YANNA
No salão de embarque do Aeroporto Marco Polo, aguardo o anuncio do meu voo enquanto respondo alguns tuítes dos fãs na página oficial da editora. Eu adoro interagir com os leitores e sempre o faço quando tenho a oportunidade.
É engraçado e também gratificante ler tantas mensagens.
No entanto, há outra razão por trás da minha tentativa de distração nesse momento. Eu não quero pensar em Christopher, ainda que, irremediavelmente, o moreno de espírito livre e olhar sensual esteja enraizado na minha cabeça.
Ele partiu há quase um dia, já era tempo o suficiente para tê-lo superado. Só que não aconteceu. Cada beijo, cada toque, cada gemido. Minha mente está repleta de lembranças dos últimos dias e, como se não bastasse isso, ouvir uma playlist com várias músicas do Avenged Sevenfold não ajuda em nada.
Eu até usei um dos meus sprays coloridos para mudar os cabelos de rosa para lilás com o propósito de, se porventura acontecesse de esbarrarmos no aeroporto, Christopher não seja capaz de me reconhecer. Contudo, continuo inconscientemente (ou nem tanto assim) procurando a figura familiar dele pelos arredores. Pode ser mais contraditório? Melhor, o quão patético isso pode ser?
Quis acreditar que era tudo por causa do sentimento de culpa que me assolava, pois disse que iria encontra-lo e não apareci. Imaginar que ele ficou à minha espera até o último segundo, como prometeu aquele dia, me incomodou.
Minha força de vontade fraquejou tantas vezes enquanto andava de um lado para o outro dentro do quarto. Cheguei até mesmo a calçar os tênis para sair, mas pensei melhor e desisti ao considerar o que sentiria por vê-lo ir embora. Saber era uma coisa, ver era outra completamente diferente.
Eu não precisava de mais daquilo. Não mesmo.
Então obriguei-me a permanecer enfurnada no hotel, trabalhando. Havia a possibilidade de ele mesmo não ter aparecido, no final das contas. Mas isso é algo que jamais saberei. Essa é uma dúvida (uma entre tantas) que precisarei conviver pelo resto da vida. O que não será necessariamente difícil.
Não é como se eu já não convivesse com coisas demais.
Guardando o celular no bolso do casaco, pego a mochila assim que anunciam do voo pelos alto-falantes, e encaminho para o portão de embarque. Reprimo a vontade de olhar em volta uma última vez enquanto caminho e faço o mesmo ao atravessar o corredor para dentro do avião.
Veneza deve ficar, assim como a aventura que vivi nela.
Através da janelinha ao lado de seu assento, observo a pista ficar cada vez mais distante conforme o avião decola. Subindo e subindo. A pista, o aeroporto, a cidade... Tudo fica pequeno e distante. Tudo fica para trás.
A viagem até Munique dura cerca de uma hora. O pouso no Aeroporto de Munch - Franz Josef Strauss é tranquilo e o desembarque também; dou uma boa olhada no prédio e seu imenso teto de vidro, e então caminho para a saída. Não é a primeira vez que visito a cidade, pois já estive na capital da região da Baviera há dois anos, para um congresso de literatura.
Em minha estadia, conheci diversos pontos turísticos e prometi a mim mesma que voltaria um dia. Logo, resolvo que passar algum tempo em Munique não é uma má ideia. Afinal, é a oportunidade de cumprir com a promessa que fiz e também uma excelente distração para os pensamentos inoportunos que estão me aborrecendo.
Com a mochila nas costas, percorro o enorme saguão até chegar a linha de trem S-Bahn. Por sorte a estação não está cheia, o que me possibilita sentar em uma das cadeiras e esperar. Pelo que lembro, os trens costumam sair com intervalos de dez em dez minutos, porém, apesar de não ser muito tempo, estar acordada desde as cinco da manhã não está facilitando.
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À Três
RomanceO amor tem várias faces, vários jeitos, várias interpretações. O coração não faz distinções, não escolhe entre o que é certo ou errado, assim como às vezes não se limita a querer apenas uma pessoa. Mas será que é realmente possível gostar de mais de...