Capítulo 24

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__ Pneumonia num dos pulmões, evoluindo para o outro.
Começou a digitar o receituário.
__ O tratamento é: cama e antibióticos fortes, por no mínimo, dez dias. 
Passou algumas recomendações sobre a queimadura, atestado médico e a data de retorno.
Adriane saiu à rua contrariada. 
Tudo que precisava agora era uma pneumonia! - pensou, suspirando.
Aproveitou e pegou Heitor mais cedo, na escola, pedindo ao motorista da empresa que os levassem pra casa. 
Estava exausta e os antitérmico já tinha perdido o efeito.
Arrumou alguma coisa para o filho comer, tomou um banho quente rapidamente e se deitou no sofá.
Não podia deixar Heitor sozinho, então ficou ali e esperou o pedido da farmácia chegar.
O telefone tocou, na tela o nome de Caio.
___ Alô? - atendeu com um suspiro, contrariada.
___ Já está em casa?
___ Sim.
___ E então? Como foi a consulta?- indagou preocupado.
___ Pneumonia.
Ela respondia só o necessário, demonstrando que não estava a fim de conversa.
___ Vou passar aí mais tarde. Precisa de alguma coisa? Já comprou os medicamentos?
___ Caio estou bem, não preciso de nada! Só me tratar e deu!
___ Adriane, pelo amor de Deus, está doente! Quem vai te ajudar? Os remédios levam, no mínimo, três dias, para começarem o efeito esperado. Até lá, quem vai cuidar de vocês?
___ Eu me viro. Estou bem. Tchau, vou desligar porque o interfone está tocando
___ Espera!
___Tchau, Caio!
Desligou. Estava de saco cheio do fingimento dele. Não conseguia entender o que ele queria. Uma coisa ela sabia, ele não queria o filho!.
Olhou para Heitor que brincava com alguns bonecos, sentado no tapete; sorriu para ela inocentemente. Aquele sorriso lhe enchia de forças.
Quem perdia era Caio! - pensou, levantando para atender a tele entrega da farmácia.
Tomou os comprimidos de antibióticos e deitou; um cobertor aquecendo seu corpo.
Dormiu um sono agitado, delirando com a febre que insistia em não ceder. Acordou um tempo depois, a sala no escuro. Deu um salto, sentindo a falta do filho.
__ Heitor! - chamou ela, indo até ao quarto.
__ Estamos aqui!
A voz era inconfundível. Caio estava na cozinha. Foi até lá.
__ O que faz aqui? - indagou .
__ Para com isso! Está doente e sozinha. Está com fome?
__ Não consigo comer nada.
__ Heitor está acabando de comer. Olha só. -mostrou com um gesto de cabeça.
Adriane não acreditava no que estava vendo: o filho comendo, sem ajuda, com gosto. Na escola comia assim, mas em casa, ela tinha que disponibilizar um tempo para alimentá-lo, senão não comia direito.
Ela sorriu e sentou ao lado do menino.
__ Qual a mágica? - indagou ela, olhando para Caio.
__ Nenhuma. Ele sabe comer sozinho, só isso.
Caio pegou um prato e serviu uma porção de sopa, colocando na frente dela.
__ Falando desse jeito, faz eu me sentir a pior mãe do mundo. Ele simplesmente, faz birra comigo e eu acabo cedendo sempre. Caio, não tenho fome! - empurrou o prato.
__ Adriane, come agora! - ordenou.
__ Come mamãe! Tá boa! - o filho a olhou sorrindo.
__ Olha o exemplo... - advertiu Caio, olhando de canto para Heitor.
Adriane se sentiu vencida, sabia que tinha que se alimentar, era uma das recomendações do médico. Fez um esforço e levou a colher à boca.
Heitor acabou e desceu da cadeira, indo para o quarto brincar.
__ Porque está aqui, Caio? Não quero que Heitor se acostume com você... eu já tinha dito que não quero ver o meu filho sofrer! - passou a mão nos cabelos, enrolando na mão.
__ Não tem como ficar tranquilo sabendo que pode precisar de alguma coisa! - mentiu.
Por mais que quisesse se afastar dela, não conseguia, era mais forte do que ele. Se pegava arrumando desculpas pra estar junto dela.
__ Adriane eu sei que pensa que estou rejeitando Heitor... não estou! Gosto dele! É inteligente, esperto...sentiria orgulho de ser seu pai...mas ele não é meu filho, entende isso? Você está enganada. Se tiver paciência, vou te provar o que digo.
Não queria falar nada agora, precisava conversar com seu irmão.
__ Agora a palavra golpe foi substituída por "engano"? - ela riu sarcástica. __ Já me ofendeu, lembra?
__ Eu não vim aqui para discutir, Adriane! Vamos parar com isso! Me tenha como um amigo!
Ela sorriu e uma ponta de tristeza refletiu em seus olhos.
Como serem amigos depois, de tudo o que viveram nesses últimos dias? Pra ele era muito fácil pensar assim. - pensou.
__ Desculpa, Caio, mas você pode ser tudo, menos ser um amigo. Amigos não humilham! Me rebaixou quando me tirou tarefas que eu fazia e você sabe que eu fazia muito bem! Quer de alguma forma se vingar de mim, não é ? E eu nem ao menos sei o porquê, pois não estou mentindo!
__ Quando estiver melhor, voltará a fazer o que fazia, tá bom assim? - levantou as mãos em sinal de rendição.
__ Nem sei se volto, Caio. Não dá mais a gente conviver diariamente e você desconfiando da minha índole... Desculpa, mas foi sem querer... Vi o conteúdo do envelope na gaveta.
Ele passou a mão no rosto, coçando a barba.
__ Não fiz por mal... Só queria saber mais da sua vida quando voltei a te encontrar... queria saber se era casada, onde morava, o que fazia...
__ Não tenho nada a esconder.Foi por isso que consegui o emprego?
__ Em absoluto! Joana já tinha feito a seleção antes de receber aquele relatório. Não queria te perder de vista novamente. 
Um acesso de tosse a tirou da mesa, correu ao banheiro da área de serviço e vomitou o pouco que tinha comido.
Caio parou na porta, enquanto ela lavava o rosto e a boca.
__ Vem, Adri! 
Quando ele a chamava assim, suas defesas caíam.
A pegou pela mão, fazendo com que se deitasse no sofá, queria ficar em paz com ela. Adriane se recostou nas almofadas e fechou os olhos .
Sentiu sua blusa abrindo e ela se assustou quando as mãos frias dele tocaram sua pele febril.
__ Não precisa se assustar, só vou medir sua temperatura. - explicou, levantando o braço e colocando o termômetro.
Ela relaxou. Era tão inusitado que agora, depois de tudo, ficasse apreensiva com o toque dele. Pareciam estranhos.
O termômetro apitou.
__ Quase quarenta graus! Vou te dar um antitérmico. - ele anunciou.
Voltou com um copo e um comprimido; ela tomou.
__ Fecha os olhos e descansa. Eu tomo conta de Heitor.
Ela assentiu com a cabeça e as vozes na televisão foram ficando longe. Acordou duas horas depois, lavada em suor.
Ouviu vozes no quarto de Heitor. Caminhou até lá, espiando na porta. Caio, sentado na cama, lendo uma história para o menino, que já estava quase dormindo.
Ela se afastou sem ser vista, foi para o banheiro, precisava tomar um banho e trocar de roupa. Entrou no chuveiro, se ensaboando com o sabonete líquido e levou um susto, quando a porta do box abriu; ela escondeu os seios com as mãos.
__ Caio! -repreendeu.
__ Qual é Adri? Nada do que já não tenha visto. - declarou, os olhos percorrendo o corpo dela. __ Como está?
Ela estendeu a mão e pegou um roupão; se vestiu.
__ Suei muito, me sinto melhor. Se quiser ir ...
__ Quem disse que quero? - falou baixo. __ Vou ficar aqui, goste ou não. - falou escorado no balcão da pia do banheiro.
Adriane, abriu uma gaveta, pegando a escova de cabelos, passando delicadamente ao longo dos fios para desembaraçá-los.
__ Você é meu chefe, não deveria estar aqui. - brincou.
Ele sorriu. Ela havia baixado a guarda.
__ Vai ter que me aturar. - avisou, a deixando só.
Adriane passou o creme no ferimento e um pouco de hidratante nas pernas.
O quarto estava vazio quando saiu do banho e a cama arrumada, pronta pra deitar. Sorriu ao notar aquele gesto de gentileza da parte dele.  Procurou seu celular, havia deixado na cozinha.
Do corredor avistou Caio, deitado no sofá da sala, as pernas cruzadas.
__ Seu celular tocou. - informou.
__ Vim buscá-lo. - disse, indo para a cozinha.
Olhou a chamada, era Julio. Retornou a ligação, voltando a sala e sinalizou para que Caio retirasse o pé para ela sentar no canto do sofá. 
Caio fingia não estar prestando atenção no que eles conversavam. 
Pareciam velhos amigos, ele a fazia sorrir a maioria do tempo que ficaram se falando. Sentiu ciúmes de Julio. 



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