43. Ele foi um erro

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— Você tem certeza de que é isso que você quer, Kihyun?

— Ele foi um erro, Minhyuk.

— Não, não foi. Você sabe que não, pare de tentar colocar isso na sua cabeça só porque é o que aquele cara pensa.

— Aquele cara é o meu pai, a pessoa que até então tem maior autoridade sobre mim, se ele diz que Changkyun foi um erro, então ele foi.

— Eu não gosto quando você pensa assim, deixar seu pai invadir sua cabeça é a pior coisa que você pode fazer.

— Você não tem que gostar de nada.

— Tudo bem.

— Me desculpa, eu não queria falar assim com você, eu só estou um pouco estressado e cansado.

— Eu entendo, não precisa se desculpar — ele acariciou meu cabelo e deu um beijo em minha testa — Vamos entrar?

— Ainda não estou preparado para ver Changkyun.

— Vai ficar tudo bem. — eu assenti e nós entramos na escola, assim que chegamos em nossa sala, avistei Changkyun os outros meninos, respirei fundo e me sentei na cadeira perto da porta, o mais longe possível deles e Minhyuk se sentou atrás de mim. Senti o olhar dos outros três sobre mim, mas tentei ignorar o máximo possível.

Changkyun se levantou e tentou se aproximar, mas Minhyuk se levantou e o impediu.

— Changkyun, agora não, ele precisa de um tempo.

— Eu só preciso saber como ele está, eu quero cuidar dele, eu... — ele disse e eu escutava a conversa com o olhar fixo em minha mesa.

— Ele vai ficar bem, mas ele precisa de espaço agora.

— Por quanto tempo?

— Um bom tempo. Nós já conversamos sobre isso, espere a poeira abaixar, espere o aniversário dele.

— Eu não posso ficar longe por tanto tempo, ele precisa de mim.

— A única coisa que ele precisa agora é que as coisas não piorem. — olhei para Changkyun e nosso olhares se encontravam e os olhos dele marejavam, o que fez meu coração apertar.

— Por favor. — Changkyun pediu para mim enquanto me encarava, mas eu apenas desviei o olhar para minha mesa e pude ver pelo canto dos olhos, ele se afastar.

Eu expliquei tudo o que aconteceu de forma detalhada para Minhyuk e fiquei a maior parte da manhã em silêncio, até mesmo durante o intervalo, apenas encarando minha mesa enquanto sentia o olhar de Changkyun sobre mim, estar na mesma sala que ele e ter que ignora-lo, era torturante.

— Yoo Kihyun está sendo chamado na sala do diretor. — um dos inspetores disse ao entrar na sala, logo depois do intervalo. Eu me levantei e o segui, pensando durante todo o caminho em qualquer coisa errada que eu poderia ter feito. Meu pai estressado comigo por algo que fiz na escola era a última coisa que eu precisava naquele momento, eu nem queria imaginar o que aconteceria comigo se ele resolvesse me bater novamente. Dei duas batidas na porta e assim que minha entrada foi permitida, a abri e entrei, a fechando logo depois.

— Bom dia.

— Bom dia, pode se sentar. — o diretor disse ao retirar seus óculos e assim eu fiz — Yoo Kihyun, certo? — eu assenti.

— E-Eu fiz algo de errado?

— Não, Kihyun. Eu chamei você aqui para conversar.

— Sobre o que?

— Eu não sei se você sabe, mas nós aqui temos o dever de denunciar qualquer sinal de abuso ou violência. Os professores têm percebido que vez ou outra você aparece com alguns ematomas ou machucados e... hoje você apareceu assim. Abuso de menor é crime, Kihyun. Eu sei que você pode ter medo de denunciar, mas nós aqui estamos dispostos a te ajudar. — eu senti meu coração apertar, eu não sabia o que fazer ou dizer. Meu pai era uma das únicas coisas que eu tinha, apesar de seu jeito grosso e bruto, ele mostrava gostar de mim às vezes, eu sabia que ele me amava e apenas queria me educar. Claro, eu tinha noção de que o que ele fazia era errado e na maior parte das vezes, eu mesmo não aguentava mais. Talvez aquela fosse a minha única chance certa de acabar com tudo, mas eu fui pego de surpresa, não sabia o que fazer, não sabia se realmente queria acabar com aquilo, eu estava desesperado.

— Não será necessário, mas muito obrigada por tentarem me ajudar.

— Kihyun, isso é um assunto sério, vai ficar tudo bem, apenas nos conte o que aconteceu e nós vamos te ajudar a resolver, você é a vítima aqui.

— Não aconteceu nada.

— Então você pode nos explicar o seu estado atual?

— Eu fui espancado, mas... não foi pelo meu pai, ele não tem nada a ver com isso.

— Então quem te bateu, Kihyun? Por quê?

— Homofobia. Eu sequer conheço os agressores. — ele apenas suspirou e me encarou.

— Eu sinto muito.

— Não precisa, eu vou ficar bem.

— Mas e o ematomas?

— Eu faço luta, sou iniciante, então é normal que eu me machuque bastante.

— Você não está mentindo, está?

— Eu não tenho motivos para mentir.

— Tudo bem, pode voltar para a sala. — eu logo me levantei.

— Obrigado por tentar me ajudar mesmo assim, desculpe por preocupar vocês e tenha um bom dia.

— Está tudo bem, pode me procurar quando necessário, tenha um bom dia, Kihyun. — eu me retirei da sala do diretor e voltei para a sala de aula, me sentei em meu lugar e logo percebi Minhyuk se aproximar mais.

— O que aconteceu? — ele sussurrou.

— Não era nada demais, haviam alguns documentos em falta, meu pai deve ter esquecido. — eu o respondi no mesmo tom.

A Bad Life [Changki; 2won]Onde histórias criam vida. Descubra agora