Capítulo 03

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ELLIOT


Se tem algo que eu adoro fazer além de dançar, com certeza é viajar junto com a companhia. Há cinco anos como integrante e um dos bailarinos principais da Bright Contemporary Ballet Company, uma das mais famosas e prestigiadas de Nova Iorque e com renome em vários outros países, já conheci diversos lugares ao redor do mundo e tenho o desejo de visitar muitos outros, e nesse momento desfruto da oportunidade de estar em solo alemão.

A companhia desembarcou em Munique para duas apresentações em um festival de dança que acontecerá na cidade. Mais especificamente no Teatro Nacional. Como disse o guia no dia em que chegamos, a casa da Ópera e do Balé do Estado da Baviera, um símbolo importantíssimo e que carrega uma história de extensas produções significativas e diversas estreias mundiais.

Acho que é um dos lugares mais significativos que já estivemos.

Com a ajuda de Vince, um dos meus parceiros de espetáculo e melhor amigo desde a época de colégio, faço o alongamento antes do início do ensaio enquanto observo cada parte do imenso teatro. Todos estão maravilhados com a beleza e suntuosidade desse lugar, e eu sou uma parte nesse todo.

Já performei em espaços incríveis, mas esse está acima da média, com certeza.

— Você vai distender um músculo se não prestar atenção do que está fazendo, idiota. — Vince reclama, largando as minhas mãos — Quer acabar com a apresentação?

— Eu estou prestando atenção, coisa azucrinante. — retruco e estendo um dos braços até o ombro dele, sentado à minha frente — E não vou acabar com apresentação nenhuma, pode ficar tranquilo. À não ser que essa sua boca praguenta faça o trabalho.

— Está querendo dizer que eu sou agourento?

— Você é a personificação do pé frio, Vi. Preciso lembrar o que aconteceu há dois anos atrás?

— De novo com esse assunto? — revira os olhos — Eu não tive culpa se você resolveu bancar o equilibrista enquanto estava bêbado e torceu o tornozelo quando caiu daquela mureta. Eu só avisei.

— Exatamente! Foi essa sua boca grande que mandou más vibrações e fez com que eu caísse. Óbvio que a culpa foi sua.

— Vai se ferrar!

Eu sei que culpa não foi totalmente sua, porém, eu gosto de implicar com o meu amigo. É engraçado e ele não me ajuda nenhum pouco a parar.

Levantamos e nos juntamos aos demais integrantes que terminam os alongamentos. Bernard, coreógrafo da companhia e que até então observava a preparação de nós bailarinos, bate palmas para chamar atenção e pede que todos formem um círculo ao seu redor à fim de passar as instruções.

Com elenco de 13 bailarinos, o espetáculo se desdobra entre composições coletivas, duos e solos. Nelas, cada integrante apresentará os seus movimentos e caminhos próprios, até integrar-se ao coletivo. Eu, por ser um dos principais e ter idealizado metade da coreografia, abrirei a apresentação e puxarei os outros bailarinos, dando abertura para as demais cenas.

Durante breves minutos, continuamos ouvindo atentamente as instruções, bem como discutindo a marcação de cada um ao longo do espetáculo, até Bernard pedir para ficarmos a postos e indicar que eu tome o meu lugar.

Posiciono-me no centro do palco, respiro fundo e espero pela música. Uma melodia suave começa a tocar e eu, com cada detalhe da coreografia nítido em mente, ponho-me a dançar. Concentrado nos passos que realizo, tento me mover com graça e elegância como pede o personagem, e manter meu corpo envolto por leveza. Mas não dá cinco segundos e estou imerso na dança.

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