— Você pode ajudá-lo? — perguntou Vivianne.
Coalim estava sentado em uma das reentrâncias da montanha e não havia visto nem ouvido Vivianne escalar até acima dele. Vinte metros abaixo, o rei Clément esfolava as mãos na rocha. Coalim havia se perguntado por que o rei queria subir até ali e entendeu quando viu Vivianne. Ela sempre puxava Clément, ele sempre a seguia. Os braços de Clément contrastavam com o escuro azulado da rocha e os dedos ficavam lindamente desenhados, embora tensos e tremidos por causa da força que estavam desacostumados a fazer.
— Eu vou em frente — disse Vivianne. — Deixe Clément descansar um pouco aqui com você.
Coalim obedeceu e desceu a encosta para ajudar o rei a subir até a onde podiam se sentar lado a lado. Ele se firmou e pegou Clément pelo braço.
— Ela quer encontrar um jeito de entrar na montanha — disse o rei, assim que se sentaram na sombra. — Ela acha que existe alguma coisa lá dentro. Ela está certa, sabe? Existem fantasmas. Dá para ouvi-los através dos portões dos calabouços. Se existe qualquer coisa presa lá dentro, é melhor deixar ela em paz. Deve haver um bom motivo para meus antepassados terem trancado os portões. Você não acha?
Coalim não estava acostumado a dar sua opinião, ficou quieto.
— Você não gosta muito de falar, né? — disse Clément. — Tudo bem. Podemos ficar em silêncio.
Ele apertou a mão de Coalim, que nem tinha percebido, mas ainda segurava a mão do rei, antebraços colados e as veias azuis de Clément pulsando contra a palma da mão.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Boca da Guerra
FantasiaUma guerra de rotina. O rei da Franária morreu sem deixar herdeiros. Aconteceu o de sempre: três primos que se achavam no direito começaram a brigar pela coroa. Depois de quatrocentos anos (e, sim, todos eles tiveram descendentes), a guerra continua...