YANNA
Vislumbro novamente o homem deitado ao meu lado na cama e sopro desinteressada a fumaça do cigarro para o alto, virando o rosto em direção a enorme janela do hotel. Através do vidro, tenho uma vista privilegiada para o mar límpido e azul, mas nem mesmo essa paisagem incrível é capaz de levantar o meu ânimo, que esses dias está rastejando no chão.A Nova Zelândia já foi um dos meus lugares favoritos, só que agora parece tão sem graça, tão cinza, apesar do Sol estar reduzindo esplendidamente no céu mesmo a essa hora da manhã. Ou será que sou eu que estou assim?
Reprimi por tanto tempo os meus próprios sentimentos, que não sei mais identifica-los. Essa foi a maneira que encontrei para suportar, só não imaginava que voltar a sentir fosse mais doloroso e intenso quanto antes.
Nem um pouco disposta a lidar com a “etiqueta pós-sexo”, termino o cigarro e levanto devagar para não acordar meu acompanhante da noite passada. Começo a recolher as peças espalhadas pelo chão e sigo para o banheiro equilibrando-as nos braços. Tenho que ser rápida ou não vou escapar daqui antes que ele acorde.Já vestida, mesmo com as roupas amassadas, abro a torneira e lavo o rosto para espantar o sono. Amarro os cabelos de qualquer jeito e encaro o meu reflexo por um instante. A tintura cor de rosa desbotou quase por completo e só restou uma sombra de raiz clara e fios descoloridos, beirando o tom natural.
Sorrio pesadamente ao lembrar do que Elliot comentou no dia em que nos conhecemos em Munique. Talvez eu seja mesmo como a Ninfadora Tonks. Meus cabelos estão cada vez mais sem cor porque estou cada vez mais triste.
Deixando os pensamentos de lado, volto para o quarto e pego uma caneta dentro da bolsa. Escrevo rapidamente um recado num post it e ponho-o ao lado do telefone junto com duas notas de cem dólares. É o suficiente para pagar minha parte da noite. Observo pela última vez o homem com quem transei, arrumo a alça da bolsa no ombro e saio do quarto. Esse encontro se encerra aqui.
Logo que coloco os pés para fora do hotel, sou agraciada com os raios da manhã em meu rosto. Instantaneamente sinto-me melhor. Respiro fundo absorvendo o ar marítimo e sinto o calor gostoso do Sol. Por alguns segundos, permaneço parada na entrada apenas aproveitando. A paisagem cinza vai dando lugar a colorida que sempre adorei em Wellington e meu humor se eleva um pouco.
Parando para refletir agora, foi uma péssima ideia transar com um desconhecido enquanto o meu coração e a minha mente continuam sobrecarregados com Elliot e Christopher. Não sei no que raios estava pensando quando aceitei.
Procuro os óculos escuros na bolsa e ajeito-o no rosto. Decidida a fazer o meu dia valer a pena, algo que não me dei ao trabalho desde que cheguei há três dias, encho o peito de determinação e caminho para o hotel onde estou hospedada.
Depois do que aconteceu, larguei o meu "emprego" na cafeteria e comprei a primeira passagem de avião que achei dando sopa no site de viagens, que calhou de ser para a Nova Zelândia. A ideia era simples: me afastar de possíveis embates e remoer os sentimentos que descobri sozinha e em paz.
O que foi uma verdadeira idiotice por dois motivos: primeiro, eles sabem onde é o meu apartamento. Não é como se eu não fosse vê-los outra vez, então as possibilidades de novos embates ainda existem. E apesar de haver a opção de mudar, não vale o esforço. Sem contar que é um verdadeiro saco encontrar um lugar em Soho que não custe uma fortuna (não que isso seja realmente um problema); segundo: seja em casa ou em qualquer outro lugar do mundo, ruminar esses sentimentos foi tudo o que me sobrou.
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À Três
RomanceO amor tem várias faces, vários jeitos, várias interpretações. O coração não faz distinções, não escolhe entre o que é certo ou errado, assim como às vezes não se limita a querer apenas uma pessoa. Mas será que é realmente possível gostar de mais de...