Capítulo 02

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CHRISTOPHER


— Ai, merda!

Solto um grunhido, segurando o dedinho do pé que acabo de acertar na quina da cama. Tem coisa pior do que bater a droga do dedo na quina de alguma coisa?

Ah sim, estar atrasado. E é exatamente o que estou. Atrasado, de novo.

Ainda xingando de dor, confiro pela última vez a bolsa da câmera e dou-me por satisfeito. A bagagem finalmente está pronta. Faltando minutos para sair de casa, mas pronta.

Pego a passagem aérea e o passaporte, colocando ambos na pequena mala de mão que sempre levo comigo nas viagens, e verifico se a carteira e o celular também estão juntos. Não seria a primeira vez que esqueceria de algum deles, então, é bom confirmar. Até porque, estarei a trabalho e não posso me dar ao luxo de sofrer com atrasos ou imprevistos – apesar de já estar atrasado.

Visto um dos meus camisões lisos, escondendo parcialmente as tatuagens em meus braços, arrumo de qualquer jeito os cabelos e agarro a primeira jaqueta que encontro no armário. Penso em colocar as argolas de prata, mas será o inferno ter que tirá-las para a inspeção antes do embarque, por isso decido guardá-las na nécessaire para usar quando chegar a Itália.

Colocando uma das alças do mochilão camuflado no ombro, apanho a bolsa da câmera e a de mão, e arrasto-me para a sala de estar. O táxi não demorará a estacionar na frente do prédio e preciso estar preparado.

— Não vai comer nada? Nem tomar um pouco de café?

— Não, obrigado. Vou comer no aeroporto. — respondo.

— Comida de aeroporto, além de ser cara, é uma porcaria. E talvez não seja uma boa ideia. Você sabe como fica durante viagens.

— Eu sei, mas terei que encarar. — suspiro — Eu deveria ter arrumado as malas ontem.

— Eu falei!

Bufo, contrariado. Ok, admito, estou longe de ser um exemplo de organização. Longe, muito longe. A minha parte do armário é a mais bagunçada, meus tênis vivem jogados pelos cantos da casa e é quase uma marca registrada minha deixar para arrumar as malas sempre em cima da hora.

A única coisa que se salva é o estúdio. Tão limpo e organizado que muitos duvidavam ser meu. Às vezes, até eu mesmo.

— O Yoan vai te buscar quando chegar?

— Acho que sim. Para ser sincero, não conversamos sobre isso.

— Típico de vocês dois.

— Bom, o importante é que no final tudo dá certo, né?! — dou de ombros, soltando uma risada anasalada — Pelo menos, na medida do possível.

Apalpando o bolso do jeans para conferir se o iPod está acessível, ponho-me de pé quando o interfone toca. Com certeza é o porteiro anunciando o táxi. Pego novamente a bagagem e me preparo para descer. Tenho pouco mais de uma hora para chegar ao aeroporto há tempo de passar por toda a burocracia do check-in e, enfim, comer alguma coisa. Encarar um voo de quase 12h e depender somente da comida servida a bordo não está nos meus planos.

— Estou de saída. — digo, ajeitando a alça do mochilão no ombro.

— Faça uma boa viagem.

— Obrigado.

Dou-lhe um caloroso beijo nos lábios, deixando que nossas línguas brinquem um pouco antes de serem obrigadas a se separarem.

— Mande mensagens, ok?! Principalmente se rolar alguma novidade.

À TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora