Capítulo 20

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ELLIOT

Eu nunca reclamei do meu trabalho e menos ainda de ter que viajar por causa dele. Mas tinha que ter um momento mais inoportuno para uma apresentação fora do país do que naquele momento?

Esperei mais de duas semanas para receber sua ligação e, quando finalmente a recebi, foi prestes a embarcar para Paris. Não é uma droga?

Se bem que foi melhor assim. Afinal, mesmo estando ocupado com os ensaios, eu ficaria verdadeiramente tentado a escapar para o seu apartamento caso tivesse ligado antes. E eu realmente não queria ter que escolher entre o meu trabalho e ela, até porque não seria uma escolha justa, pois, claramente eu preferiria o meu trabalho (ainda que eu a deseje muito, lutei demais para chegar onde cheguei e não vou abrir mão disso).

E aqui estou eu, dentro de um bar na Champs-Élysées com Vince, mas querendo que o dia de amanhã chegue o mais rápido possível para que possamos finalmente voltar para Nova Iorque e então eu ir de encontro a mulher que está em meus pensamentos mais forte do que nunca.

Quem em sã consciência quer ir embora da Champs-Élysées quando tem a oportunidade de curti-la? Bem, aparentemente, eu sou essa pessoa. Mas não é como se fosse a minha primeira vez visitando esse lugar, de qualquer forma.

O bartender serve mais uma dose de tequila, que eu viro assim que toca o balcão. Meu amigo está conversando com uma morena do outro lado enquanto minhas únicas companheiras são a bebida e as fantasias do que pretendo fazer com Poliana. Para ser sincero, eu até que tinha uma "companhia", uma loira. Mas, pela primeira vez em anos, rejeitei uma transa casual só porque quero voltar logo (e sozinho) para o quarto. Mas quem disse que Vince Bennett quer cooperar com isso?

Faz mais de uma hora que fui largado as traças nessa banqueta do bar para que ele pudesse jogar charme para a tal morena, e nem ele consegue uma foda e nem eu ir para o hotel. Estamos ambos num impasse.

Às vezes ele olha para mim, acho que para conferir se ainda não fui embora, mas então vira o rosto e continua conversando. Eu realmente deveria ter ido, porém, estou pateticamente esperando por ele.

Mas Vince ainda me paga, com certeza.

Olho impaciente para o relógio em meu pulso. São praticamente duas da manhã. Se ele não avançar em dez minutos, vou pegá-lo pelo colarinho e arrastar para fora daqui. Se a morena não tem coragem de dispensa-lo, vou lhe fazer esse favor.

Estendo a mão para outra bebida e sou prontamente atendido. Peço uma long neck só para dar um pouco mais de tempo ao meu amigo e debruço no balcão dando o primeiro gole. De soslaio, observo-os trocar sorrisos e toques, e sou incapaz de não suspirar irritado. A garota está claramente o enrolando, como ele não consegue perceber? Vince não é um cara que busca desesperadamente por uma mulher, porque isso não lhe falta a qualquer minuto que quiser. Então porque raios esse idiota está insistindo tanto?

A não ser que...

Porra!

Dou um gole largo na cerveja e deixo a garrafa quase cheia no balcão. Como eu não percebi antes? Acho que fiquei tão absorto em pensamentos e no ódio gratuito que estava nutrindo por seu comportamento, que nem me dei ao trabalho. Droga, agora quem provavelmente vai se arrepender sou eu.

Do jeito mais natural que consigo, chego perto dos dois e toco o ombro do meu amigo, que não poupa um olhar emputecido para mim. Silenciosamente admito a minha falta e começo a falar:

— Cara, não acredito que é você!

— Oh, há quanto tempo.

Seguimos com o nosso teatrinho, até a morena dar meia volta e sair andando. É um péssimo jeito de rejeitar alguém, mas as vezes temos que aderir a saídas desonestas e grotescas como essa.

À TrêsOnde histórias criam vida. Descubra agora