CHRISTOPHER
Termino de revisar o projeto que entregarei para o Yoan na galeria essa tarde e anexo algumas das fotografias que possivelmente farão parte da exposição antes de imprimir tudo e então organizar as folhas dentro de uma pasta. Foram dias e também algumas noites trabalhando nisso, mas finalmente está pronto e no prazo estipulado.
Eu estou realmente empolgado com essa oportunidade.
Mesmo que ainda não seja algo concreto, uma vez que precisa passar pela aprovação de outras pessoas além do meu amigo, tenho um bom pressentimento em relação a isso.
Estico os braços para alongar os músculos depois de tanto tempo sentado e recosto na cadeira para relaxar um pouco que seja. Essas últimas semanas foram complicadas, não só pelo trabalho, mas também pelo o que aconteceu entre Elliot e eu. O clima continua meio pesado. Admito que em parte por minha culpa, porém, não é como se não fosse nada. Ele mentiu, disse para todos que éramos só amigos e sequer mencionou a Yanna, como se ela não fizesse parte desse relacionamento tanto quanto nós dois.
Na verdade, ele negou completamente a nossa relação durante anos, logo, não tinha como eu simplesmente deixar passar. Fiquei muito magoado.
E por essa razão, preferi me afastar para refletir sobre o assunto. Eu não o destratei (seria um babaca se o fizesse) e ajudei com o que pude durante os dias em que não conseguia se locomover sozinho. No entanto, a distância era mais do que nítida, para os três.
Yanna, desde que nosso namorado saiu do hospital, tem ficado aqui no apartamento. Ela vem assistindo passivamente a esse confronto ridículo, e sei o quanto isso a afeta.
Afeta a todos nós.
Em meio às madrugadas que virei para acabar o projeto, ela veio conversar comigo quando também estava sem sono ou despertava nas vezes em que eu entrava sorrateiramente no quarto para ver os dois, já que eu tinha migrado para dormir no sofá.
Reconheço que fiquei um pouco irritado com o seu posicionamento em relação ao que Elliot fez, porém, ela tratou de explicar seu ponto de vista e abrir os meus olhos para o que estava bem a minha frente. O que eu teimosamente não queria enxergar.
Nunca fui um cara orgulhoso ou que dá importância para o que não merece, mas a realidade é que passei dos limites ao levar o ressentimento longe demais.
Elliot não fez por mal ou por vergonha. Ele estava com medo. Medo de que sua forma diferente de amar pudesse interferir mais uma vez no grande sonho de sua vida e a única maneira que encontrou para proteger a si mesmo foi mentindo.
E eu não posso o julgar.
Nós dois sofremos com o preconceito e tivemos jeitos distintos de lidar com isso. Portanto, manter essa mágoa é uma grande bobagem. Eu o amo e é meu dever compreendê-lo, seja em seus acertos ou erros, tal como ele e Yanna me compreendem.
Por essa razão, eu decidi que terminarei com esse impasse hoje.
E ainda o surpreenderei com a ajuda de uma certa bruxinha de cabelos coloridos.
Olho para o relógio no canto da tela e percebo que preciso sair em alguns minutos se pretendo chegar a tempo na galeria e não atrasar para buscar Yanna na editora. Após horas trancado no estúdio, saio e vou tomar um banho rápido para despertar. O que não dura mais do que dez minutos. Visto uma calça cargo escura e uma camiseta branca larga, mostrando a maioria das minhas tatuagens nos braços. E coloco as botas. Confortável e despojado, do jeito que eu gosto.
Munido com a carteira e o celular, além da chave do carro, sigo em direção a sala e vejo Eli fazendo algo no balcão da cozinha. Nós nos entreolhamos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
À Três
RomansaO amor tem várias faces, vários jeitos, várias interpretações. O coração não faz distinções, não escolhe entre o que é certo ou errado, assim como às vezes não se limita a querer apenas uma pessoa. Mas será que é realmente possível gostar de mais de...