Capítulo 45

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CHRISTOPHER


Encaro meu reflexo no espelho, como se fazer tal coisa fosse espantar o frio que sinto na barriga. Mas obviamente que não funciona. Pois, enfrentar a mim mesmo nem se compara com o que terei que lidar quando estiver frente a frente com os meus pais.

Sim, eu sei que concordei em ter essa conversa, só que faltando apenas uma hora para acontecer, a ideia de desistir e deixar por isso mesmo parece muito promissora.

Se eu estou com medo? Acho que essa não é bem a palavra. Talvez esteja mais para ansiedade. Afinal de contas, passaram-se praticamente cinco anos desde a última vez em que estive "em casa". Quando liguei na tarde anterior, logo depois de falar com Elliot e Yanna, percebi no tom de voz da minha mãe o quanto estava surpresa com essa reaproximação repentina e ainda mais ao pedir para conversarmos pessoalmente. Não sei se estão acreditando que vou concordar com a tal história do namoro arranjado, mas não é como se eu já não tivesse quebrado expectativas antes.

Na breve troca de palavras que tivemos pelo telefone, descobri que eles voltaram a morar em Hershey a cerca de cinco meses, outra vez por causa do trabalho do meu pai. Não estão na mesma casa em que passei a minha infância, mas é um bairro próximo, o que tornam as lembranças ainda mais vívidas, pois, terei que passar por lá.

Estou indo de encontro a todas elas.

Olho-me pela última vez e respiro fundo repetidamente até me sentir um pouco mais calmo. Não sei se estou pronto, porém, vou enfrentar a situação do jeito que eu puder. Já tive tempo demais para me preparar e a verdade é que uma hora ou outra isso teria que acontecer. Essa é a oportunidade de resolver tudo que eu hesitei tanto em procurar, e que as circunstâncias calharam de trazer "voluntariamente" para mim. E a qual eu não largarei. Não irei mais fugir dessa parte da minha vida, aceitem meus pais ou não, eu sou o que sou e não mudarei para agradar ninguém.

Vestido com uma camiseta básica e bermuda, visto que está fazendo bastante calor, desço para a sala de estar e encontro todos reunidos em torno do sofá. Seus olhares recaem sobre mim e dou-lhes um pequeno sorriso para expressar que está tudo bem, apesar de tudo. A primeira que se aproxima é minha sogra. Abraça-me com seu carinho materno e fico imensamente grato de saber que posso contar com o seu apoio.

Mais do que minha sogra, eu a considero praticamente minha mãe.

— Vai dar tudo certo. — diz, afagando meus cabelos.

— Obrigado.

Yanna é a próxima. Abrigo-a em meus braços e a beijo apaixonadamente. Nos abraçamos forte e roço o nariz em seus cabelos recém lavados, aspirando o cheiro.

— Não precisa ir se não quiser.

— Eu quero ir, Sweet. Já está mais do que na hora de termos essa conversa.

Ela ergue o queixo e foca seus olhões verdes de menina em mim. Me derreto por eles, apesar de notar que está temerosa. Beijo-a de novo e, com os lábios ainda por cima dos meus, Yanna aperta o tecido da minha camiseta e fala com mais segurança:

— Como a nossa sogra disse, tudo ficará bem.

Meneio a cabeça concordando. Ainda que eu não esteja muito confiante, vou apostar que sim. Assim que nos afastamos, minha atenção vai para o centro da sala. Elliot continua ali, mas não se move. Somente me observa e percebo que estremece quando dou o primeiro passo. Em questão de segundos, estamos frente a frente.

Nossa troca de olhares é significativa. Desde ontem, Elliot está agindo de maneira estranha. Na verdade, de uns meses para cá seu comportamento mudou bastante, embora ele mesmo não repare ou admita isso. Tal como me conhece, eu também o conheço. Quatro anos de convivência se refletem no tanto que sabemos um do outro. E é exatamente por essa razão que eu sei que ele está escondendo algo de nós.

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