Capítulo 27

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Adriane acabava de sair do banho, quando ouviu barulhos e conversas na sala; Heitor como sempre entrou correndo no quarto e abriu a porta do banheiro.
__ Ô, mocinho, já pedi pra bater antes de entrar! Batemos, pedimos licença e entramos, lembra dessas regras?- Adriane repreendeu o garoto.
__ Oi, mãe! Só queria te dar um beijo!
__ Eu sei que está com saudade, eu também estou, mas é falta de educação entrar sem bater.  
Apertou o cinto do roupão e o pegou no colo, dando um beijo estalado na bochecha macia dele.
__ Cadê tio Caio? - indagou ela indo em direção a sala.
__ Tá na cozinha.
__ Então, vamos lá ver o que ele está aprontando!
__ Disse que vai fazer o que eu gosto! Batatinha frita! Pode né, mamãe? Por favor... - implorou.
Adriane fez uma careta .
__ Vou pensar...Só se tomar banho sozinho hoje!
__ Eu tomo, mas primeiro quero assistir meu desenho favorito, tá?
__ Tá bem, porém antes do jantar terá que tomar banho. - negociou com o filho que assentiu com a cabeça a abraçando.
O menino ficou na sala, Adriane entrou na cozinha.
__ Quer dizer que hoje teremos comida saudável? - indagou irônica.
Caio a olhou, se virando e atirou pra ela a maçã que acabara de lavar sob a torneira.
__Olá, Caio, como vai? Passou bem a tarde? - Caio sorria, as palavras no mesmo tom de ironia dela.__Obrigada por pegar meu filho na escola!
Adriane mordeu a maçã, limpando o canto da boca com as costas da mão e esperou para responder. 
Tinha sido injusta com ele e reconheceu isso.
__ Desculpa, sou uma grossa mesmo! É que Heitor me disse que você vai fazer batatinha pra ele...
Não terminou a frase, pois Caio a interrompeu.
__ Uma vez na semana que mal tem? Vai dizer que não gosta?
__ Amo, porém à noite é uma alimento pesado.
__ Está com medo de engordar?
__ Não. Só que ...
__ Ok, entendi, deveria ter falado com você primeiro; você é cheia de regras com o garoto!
__ Caio, não é isso, me expressei mal, desculpa!
Ele riu do jeito dela, a maneira como se enrolava nas palavras.
__ Sabe o que parecemos, Adri?
__ O que? Perguntou com a boca cheia de maçã.
__ Marido e mulher discutindo!
Adriane disfarçou, jogando o resto da fruta no lixo.
Não respondeu, porém sua vontade era dizer que esse era seu desejo, o de ter uma família com ele e de ter  discussões bobas que sempre se resolveriam na cama fazendo amor.
__ Quer ajuda pra descascar essas batatas?
__ Se quiser... Tomou seus remédios direito agora à tarde? - indagou e alcançou uma faca pra ela.
 __ Claro, preciso melhorar até o feriadão do dia sete; quero ir ver meu pai. Tenho falado com ele por telefone e estão nos esperando. E você, o que vai fazer?
__ Ainda não sei, talvez vá à serra rever meus amigos. Ficar um pouco sozinho... às vezes faz bem.
__ Você ficando só, Caio? Achei que fosse levar alguém... - os olhos fixos na batata, temendo a resposta da pergunta impulsiva.
__ Assim como levei você para lá?
Adriane sorriu levemente e concordou com a cabeça.
__ Não pretendo, aliás, como vou arranjar alguém se agora trabalho dois turnos?
Ela o olhou franzindo a testa  em sinal de interrogação.
__ Não se faça de desentendida. - disse, com olhar de deboche. __ Sou enfermeiro, cozinheiro e babá.
Ela não se conteve  e começou a rir.
Ele a olhou sério.
__ Já disse algumas vezes e vou tornar a falar: fica linda quando sorri! - largou a batata na tigela, secou as mão num pano e a puxou, beijando de leve seus lábios.
Adriane se afastou sem jeito, o coração batendo descompassado.
__ Caio, já conversamos que isso não aconteceria mais. O fato de dormimos na mesma cama ontem, não nos torna intimamente, ligados de novo.
__ Desculpa, desculpa! É que o teu sorriso me seduz.
Heitor apareceu na cozinha quebrando o clima.
__ Tio Caio, você vai vir no meu aniversário?
__ Vai me convidar? - puxou o garoto pra que se sentasse sobre sua coxa.
__ Sim, minha mãe vai fazer na escola.
Caio a olhou com ar de interrogação.
__ Achei melhor. Lá estão seus amiguinhos e eles têm espaço pra isso! - se explicou.
__ Nunca deu uma festa com tudo que as crianças têm direito pra ele?
__ Não, nunca, sempre fizemos coisas simples. Ele sempre gostou.
__ Minha mãe compra bolo e docinhos e a gente depois, faz um programa só nosso!
__ Tipo? - indagou, encarando Adri.
__ Vamos ao cinema, ao parque... Essas coisas! Procuro passar valores pra ele. Foi assim que cresci até o dia em que minha mãe faleceu... e assim vai ser com meu filho!
Caio notou a tristeza na voz  ao ouvi-la se referindo à mãe.
__ Nunca me falou da sua mãe.
Heitor desceu do colo dele, correndo em direção a sala ao ouvir o anúncio de um desenho.
__ Morreu quando eu tinha quinze anos e minha irmã dez. Era alegre, bonita, jovem, tinha 38 anos e teve câncer de mama. Quando descobriu não tinha mais cura.
Ficamos só nós três.
Meu pai não aceitou a perda, se voltou para a bebida e nos deixou de lado. Sempre achou que o sofrimento dele era maior que o nosso!
Hoje, vejo as coisas com mais clareza, ele a amava demais...Perder quem a gente ama não é fácil. Agora sou adulta e entendo.
Acabei de sentir isso na pele novamente. Perdi Ariane... e ele perdeu novamente, mais uma pessoa que amava... - os olhos se encheram de água. __ Achei que pela natureza, ficaríamos unidas pra sempre e mesmo que a gente se casasse e fôssemos morar longe, eu saberia que a qualquer momento, poderia contar com ela e vice versa. - passou os dedos sob os olhos, queixo tremendo.
__ Desculpa, não sei o que dizer... Acho que palavras não ajudam muito nessa hora.
Caio queria cessar o sofrimento dela, a embalar em seus braços como uma criança indefesa, mas lembrou do beijo e ela talvez o rejeitasse.
Ficava inseguro como um adolescente com sua primeira namorada.
Adriane levantou .
__ Vou dar banho em Heitor.
Caio sabia que ela iria chorar sem ser vista e ele segurou sua mão.
__ Adri ...não precisa ser forte o tempo todo.
Levantou e tentou um abraço. Ela não o rejeitou. Afagou seus cabelos longos e macios, enquanto ela molhava a camisa dele com as lágrimas.
Caio não dizia nada e o fato de ter com quem contar a fazia se sentir melhor. No final das contas, era tudo o que precisava... os braços a apertando forte contra ele, sentindo seu coração bater, seu cheiro...
Ficaram assim alguns minutos, até ela se acalmar e Caio a afastou um pouco para olhar seu rosto, como se quisesse descobrir algum segredo dela. Passou o polegar sob os olhos, limpando uma lágrima que escorria ainda, teimosa, pela face dela.
__ Está melhor?
Ela sorriu um sorriso triste.
__ Estou. Há muitos anos, que deixei de chorar por minha mãe... Não podia demonstrar fraqueza perto da minha irmã.
__ Só queria saber onde escondeu a dor esse tempo todo... você não existe! - passou a mão no cabelo dela, tirando uma mecha do rosto e examinando cada traço da face de Adriane.
__Existo sim e tô aqui, mais chorona do que nunca. - sorriu. __Vou mesmo arrastar para o banho uma pessoinha ali e já volto pra arrumar a mesa.
__ Tá. Daqui a pouco está tudo ponto.- concordou, dando um beijo em seus cabelos.
Ele ficou a observá-la, tentando convencer o menino a tomar banho, por fim, mesmo com um pouco de resistência ele a acompanhou.

Quando terminavam a cozinha, Caio decidiu entrar no assunto que tivera com seu irmão à tarde.
__ Posso te fazer uma pergunta? Espero que não se ofenda, mas o assunto é Heitor. - foi direto ao ponto.
__ Claro. Tentarei não ficar ofendida, desde que não me chame de golpista!
__ Quero fazer um DNA. Quero ter certeza sobre ele. - disse cauteloso.
Adriane o encarou serena.
__Quando quiser. Não tenho nada a temer. Pode marcar o dia!
Caio secou as mãos no pano de pratos.
__Ok. Vou marcar. Conversei com meu irmão... ele me aconselhou a fazer o exame! Assim que tiver o resultado em mãos vou te explicar tudo.
__ Já disse Caio, pode marcar o dia! Não quero nada de você, nem meu filho quer, mas você mesmo sabe o quanto ele deseja ter um pai. Vou fazer isso por ele e você sabe que por mim, ele nunca ficará sabendo... Se quiser contar a Heitor, porque o resultado vai ser positivo, fica em suas mãos!
__ Eu sei disso, sempre deixou isso claro. Quero que saiba que estou torcendo pra que dê positivo...apesar de ser uma chance em mil!
__Para com isso! Eu tenho certeza do que estou falando! Quando duvida da minha palavra me ofende!
__ Não estou dizendo que está mentindo, pode estar enganada nas contas do tempo de gravidez. Meu irmão disse que isso é normal! Ele entende dessas coisas, é ginecologista!
Adriane saiu da cozinha, não queria discutir e estava cansada. Entrou no quarto, dobrou algumas roupas, sempre fazia isso quando se irritava. Escovou os dentes e foi ao encontro de Heitor, que dormia com a cabeça escorada na perna de Caio.
__ Vou levá-lo para cama. - disse, pegando ele no colo; os cabelos castanhos dourados refletindo o fogo da lareira.
Caio a acompanhou com os olhos, enquanto sumia no corredor dos quartos, com o filho nos braços.
Ela afirmava com toda convicção sobre a paternidade de Heitor e no fundo torcia muito pra ser o pai dele. Já gostava do menino e parecia que o mesmo acontecia com ele.
Desligou a TV, indo em direção ao quarto de Adriane. Arrumou a cama e deitou, esperando que ela voltasse.
Era muito louco tudo o que estava vivendo! - pensou, as mãos cruzadas atrás da cabeça.

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