Não adianta chorar o sangue derramado. — Yukari Nakamura.
Vivianne apertou os lábios para não gemer de dor enquanto Coalim massageava sua perna. A perna havia funcionado quando foi até o palácio ao lado de Pierre. Ela funcionou quando Vivianne empurrou Olivier para o lado e foi atrás de Thaila. Então, falhou de novo. Vivianne começou a desconfiar que Líran tinha razão, que alguma força a mantinha ao lado de Pierre quando tudo o que ela queria era voltar para Lune. Como estaria Marcus? Desde que Vivianne acordou, não chegou a Tuen nenhuma notícia do norte. Talvez Fulbert tivesse tomado as estradas.
Uma batida à porta e, sem esperar resposta, Líran entrou no quarto.
— A história se agitou — ela disse. — Temos de ir.
Vivianne se levantou, Coalim se colocou de lado.
— Aonde? — perguntou Vivianne.
Líran saíu do quarto e Vivianne a seguiu. Perdeu de vista a contadora de histórias, que desceu depressa as escadas e sumiu para a rua enquanto Vivianne lutava com as muletas e os degraus estreitos da Pluma. Do lado de fora, Vivianne procurou pelos lados e viu uma mecha do cabelo de Líran desaparecendo na esquina.
— Vá na frente, Coalim. Não perca ela de vista.
Coalim seguia Líran e Vivianne seguiu Coalim até um beco ensanguentadp, com Joanna ajoelhada abraçada ao corpo de Maurice. Sobre os muros, amontoadas nos telhados e nas janelas, pessoas choravam, cobriam as bocas, diziam: "eu sabia, eu sabia". Na rua, soldados de ombros caídos se juntaram a civis de cabeça baixa. Alguns choravam, outros só balançavam a cabeça. Líran a tudo assistia.
— Ele ficou em pé — disse Coalim — por isso morreu.
Vivianne empurrou a muleta para o peito de Coalim com tanta força que ele deu um passo para trás.
— Você — ela apontou um soldado. — Fale comigo. Olivier escapou?
— Sim, senhora.
— Você sabe para onde ele foi?
— Não, senhora.
— Alguém o seguiu?
— Não, senhora.
— Quantos homens Olivier tem ao seu lado?
— Não sei, senhora, mas nós prendemos Erla. Ela está no calabouço agora.
— Muito bem. Vocês — Vivianne se virou para os outros soldados. — Cubram os corpos. — Para os civis, ela levantou a voz e disse: — Vamos precisar de carroças para carregar os mortos.
De repente, todo mundo começou a se movimentar. Os soldados endireitaram os ombros e trataram de cuidar dos corpos, os civis começaram a percorrer a cidade em busca de material para as piras funerárias e Vivianne destacou uma mulher para organizar o funeral antes de se aproximar de Joanna e colocar a mão no ombro da estalajadeira. Devagarinho, fez com que Joanna soltasse o corpo de Maurice e se levantasse.
— Líran, — chamou Vivianne — leve Joanna para casa. Fique com ela.
Líran estendeu as mãos para Joanna, mas os olhos lilazes continuaram em Vivianne. Vivianne virou as costas para o beco sangrento e quase bateu em Coalim, boquiaberto e abraçado às muletas dela.
— Se Maurice morreu porque ficou em pé — ela disse — nós vamos levantar tanta gente nesta cidade, que vai ficar todo mundo na mesma altura.
Coalim fechou a boca e Vivianne estendeu as mãos para pegar as muletas.
— Procure Pierre — ela disse. —Vou interrogar Erla.
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A Boca da Guerra
FantastikUma guerra de rotina. O rei da Franária morreu sem deixar herdeiros. Aconteceu o de sempre: três primos que se achavam no direito começaram a brigar pela coroa. Depois de quatrocentos anos (e, sim, todos eles tiveram descendentes), a guerra continua...