Capítulo 11

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Adriane era um zumbi. Ainda estava em choque. A pior parte foi o reconhecimento do corpo no IML. Caio a acompanhou o tempo todo. 
Não tinha mais lágrimas para derramar, parecia que seu corpo flutuava e só após todos os trâmites legais, pode chegar ao velório da irmã pela manhã. 
Foi abraçada pelo pai em estado de desespero. Pablo, namorado de Ariane, não arredava o pé da beira do caixão.

Nunca, nem em seus piores pesadelos, poderia imaginar que algum dia passaria por uma tragédia daquelas. 
Juan, irmão de Pablo se aproximou dela, a abraçando em solidariedade com a dor da perda. 
Caio observou a cena.
O abraço demorou mais que o necessário. Sentiu raiva daquele sujeito que se aproveitava da fragilidade de Adriane para tentar conquistá-la. 
Conhecia bem esse tipo, chegava de mansinho, oferecendo um ombro para consolo, preparava o terreno e agia. 

Devo estar louco! - pensou - Ele é um amigo, não há motivos para ficar desse jeito agora! - se repreendeu.
A madrasta de Adriane sentou ao seu lado, numa sala reservada aos familiares.
__Sinto muito, Adri ... Nunca imaginei uma coisa dessas na nossa família! Tive meus desentendimentos com ela, mas nunca guardei rancor nenhum, acredite. Seu pai está sofrendo muito. Parece que envelheceu dez anos de ontem a noite para cá. 
__ Ela também não guardava rancor...  as coisas acontecem ... Eu pude passar quatro anos, desfrutando da companhia dela. Só tenho que agradecer a Deus por ter me permitido isso.
Não estou revoltada...E também quero que saiba que não tenho raiva de você. A vida acaba de me dar uma lição, cruel, é verdade, mas está me ensinando que não valem a pena as desavenças. A vida é um sopro.
__ Verdade, Adriane. De hoje em diante, vamos nos ver mais, seu pai sente muita falta sua. Vamos esquecer todas as desavenças... sei que tenho minha parcela de culpa  e me arrependo muito de tudo isso!
__ Prometo que assim que me recuperar, vou visitá-los. Heitor também está com saudades dele. Todos nós cometemos erros, Beth ... não cabe a nós julgá-los.
__ Vamos esperar. - passou a mão pelos cabelos dela.

__ Estão hospedados onde?
__ Em lugar nenhum. Vamos embora assim que sair o enterro. Seu pai tem consulta marcada amanhã, bem cedo, com o cardiologista. Não anda bem. Ainda mais agora...Se quiser ir com a gente pra não ficar sozinha ... será bem vinda por um tempo.
__ Não posso, tenho coisas para resolver aqui... Seguro do meu carro, a faculdade  dela... Cuida bem dele, Beth. - pediu Adriane à madrasta.
__ Estou cuidando. Liga mais vezes para falar com ele. Seu pai sente sua falta.
__ Vou ligar, sim. Vou ali conversar  com ele.
Adriane se levantou e foi até seu pai que chorava de cabeça baixa.
__ Papai... 
Ele a olhou, cansado.

__ Papai, eu te amo... Não vou esperar nenhuma outra oportunidade pra lhe dizer isso. Eu te amo e entendo o senhor. Me perdoa por ter sido egoísta e não ter entendido o seu lado. Eu amo você!
Ele a abraçou forte, soluçando.
__ Minha filha amada, agora ficou só você! Queria ter tido a oportunidade de conversar com sua irmã. Explicar os meus motivos de ter sido tão amargo com vocês. Eu também te amo, filha. Onde está Heitor?

__ Ele ficou com uma vizinha. Não posso trazê-lo aqui. Amava de mais a tia, tenho que arrumar um jeito de contar sem traumatizá-lo.
__ Quem é o rapaz que está te ajudando, filha?
__ Meu chefe, pai. Estava comigo quando recebi a notícia. 

Adriane fez sinal com a cabeça para Caio se aproximar.
__ Caio, quero que conheça meu pai.- apresentou, limpando as lágrimas do rosto abatido dele.
__ Muito prazer, seu Álvaro, gostaria de estar lhe conhecendo num momento melhor para o senhor e sua família... Infelizmente, foi eu que falei com o senhor pelo telefone ontem, dando essa terrível notícia!
__ Prazer é meu. Obrigado por estar com minha filha numa hora dessas. Ainda bem que ela tem com quem contar ...
__ Adriane é uma ótima funcionária. Nos tornamos amigos. Não precisa agradecer.
__ Pai, vou em casa tomar um banho e ver Heitor. O senhor  quer vir comigo?
__ Não. Quero ficar aqui com sua irmã até o último momento.
__ Eu já volto então. - deu um beijo na bochecha dele e saiu.
__ Vou te levar. Está sem carro, lembra? Foi roubado. - Caio a segurou pela mão.
__ Nem lembrava mais disso; é verdade. Aceito. Preciso ver meu filho.
__ Vamos então. - a pegou pela mão descendo as escadas que levavam até ao estacionamento.

Adriane se recostou no assento do carro, olhando pelo vidro o movimento da rua. 
__ Adri?- chamou ele.
Ela virou atendendo ao chamado.
__ Vai ter que contar a Heitor.
__ Sim, não sei como, Caio. Ele irá sofrer demais...
__ Tem que pensar num jeito suave. Talvez arrumar uma psicóloga pra ele superar a ausência...
__ Não sei o que fazer.- suspirou.
Se virou para encará-lo.
__ Caio, não sei como te agradecer ... Preciso, quando tudo isso acabar, conversar com você.
Tem coisas que preciso te contar... Coisas que aconteceram comigo...
__ Adriane, vai ter tempo pra tudo isso. Seja lá o que for que quer me contar isso será irrelevante. O que viveu no seu passado não me interessa. Seja lá o que for, quero e vou continuar querendo você do mesmo jeito. Se quiser se abrir tudo bem, se não, tudo bem. Meu desejo de ficar com você não irá diminuir por causa disso.- falou, passando a mão na coxa dela por cima da calça jeans.

Adriane concordou.
Depois que tudo se acalmasse contaria a ele sobre Heitor.
Ariane, sempre cobrou isso dela. Agora, Heitor precisaria ainda mais de amor.
Entraram no apartamento e o filho veio correndo abraçá-la.
__ Mamãe!
__ Oi, meu amor, a mamãe veio te ver. Tio Caio também.
__ Oi, titio. A D. Cândida brincou comigo hoje e tomei leite com chocolate no copo. Ela disse que eu ia fica bem forte se fizesse isso.
__ E vai. Dona Cândida tem razão, ela tem dois netos que lutam Judô. - afirmou Adriane.
__ Assim?- Heitor saiu do colo da mãe para mostrar alguns golpes, meio desajeitados para eles.
__ É isso aí! - disse Caio, piscando para Adri. __ Já está pegando o jeito.
__ Como foi com ele? - perguntou à senhora de cabelos grisalhos.
__ Tranquilo, minha filha. Heitor é um amor e eu me divirto com ele. Me sai com cada pergunta! E você como se sente?

__ Destruída. - falou baixinho para Heitor não escutar. __ Nunca imaginei que isso pudesse acontecer...- os olhos se encheram de lágrimas, voltando a derrubá-las. Limpou rápido os olhos para que Heitor não percebesse sua tristeza.
__Eu sinto tanto, Adriane! Porto Alegre, cada dia pior! A gente vê essas coisas na televisão, parece tão longe, até que aconteça com alguém que conhecemos e gostamos. - concluiu com tristeza a senhora.
__ Vou precisar que fique até à tardinha com ele. Só vim tomar um banho. O enterro será às dezesseis horas.

__ Claro, fico o tempo que precisar, minha filha. 
Adriane procurou Heitor que estava com Caio sentado no tapete, tentando montar os trilhos de um trem.
__ Vou tomar um banho rápido e já volto.- anunciou Adriane.
Foi em direção ao quarto, parando em frente a porta da irmã. Abriu. Tudo organizado. Era muito caprichosa, nada fora do lugar. Cheirou o travesseiro. O perfume dela na fronha... Sentou e chorou; os soluços sacudindo seu corpo.
__ Adriane?

Ouviu a voz de Caio no corredor.
__ Estou aqui.
Ele empurrou a porta, sentou ao lado dela na cama e a abraçou, passando a mão ao longo dos seus cabelos.
__ Vem, vai tomar banho. Precisa comer alguma coisa. Não come desde ontem!
D. Cândida descongelou alguma coisa pra gente. Toma banho e vem comer, por favor!
__ Não tenho fome.
__ Mas mesmo assim vai ter que fazer um esforço.- disse a puxando pela mão e a levando até ao quarto. __ Não demora, tá? - pediu  com jeito.
Sabia que não podia exigir que ela fizesse as coisas usando a  lógica. Estava sofrendo e  isso era horrível.
Lembrou de quando sua mãe faleceu, doeu muito. Ela era tão jovem, bonita... Com o tempo a dor se transformou em saudade. Era assim. O tempo era o senhor de tudo.
Um sentimento de culpa tomou conta dele.

Estava criticando o rapaz que a abraçara, mas se ele mesmo estava fazendo isso com ela, preparando terreno, para poder tê-la em sua cama! - pensou, sua consciência avisando que estava errado e se recriminou por estar sendo tão egoísta.
Tinha algo nela que o confundia. Era uma mistura de tesão com alguma coisa mais que ele não sabia identificar. Quanto mais estava com ela, mais queria ficar.
Era diferente de tudo o que havia vivido até agora.
Com outras, gozava e já estava louco pra ficar sozinho. Com ela não era assim, queria a companhia, não só na cama.  
Droga! Estava pensando bobagem, assim que conseguisse fazê-la se entregar e não estava longe disso, ela também o desejava da mesma forma, seria como as outras. Transariam um tempo, até o tesão acabar, depois, cada um seguiria sua vida. 
Sempre foi assim e assim continuaria sendo, concluiu.

Adriane saiu do box, olhou em volta; não tinha toalha nas gavetas do armário. Iria pegar um resfriado, mas o roupão tinha ficado na guarda da poltrona no quarto. 
Abriu a porta e espiou, Caio não estava ali. Saiu apressada, atravessando o quarto,  deixando um rastro de água no chão.
A porta se abriu e ela virou assustada, cobrindo os seios com as mãos.
Caio a olhou de alto a baixo, parando nos quadris, descendo para as coxas bem torneadas, subindo e contemplando a depilação perfeita que deixava apenas  um risco de pelos baixinhos que sumiam entre suas pernas.
Ele se aproximou. Precisou se conter para não agarrá-la ali mesmo e transar enlouquecidamente, com ela. S
e recriminou por estar sendo tão egoísta e  afastou esses pensamentos. Com certeza, sexo era a última coisa que ela pensava agora.
Abaixou e pegou o roupão de cima da poltrona, cobrindo suas costas. Ela o vestiu, amarrando na cintura.
__ Desculpa, ter entrado assim. Não foi minha intensão te constranger.- disse ele .
__ Tudo bem, Caio. Nada do que já não tenha visto há quatro anos, não é mesmo?
__ Está melhor?- perguntou preocupado, passando o nó dos dedos em seu rosto.
__ Um banho sempre melhora. O chuveiro é um ótimo conselheiro. Preciso pensar em Heitor, continuar com minha vida... era isso que ela me aconselharia se estivesse aqui. É isso que vou fazer. Vamos comer, não posso me entregar agora.
__ Concordo com você. Vamos lá, almoçar.

A tarde se tornou escura e mais fria, uma garoa fina persistia em cair.
Um ótimo dia para enterros, se é que existe isso!- pensou ironicamente.
O clima frio e a garoa tornavam o dia mais triste ainda.
Adriane e o pai foram os últimos que deixaram o cemitério. Ela o abraçou, prometendo visitá-lo no feriado de setembro.
__ Desculpa a pergunta, mas vocês vieram de ônibus do interior? - Caio se dirigiu a Álvaro.
__ Sim, por isso chegamos pela manhã.
__ Vou providenciar que um motorista da empresa os levem de volta. Só um minuto.
__ Não meu filho, não se preocupe, ficaremos bem.
__ Faço questão. Adriane me disse que o senhor não anda bem. Arranjarei alguém para levá-los. - insistiu, fazendo uma ligação.

__ Se é assim, agradeço.- disse o pai de Adriane.
Caio se afastou falando ao telefone, voltando em seguida.
__ Vamos esperar o motorista com o carro da empresa aqui em frente. Dentro de alguns minutos, ele os pegará aqui.
Ficaram um tempo conversando por ali.
Adriane não via a hora de ir pra casa descansar. Estava exausta física e emocionalmente.
O carro chegou e em uma hora ela e Caio estavam adentrando em seu apartamento.
Adriane agradeceu D. Cândida pelo favor, se despediu da senhora e se  atirou no sofá macio.
__ Caio, sei que está cansado também. Não precisa ficar aqui comigo. Obrigada, por tudo. Nunca vou esquecer o que fez por mim neste dia.
Ele sentou ao seu lado, puxando para que se recostasse no seu peito.
Adriane podia ouvir o coração dele batendo forte.

__ Somos amigos, garota! Amigos são para essas coisas.
Heitor os olhou, estava sentado de pernas cruzadas, assistindo um desenho.
__ Você não é amigo da minha mãe! Minha mãe não abraça o tio Juan assim. Aquele chato! Porque está abraçando minha mãe?
Eles se olharam sem saber o que responder. Caio tomou a frente.
__ Bem... é que, digamos ...sou um amigo especial!
__ Você é namorado da minha mãe?
Adriane ficou sem jeito.
__ Heitor! O que foi que conversamos sobre perguntas indiscretas? Muito feio ficar fazendo perguntas sobre a vida dos outros! - repreendeu ela.
Ele concordou, dando de ombros.
__ Tá bem, desculpa.

Caio riu .
__ Agora isso me atingiu em cheio. Vou lembrar disso quando sentir vontade de perguntar algo particular a você.
__ Sim, lembre. Agora me diga se existe outro meio de calar esse menino! Lembra que te falei dos micos? Pois é.
__ Não quer que eu responda a pergunta dele?
__ Não precisa, ele até já esqueceu. Caio se quiser ir pra casa ... eu estou bem.
__ Vou ir tomar um banho, volto daqui a pouco. Não vou te deixar sozinha. Não hoje.
Ela sorriu e se aconchegou mais no peito dele. Estava cansada demais, pegou no sono.


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