Capítulo 38

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YANNA


A paisagem corre através da janela do carro de Natham. A brisa da manhã sopra contra o meu rosto como tantas outras vezes já ocorreu, meus cabelos se emaranham no encosto do banco e posso sentir o cheiro da estrada. Esse caminho me é tão familiar e nostálgico, apesar das nítidas mudanças que sofreu ao longo do último ano. Tudo parece da exata maneira que foi há anos atrás.

Quase tudo.

Porque, como eu disse, as coisas mudaram e jamais voltarão a ser as mesmas.

Com a cabeça recostada no estofado, respiro fundo e observo os prédios dando lugar as árvores e meus pensamentos voam longe. Mais longe do que já estão.

Faz uma semana desde que sai do apartamento de Christopher e Elliot daquela maneira e eu só tive coragem de enviar uma mensagem para ambos dizendo que estaria viajando nos próximos dias, mas que iria explicar tudo quando voltasse.

Não contei a eles que iria com Natham, essa é uma parte que decidi omitir por enquanto, pois, teria que dar explicações demais em um momento em que não estava em condições de fazê-lo. De qualquer modo, ele será um detalhe na conversa que teremos futuramente e do qual não poderei desviar. Não só pelo o que ele representa, mas também por ser uma parte importante em minha vida.

Durante a semana que passou, fiquei em casa organizando os preparativos da viagem e refletindo sobre o que vem acontecendo nos últimos meses. Eu estou feliz, mas não plenamente. E no fundo sabia disso, só não queria enxergar. Mais do que admitir os meus sentimentos por Elliot e Christopher, ainda há algo que preciso fazer, mesmo que me doa muito. Porém, que começou a acontecer antes que eu me desse conta disso. A vida tratou de dar início por si só.

— Vamos fazer o check-in no hotel primeiro e depois vamos para lá. Okay?

Nam sugere e eu apenas balanço a cabeça. Não quero falar. Sei que está fazendo isso para puxar assunto, já que mal abri a boca desde que saímos de Nova Iorque, mas eu realmente não quero. Tenho certeza de que se o fizer, não serei capaz de deter o nó de emoções que sinto na garganta. Deter absolutamente nada.

Novamente, ele respeita o meu silêncio e continua guiando pela estrada. Estamos cada vez mais perto de Portland e meu coração parece que vai parar a qualquer momento. Meu passado se aproxima mais e mais, ainda que nos últimos meses tenha parecido tão distante. Uma vaga lembrança ruim.

Lembrança...

Quando foi que se tornou apenas uma lembrança?

Talvez esse aperto em meu peito seja exatamente por essa razão. Embora eu insistisse em fugir tantas e tantas vezes, ainda queria e teimava manter vivo. Mas à medida que o tempo foi passando e os novos sentimentos aflorando, ficou para trás e eu sequer percebi, até o dia em que Natham me enviou aquela mensagem e tudo veio à tona. 

Senti-me culpada. Sinto-me culpada.

Especialmente na noite em que entreguei meu corpo e minha alma aos dois homens que agora amo e as recordações vieram para lembrar que estou sendo cruel em mantê-lo cravado em mim quando tudo o que devo fazer é deixa-lo ir.

Desde aquele dia, finalmente, eu compreendi que é o certo.

Após um pouco mais de cinco horas na estrada, vejo a placa indicando que acabamos de entrar em Portland. Natham dirige por mais alguns quilômetros e atravessamos a ponte sobre o Willamette River, indo em direção ao centro, mais especificamente para o hotel onde ficaremos hospedados essa noite. O Sol da manhã está forte e os feixes de luz refletidos na água são lindos, apesar dos pesares. Em épocas passadas, eu adorava ver o pôr do Sol daqui.

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