YANNA
Afoita como em poucas vezes estive na vida, cruzo apressadamente a Ponte dell' Accademia, sobre o Grand Canale, de mãos dadas com Christopher.
Apesar de estarmos andando a alguns minutos, claramente perdidos, nenhum de nós dá importância para isso. É como se a demora fizesse parte das preliminares, o que torna tudo ainda mais excitante.
Sinto a palma dele quente contra a minha e uma inusitada expectativa tomar conta de mim. Depois de tantos encontros casuais ao longo dos últimos anos, é estranho voltar a ter esse tipo de sensação. O que, se por um lado me apavora, por outro também. Afinal, sensações como essa não deveriam fazer parte do meu repertorio, especialmente quando o cara em questão é um fotografo, o que por si só já foi um grande problema desde o começo.
Mas, indo contra todos os sinais de alerta dentro da minha cabeça, tal sensação vibra forte em meu interior e cresce a cada segundo em que tomo consciência de nossas mãos unidas com tanta familiaridade e aconchego, do desejo descontrolado que parece amarrar-nos um ao outro.
Com o que me resta de bom senso, tento impor a mim mesma que não passa de tesão, da atração impetuosa e poderosa que curaremos somente quando estivermos nus e ofegantes na cama do quarto de hotel – e depois de boas horas também. Assim que tudo terminar e nós dois conseguirmos o que queremos, cada qual tomará o seu rumo e nunca mais ouviremos falar um do outro, não seremos mais do que uma aventura casual em nossas memórias. Para mim, no caso, memorias que serão escritas para milhares num futuro não tão distante.
Pensar dessa forma é o que me impulsiona a seguir em frente com a loucura na qual me meti ao abrir uma exceção para esse moreno maravilhoso e que, com seus olhos castanhos e sorriso galanteador, promete fazer cada uma das minhas incertezas valer muito a pena.
Como diz a minha mãe: "se está na chuva, é para se molhar".
Então que eu termine encharcada.
Presa em meio as minhas divagações, sobressalto ao ser empurrada repentinamente contra uma parede de tijolos. Levanto a cabeça e sequer tenho tempo de assimilar o que acontece, pois Christopher me beija sem prévio aviso, levando não somente as divagações de antes como qualquer outra habilidade cerebral que não envolva apreciar sua boca deliciosa colada na minha.
Estamos em uma viela pouco movimentada, o que contribuí para que ninguém interrompa. Se eu pensava ser a única ansiosa, esse beijo me faz entender que os hormônios dele também se encontram a flor da pele.
Ele é excitantemente descarado e delicioso, mas também divertido e sensual demais para o seu próprio bem. Como raios eu poderia não abrir uma exceção?
— Eu sei que prometi mostrar a foto, mas, sendo sincero, acho que não estou em condições de esperar até chegarmos no meu hotel, Sweetie. – confessa ele, afundando o rosto no vão do meu pescoço e mordendo de leve a pele sensível da região – Seu pescoço é tão cheiroso, baby.
— Eu pensei que a foto era uma desculpa para me tirar do bar. Ela realmente existe? – sussurro de volta, apreciando o belo trabalho que seus lábios fazem.
Meu corpo treme com os toques e a respiração dele, o desejo é palpável em cada gesto.
— Até pode ter sido, mas eu realmente quero mostrá-la a você. Só que não é a minha prioridade agora, pode ter certeza. E sim, ela existe.
A mão dele vaga entre os fios rosados do meu cabelo e segura-os com certa posse, de maneira que me deixa louca e sei que cobiçou desde que nos vimos pela primeira vez na praça. Com o rosto rente ao dele, noto como seus olhos castanhos parecem mais escuros, beirando a ferocidade.
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À Três
RomanceO amor tem várias faces, vários jeitos, várias interpretações. O coração não faz distinções, não escolhe entre o que é certo ou errado, assim como às vezes não se limita a querer apenas uma pessoa. Mas será que é realmente possível gostar de mais de...