Capítulo 23

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Ele se aproximou, parando em sua frente, se abaixou sobre as coxas e abriu delicadamente, os botões da camisete que usava por baixo do casaco.
Seus dedos desabotoaram lentamente, cada um deles, retirando a gaze com pomada, expondo a pele em carne viva.
Ele fez uma careta.
__ Não está cuidando disso direito!
__ Ontem, só fiz curativo uma vez, passei o dia deitada com febre... Sem ânimo pra nada! Vai melhorar!
__ Não, não vai! Cíntia marcou com Dr. Evandro às treze horas. Ele vai te atender no horário de almoço, mostre isto a ele. Peça que um carro da empresa te leve lá.
__Tudo bem, vou pedir. - disse fechando os botões da camisa, escondendo o sutiã branco de renda fina que usava.
Ele observou o seu rosto e ela baixou os olhos, não tinha como encará-lo sem sentir vontade de beijar aquela boca. Tinha que controlar seus instintos de mulher apaixonada!
__ Me liga assim que sair de lá, ok? - pediu com a voz baixa. Sua expressão era indecifrável.
__ Não tem o porquê dessa preocupação toda, Caio! É só uma gripe! Amanhã estarei melhor com certeza!
__ Tenho que me preocupar, sim! Você é minha funcionária e estou agindo como agiria com qualquer outro funcionário dessa empresa que esteja trabalhando no mesmo ambiente que o meu. - explicou.
Adriane sentiu uma ponta de tristeza. Sua preocupação era algo normal e não tinha nada de especial naquele gesto. - pensou.
Caio levantou e caminhou, cruzando os braços, ficando de costas para ela, evidenciando ainda mais a musculatura das costas sob a camisa. Os olhos fixos nas vidraças da enorme janela do escritório.
__ Posso ir agora ? - indagou ela.
Estava louca para sair dali, ficar no mesmo recinto, receber a  indiferença dele lhe causava dor. Ele não respondeu e ela entendeu como um consentimento para se retirar.
Saiu, indo para a sua mesa tentar trabalhar.
Sua cabeça doía demais.
Cíntia se aproximou, escorando as palmas das mãos sobre a madeira cinza da mesa de Adriane. 
O perfume insuportável.
__ Sua consulta está marcada. Não vá se acostumando, viu? Trabalho para Caio e não para você!
__ Reclame com ele, pois não sou eu quem dá as ordens aqui! Entra lá e formaliza a reclamação! Está sozinho no momento.  
Adriane foi ríspida e estava tratando assim como ela merecia.
__ Agora, não... prefiro mais tarde, na hora do almoço...
__ Então vou te dar um conselho: toma um banho, tira esse perfume horrível que você usa! Caio tem rinite, se chegar muito perto dele, o máximo que vai conseguir é que ele espirre muito! - desabafou se levantando. __ Deu por hoje? Sua mesa está cheia de trabalho! Ah, e outra coisa, acha que não sou capaz de marcar meus próprios compromissos? Sou uma administradora graduada e pós-graduada! Sei muito mais do que fazer ligações e mexer numa agenda!
Ela a olhou com surpresa, não esperava aquela reação da parte de Adriane.
__ Agora se me der licença, vou até a sala de Ivan, preciso passar algumas informações à Bia! - disse, pegando seu notebook e saindo.
Adriane  estava tonta, mas não iria deixar aquela víbora pisar nela.

Voltando da sala de Ivan, se escorou na parede do corredor. Tinha dificuldades para respirar. 
Olhou no seu relógio, eram quase meio dia.
Respirou fundo, pois além de estar se sentindo mal, ainda tinha que aturar Cíntia se achando a última Coca-Cola do deserto.
A sala estava em silêncio. Foi ao banheiro dar um jeito na aparência.
Lavou o rosto e se maquiou um pouco. Borrifou um pouquinho de perfume e penteou os cabelos, deixando-os soltos.
Pegou sua bolsa e saiu, indo em direção ao elevador, adentrou nele.
__ Segura, por favor!  
Caio a seguia apressado.
Ela trancou a porta com o braço. Ele entrou.
__  Achei que não estivesse no escritório?
__ Cíntia e eu estávamos preparando algumas pautas para a viagem a São Paulo, na metade do mês de setembro. Acho que terei que levá-la junto comigo.
Ela abaixou os olhos, não iria deixar ele ver o quanto aquelas palavras  a machucavam.
Alguns andares depois, Julio entrou, cumprimentando Caio com um aceno de cabeça.
Ela sorriu para ele.
__ E você, melhorou, Adriane? - indagou com sotaque carioca.
__ Estou indo ao médico agora. 
__Quer uma carona? Posso te deixar aonde vai?
Adriane não teve tempo de responder, Caio os interrompeu.
__ Obrigado ...Como é mesmo seu nome? - Caio perguntou o olhando friamente.
__ Julio, trabalho no andar da contabilidade.
__ Então, Julio, obrigado, mas eu mesmo vou levá-la.
Adriane observou a reação de Caio e podia jurar que ele estava com ciúmes.
__ Ah, sim, tudo bem. Só queria ajudar.
A porta abriu no térreo, Julio se despediu dela.
__ Vou te ligar à noite pra saber de você?
__ Claro, Julio! Assim que melhorar, vamos combinar aquele almoço.
Julio sorriu e Caio a fuzilou com os olhos verdes faiscando.
__ Menos de dez dias de empresa e já arrumou um fã! Por favor, mantenham a discrição.
Adriane o olhou com  desdém
__ Engano seu. Arranjei dois fãs! - sorriu, as covinhas se formando. __ Admita, você já foi fã também! - disse saindo do elevador em direção ao motorista que a esperava.
__ Qual a parte que não entendeu? Eu vou com você! 
__ Não, não vai! Não quero sua companhia, nem a sua preocupação! - disse baixinho para que o homem que estava escorado no carro a esperando, não a ouvisse.
__ Qual é Adriane? Está criando caso? Levando tudo para o lado pessoal?
__ E para qual lado devo levar, Caio? 
__ Profissional! - rebateu ele.
__ Desculpa, mas é a primeira vez que vejo um chefe levar a funcionária ao médico. Não estou morrendo e se estivesse, o mais apropriado seria você chamar uma ambulância! 
__ Vai desobedecer uma ordem minha?
__ Vou. Minha vida pessoal não lhe diz respeito. Estou em horário de almoço. Não tenho que obedecer ninguém!  
Sua cabeça latejava e sua visão ficou turva. Pôs a mão na testa.
__Teimosa! Nem doente baixa a guarda! Esse seu lado eu não conhecia!
Ela o encarou, o rosto avermelhado pelo estado febril.
__ Você não me conhece Caio! Até agora, só conheceu meu lado golpista. - ironizou ela, os olhos se enchendo de lágrimas.
Virou as costas e saiu.
Ele a pegou pelo braço fazendo com que olhasse novamente para ele.
__ Tudo bem...- disse com voz baixa. __Não espere que eu vá te pedir desculpas por achar isso de você, sabe que ele não é meu filho...
Ela sorriu sem brilho no olhar.
__ Meu filho tem nome. Não se refira a ele como se Heitor fosse um ninguém!
__ Foi modo de dizer...Deus, ela entende tudo errado! - olhou em súplica para o teto do estacionamento. 
Ela puxou o braço e saiu entrando no carro.
Segurava as lágrimas para não dar margem as fofocas entre os outros funcionários da empresa. O motorista a cuidava pelo retrovisor.
Adriane quase se atrasou. A discussão com Caio no estacionamento lhe roubara alguns minutos.

A porta do consultório abriu. Um rapaz de uns quase trinta anos, vestindo um jaleco branco e  barba bem desenhada a chamou.
__ Adriane Fontoura Mello, por favor, entre. 
Se afastou dando passagem a ela.
__ Como vai? - estendeu a mão.
Adriane apertou a mão com firmeza.
__ Desculpa atrapalhar seu almoço, Dr.Evandro. Sei que está fazendo um favor a Caio!
__ Não se preocupe, Adriane! O irmão de Caio e eu nos formamos na mesma turma de medicina, eles são meus amigos, não há porque se sentir constrangida. Por favor, senta! 
Adriane se acomodou na cadeira, colocando a bolsa de lado.
__ E então, o que está sentindo?
Ela narrou todos os sintomas. Ele a examinou. 
__ Bem ... Vou pedir um RX do tórax pra ter a certeza do que estou desconfiando. Não se preocupe , acho que é uma pneumonia... Tem cura e é só fazer o tratamento direitinho! - sorriu a tranquilizando.
Passou o encaminhamento com urgência .
__ Vou ligar e pedir que te atendam ainda agora à tarde. A clínica fica aqui, no terceiro andar do prédio. Pode ir lá e ainda hoje, teremos um diagnóstico preciso.
Levantou, abrindo a porta para ela, que agradeceu.
Em duas horas, estava sentada novamente, em frente ao Dr. Evandro, apreensiva.
__ E então, doutor?
__ Pneumonia, como desconfiei!

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