo, pois os legumes, ela já os comprava picados.
Arrumou a mesa, com esmero, afinal, não era todo dia que seu chefe jantava em sua casa. Chefe e pai do filho - pensou.
Espiou pelo vão da porta, os dois brincavam sentados no tapete. Caio tinha jeito com crianças, de certo por causa dos sobrinhos - pensou.
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Palavras Não Ditas 🔞 Proibido Para Menores 🔞.
RomansaAdriane conhece Caio, um homem bonito, charmoso e e extremamente sedutor, numa balada em Madri. Assim que seus olhos se cruzam, o desejo entre eles explode e então transam desvairadamente, sem medir as consequências de seus atos. Ao amanhecer, Caio...