Capítulo 16

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CHRISTOPHER


Embora eu não tenha um trabalho fixo, os dias em que pego freelancer para fazer são extenuantes da mesma maneira, especialmente quando invento de pegar vários serviços ao mesmo tempo. O que é uma burrice, com certeza.

Estou há duas semanas fotografando sem parar. Saio as seis da manhã e só volto para casa à noite. Eu amo o meu trabalho e não o trocaria por nada, mas, reconheço, as vezes é impossível não ficar de saco cheio. E é exatamente assim que me encontro hoje, cansado e de saco cheio, sem cabeça para coisa nenhuma.

O que por um lado é bom, pois dessa forma não dou margem para que pensamentos indevidos circulem a minha mente.

Pensamentos não, uma certa pessoa.

Faz praticamente um mês que retornei de Veneza e aquela mulher de ainda insiste em tirar o meu sossego. Estou levando a minha vida como habitualmente faria. Feliz por estar em casa, na minha rotina e de volta para a pessoa que amo. Mas, inevitavelmente, pego-me divagando entre as recordações daquela semana como se estivesse impregnada em mim, rodando igual a um filme.

Os lábios, os intensos olhos verdes e aquele maldito cabelo cor de rosa...

O sexo magnífico que fizemos diante do Grand Canale ou até mesmo a maneira como ela massageou meus pulsos quando percebeu que eu estava enjoado na porcaria da gôndola. Cada pequeno detalhe ronda meus sonhos e traz a sensação estranha que experimentei enquanto estive com ela. Tão forte, que às vezes tenho receio de que Yoan tenha acertado ao dizer que aconteceu igual a quatro anos atrás. Aquela súbita faísca que me trouxe onde estou agora.

No entanto, nada mudou. Quero dizer, em relação a pessoa com quem estou prestes a casar. O que torna tudo ainda mais estranho. Como eu poderia estar atraído por uma pessoa, sendo que continuo amando outra?

Peso na consciência? Considerando que eu fui um canalha de não ter ido ao seu encontro como combinamos, creio que sim. Por qual outra razão seria?

Desejo sexual não é tão forte assim, convenhamos.

Por esse motivo, eu prefiro não pensar. Enquanto tudo estiver bem e a certeza continuar no meu coração, não irei me preocupar com isso. Da mesma forma que eu pude deixa-la em Veneza, vou eventualmente deixa-la para trás em minhas memórias, assim como todas as outras mulheres com quem transei.

Irei piamente acreditar que sim.

É uma atitude um tanto ridícula? Claro que é.

Mas não tenho muito o que fazer além disso.

De todos os trabalhos que peguei, para a minha sorte, o de hoje é o mais fácil. Trata-se de um ensaio em estúdio fechado, o que é ótimo já que o dia está meio nublado e não estou com o meu melhor humor para lidar com as adversidades.

No final de semana, fiz uma sessão de fotos de casamento. Estava chovendo e foi um inferno fazer as imagens externas, mas conseguimos. Meu assistente e eu passamos, nada mais nada menos, do que sete horas no local da festa. E na outra semana foi uma sessão para um catálogo de moda, que levou o dia inteiro. Se eu estou acabado? Considero uma pergunta retórica de tão óbvia.

Com o roteiro da sessão em mãos e os equipamentos adequadamente organizados sobre a mesa, vou compondo o ambiente conforme a proposta que criamos. Como o tema é sensualidade, o cenário consiste em cores sóbrias e iluminação a meia luz, simbolizando algo apaixonante, envolvente e uma necessidade de proximidade, onde os modelos estarão unidos.

À TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora