Capítulo 25

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YANNA


Vislumbro novamente o homem deitado ao meu lado na cama e sopro desinteressada a fumaça do cigarro para o alto, virando o rosto em direção a enorme janela do hotel. Através do vidro, tenho uma vista privilegiada para o mar límpido e azul, mas nem mesmo essa paisagem incrível é capaz de levantar o meu ânimo, que esses dias está rastejando no chão.

A Nova Zelândia já foi um dos meus lugares favoritos, só que agora parece tão sem graça, tão cinza, apesar do Sol estar reduzindo esplendidamente no céu mesmo a essa hora da manhã. Ou será que sou eu que estou assim?
Reprimi por tanto tempo os meus próprios sentimentos, que não sei mais identifica-los. Essa foi a maneira que encontrei para suportar, só não imaginava que voltar a sentir fosse mais doloroso e intenso quanto antes.

Nem um pouco disposta a lidar com a “etiqueta pós-sexo”, termino o cigarro e levanto devagar para não acordar meu acompanhante da noite passada. Começo a recolher as peças espalhadas pelo chão e sigo para o banheiro equilibrando-as nos braços. Tenho que ser rápida ou não vou escapar daqui antes que ele acorde.

Já vestida, mesmo com as roupas amassadas, abro a torneira e lavo o rosto para espantar o sono. Amarro os cabelos de qualquer jeito e encaro o meu reflexo por um instante. A tintura cor de rosa desbotou quase por completo e só restou uma sombra de raiz clara e fios descoloridos, beirando o tom natural.

Sorrio pesadamente ao lembrar do que Elliot comentou no dia em que nos conhecemos em Munique. Talvez eu seja mesmo como a Ninfadora Tonks. Meus cabelos estão cada vez mais sem cor porque estou cada vez mais triste.

Deixando os pensamentos de lado, volto para o quarto e pego uma caneta dentro da bolsa. Escrevo rapidamente um recado num post it e ponho-o ao lado do telefone junto com duas notas de cem dólares. É o suficiente para pagar minha parte da noite. Observo pela última vez o homem com quem transei, arrumo a alça da bolsa no ombro e saio do quarto. Esse encontro se encerra aqui.

Logo que coloco os pés para fora do hotel, sou agraciada com os raios da manhã em meu rosto. Instantaneamente sinto-me melhor. Respiro fundo absorvendo o ar marítimo e sinto o calor gostoso do Sol. Por alguns segundos, permaneço parada na entrada apenas aproveitando. A paisagem cinza vai dando lugar a colorida que sempre adorei em Wellington e meu humor se eleva um pouco.

Parando para refletir agora, foi uma péssima ideia transar com um desconhecido enquanto o meu coração e a minha mente continuam sobrecarregados com Elliot e Christopher. Não sei no que raios estava pensando quando aceitei.

Procuro os óculos escuros na bolsa e ajeito-o no rosto. Decidida a fazer o meu dia valer a pena, algo que não me dei ao trabalho desde que cheguei há três dias, encho o peito de determinação e caminho para o hotel onde estou hospedada.

Depois do que aconteceu, larguei o meu "emprego" na cafeteria e comprei a primeira passagem de avião que achei dando sopa no site de viagens, que calhou de ser para a Nova Zelândia. A ideia era simples: me afastar de possíveis embates e remoer os sentimentos que descobri sozinha e em paz.

O que foi uma verdadeira idiotice por dois motivos: primeiro, eles sabem onde é o meu apartamento. Não é como se eu não fosse vê-los outra vez, então as possibilidades de novos embates ainda existem. E apesar de haver a opção de mudar, não vale o esforço. Sem contar que é um verdadeiro saco encontrar um lugar em Soho que não custe uma fortuna (não que isso seja realmente um problema); segundo: seja em casa ou em qualquer outro lugar do mundo, ruminar esses sentimentos foi tudo o que me sobrou.

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