50. Eu vou embora

427 71 67
                                    

"Eu nem sei o porquê de estar te escrevendo isso, sei que você provavelmente não sente mais nada por mim e já deve ter achado que eu desisti de você e te esqueci, mas isso não é verdade. Eu nunca vou desistir de você Kihyun, não por opção, até porque eu já tentei, mas eu não consigo. Eu te amo e sempre vou amar e insistir em você, porque eu sei que você também me ama, mesmo que diga que não e fale que o que tivemos nunca foi real, eu sei que não é verdade. Eu nunca vou desistir de você, Kihyun."

Eu já havia lido a carta inúmeras vezes, sequer percebia o tempo passar, ainda não acreditava naquilo. Na minha cabeça, Changkyun já tinha me esquecido, já havia seguido em frente, saber que ele ainda gostava de mim, era uma surpresa.

Assim que deu meu horário de ir embora, praticamente corri até a saída e suspirei aliviado ao ver que meu carro já esperava, entrei no mesmo e fiquei o caminho inteiro pensando no que faria, minha cabeça estava uma bagunça, eu não conseguia pensar ou decidir absolutamente nada.

Não demorou para que eu chegasse em casa, já que não tinha trânsito. Assim que eu entrei, encontrei meu pai sentado no sofá e suspirei.

— Boa tarde. — eu desejei e ele me deu uma rápida olhada antes votar sua atenção para o celular.

— Cadê os exercícios que eu mandei você fazer? Eu disse que os queria até hoje.

— Eu deixei na mesa do senhor hoje de manhã.

— Me avise da próxima vez. — ele ordenou em um tom rude e eu assenti.

— Sim senhor. — eu disse antes de subir as escadas.

Entrei no meu quarto, coloquei a mochila sobre a cama e me dirigi até o banheiro, tirei minha roupa devagar, deixando apenas a roupa íntima. Olhei para o espelho e observei meu reflexo, analisei cada cicatriz presente em meu corpo, eu nunca havia feito aquilo, já que preferia ignora-las, elas faziam com que eu sentisse raiva do meu pai e eu não gostava de sentir isso. Eu comecei a chorar, mas continuei observando cada cicatriz e hematoma presente alí, meu olhar parou sobre uma cicatriz me específica em minha cintura, essa que eu ganhei quando meu pai me viu com Changkyun. Eu percebi aquela cicatriz algumas semanas depois de tudo acontecer, era pequena, mas me causava um estrago enorme, já que toda vez que eu a olhava, sentia saudades, tristeza, arrependimento, todo o tipo de sentimento ruim. Naquele momento eu não me importava, eu queria sentir tudo aquilo, eu precisava.

Eu tomei banho e enrolei a toalha na cintura assim que terminei de me secar, voltei para o quarto e andei até o guarda-roupas, o encarei por um bom tempo, até decidir o que vestiria, eu estava na dúvida entre um pijama e outro tipo de roupa. Olhei para a mochila atrás de mim e me lembrei do origame, voltei o olhar para o armário e peguei uma cueca, uma calça preta que usei da última vez que me encontrei com Changkyun, a vesti e depois fiz o mesmo com uma de minhas blusas mais largas, uma cinza e simples. Penteei meu cabelo e depois o baguncei ainda molhado. Comecei a procurar uma das minhas malas pelo quarto e assim que achei, a coloquei em cima da cama, a abri e comecei a colocar tudo o que eu achava necessário dentro dela. Quando terminei, fechei a mala e coloquei todos os livros e materiais que eu gostava dentro da minha mochila. Peguei o origame e li a carta novamente, fechei os olhos, respirei fundo e pensei no que eu estaria prestes a fazer. Eu sabia que aquilo não teria volta, sabia que aquela decisão precipitada causaria uma grande mudança na minha vida, e assim que parei para pensar um pouco, percebi que era exatamente isso que eu queria.

Coloquei a mochila nas costas, ela estava muito pesada, mas aquele era o menor dos meus problemas. Peguei a mala e saí do quarto, desci as escadas devagar e assim que cheguei ao primeiro andar, meu pai me olhou e arqueou uma de suas sobrancelhas ao se levantar.

— Que roupa é essa, Kihyun? Por que está carregando uma mala?

— Eu vou embora. — eu falei sem o olhar, em um tom baixo, mas o suficiente para que ele me escutasse.

— Você só pode estar ficando maluco. — ele disse e se aproximou de mim com passou rápidos e pesados, segurou meu braço com força, encravando suas unhas em minha pele, e começou a tentar me puxar para a direção da escada, mas pela primeira vez, eu resisti — O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO, KIHYUN? — ele gritou quando puxei meu braço com toda a força que eu tinha, sentindo minha pele ser rasgada por suas unhas médias e praticamente corri para longe dele, na direção da porta.

— Eu disse que vou embora.

— Você não vai a lugar algum. — ele começou a se aproximar de novo.

— Se você encostar em mim, eu te denuncio. — ele parou de andar e me encarou — Eu só quero ir embora, não quero prejudicar você, mas eu preciso ir e vou fazer o que eu tiver que fazer pra conseguir isso.

— Você está me ameaçando, Kihyun?

— Sim.

— Eu vou acabar com você. — eu o ignorei e abri a porta, meu corpo inteiro tremia — Se você sair dessa casa, não precisa nem voltar aqui, não vai ter mais volta Kihyun, você nunca mais vai olhar na minha cara. — eu fechei os olhos e suspirei.

— É exatamente isso que eu quero.

— Você não vai durar um dia sequer sozinho, você não tem essa capacidade, não se passa de um inútil. — eu não o respondi, apenas sai e fechei a porta. Havia sido bem mais fácil do que eu esperava.

A Bad Life [Changki; 2won]Onde histórias criam vida. Descubra agora