YANNA
A noite posterior ao memorial de Bryan foi mais tranquila do que eu imaginava. Tranquila no sentido de que não fiquei rolando de um lado para o outro na cama, ainda que tenha derrubado mais algumas lágrimas depois que Natham voltou para o próprio quarto. No entanto, ao invés de tristeza, o que senti ao chorar antes de pegar no sono foi algo parecido com alivio. Não sei explicar ao certo.
Acho que ser sincera em relação aos meus sentimentos e finalmente permitir que o passado fique em seu devido lugar, amenizou o arrependimento que guardava e mostrou que, independentemente do que for, Bryan sempre estará comigo.
Eu nunca irei apaga-lo ou esquecê-lo. Ele viverá sempre em meu coração.
Pegamos a estrada de volta para Nova Iorque após o café da manhã. Eu consegui comer mais do que no dia anterior e Nam ficou contente ao perceber isso. Meu humor também aumentou um pouco, embora aquela sensação de desânimo ainda esteja presente. Não é como se eu fosse melhorar de uma hora para a outra, né?
Daniel ligou avisando que iria para Portland essa tarde, uma vez que ficou preso em uma reunião ontem, e eu até poderia ficar para o esperar. No entanto, acredito que já tive emoções demais por um dia. Sem contar que prometi a mim mesma e ao Nam que só viria esporadicamente. Não deixarei de o visitar, até porque não seria certo, mas não o farei com os sentimentos tristes de antes.
Com a cabeça encostada no banco, tamborilando os dedos na coxa enquanto uma música qualquer toca baixinho no MP3 do carro, penso em Christopher e Elliot. Estou com tanta saudade deles. Tanta que mal cabe em mim. Eu não deveria ter ficado esses dias sem entrar em contato com eles, à não ser para mandar aquela mensagem avisando que iria viajar e outra um pouco antes de sair de Portland dizendo que estou retornando. Ouvir suas vozes e saber que poderia contar com eles provavelmente teria me deixado mais tranquila.
Eu ainda tenho que reaprender muitas coisas no que se refere a relacionamento e uma delas é me permitir apoiar em meus companheiros quando precisar.
Não são nem onze da manhã quando chegamos ao condomínio em que moro em Soho. Viro para apanhar minha mala no banco de trás, porém, Natham é mais rápido e salta do carro antes que eu possa detê-lo.
— Está roubando minha bagagem por acaso? – brinco, seguindo-o.
— E eu tenho cara de quem quer roubar alguma coisa sua? – debocha.
— Então pode devolver?
— Eu vou levar lá para cima.
Sorrio. Seu lado gentil nunca muda.
— Não precisa, Nam. Obrigada. – insisto – Eu consigo levar sozinha.
— Só estou tentando ser educado, ok?
Ele não vai desisti até eu dizer que sim.
— Sei, sei. – reviro os olhos e sorrio – Tudo bem, senhor educação, pode levar a minha mala. Como recompensa, vou dar uma dose daquele conhaque que eu comprei e ainda não abri. Sinta-se honrado de ser o primeiro, hein?
— Opa! Isso sim que é recompensa. Levo até seis malas, se você quiser.
Dou um tapinha em seu ombro.
— Não tinha a necessidade de levar nem essa, mas, como eu sou uma boa amiga, não vou chutar você e ainda darei um aperitivo de bônus.
— Ser educado tem suas vantagens.
Caminhamos juntos e cumprimentamos o zelador, que lança um olhar esquisito para nós, e que eu ignoro; entramos no elevador, um ao lado do outro.
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À Três
RomanceO amor tem várias faces, vários jeitos, várias interpretações. O coração não faz distinções, não escolhe entre o que é certo ou errado, assim como às vezes não se limita a querer apenas uma pessoa. Mas será que é realmente possível gostar de mais de...