6. Me desculpa

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Esclarecendo uma coisa antes de iniciar o cap: Minha intenção é fazer vocês entenderem o por que Kihyun tem tanto medo do pai dele a ponto de causar o desfecho conhecido atualmente na história de Changki. Não tenho objetivo de romantizar agressão ou algo do tipo (o que está óbvio, mas é importante ressaltar), muito pelo contrário, minha intenção é mostrar o quão absurdo é e fazer com que vocês sintam a raiva que eu sinto do pai do Kihyun, personagem esse que eu criei mas tenho vontade de matar. Boa leitura.

Obs.: Caso alguém tenha pulado o capítulo "importante", estou avisando novamente: colocarei * antes e depois de descrições de agressões físicas, para que pessoas que são sensíveis a esse tipo de coisa e/ou não gostem de ler, pulem.

Esperei que o garoto adormecesse e me sentei na cama, toda a região do meu quadril e minha entrada doíam. Me levantei devagar, peguei minhas roupas no chão e me vesti com dificuldade, evitando fazer qualquer barulho. Olhei para o garoto novamente e sorri, pra ser sincero, eu não queria ir embora naquele momento, eu não me importaria em dormir alí, agarradinho com aquele rapaz que eu sequer conhecia.

Peguei meu celular no bolso da minha calça e pedi um táxi, abri a porta do quarto com a mesma leveza e cuidado em que a fechei após sair, desci as escadas devagar e com dificuldade e logo saí da casa, com o mesmo silêncio em que saí do quarto. O táxi já estava na porta, então eu manquei até o mesmo e me sentei no banco de trás.

— Boa noite. — desejei ao motorista com um sorriso e ele fez o mesmo.

Assim que cheguei em casa, entrei em silêncio, mesmo que não tivesse ninguém lá. Subi direto para o meu quarto e me deitei na cama, peguei meu celular e liguei para Minhyuk, contando a ele tudo o que aconteceu e avisando que cheguei bem em casa. Claro, ele ficou me zoando e pedindo detalhes, que eu não dei. Adormeci minutos depois de desligar a ligação.

~

Acordei com o som alto do despertador, me sentei na cama e peguei meu celular, desliguei o despertador e me retirei do quarto logo depois. Desci as escadas e assim que cheguei ao primeiro andar, dei um sorriso largo ao ver meu pai sentado no sofá. Eu senti falta dele, era raro ficar tanto tempo sem vê-lo e fiquei feliz por ele ter voltado tão rápido.

— Pai? O senhor já chegou? Pensei que fosse chegar am... — parei de falar assim que vi uma expressão séria em seu rosto, o sentimento de medo tomou conta de mim. Eu já sabia que havia feito algo de errado. — Está tudo bem, papai?

— Quantas vezes eu tenho que mandar você parar de me chamar assim? — abaixei o olhar

— Me desculpa.

— Sabe que horas são?

— Nove horas? — ele olhou para o relógio em seu pulso e depois para mim

— Oito e meia.

— O senhor disse que eu poderia acordar um pouco mais tarde aos domingos e ter a tarde livre.

— Você se lembra porque eu disse isso? — eu mordi o lábio inferior, na intenção de conter minhas lágrimas, já que eu já havia entendido qual era o problema. — Me responde! — ele se levantou e alterou o tom de voz.

— P-Por que eu gabaritei os testes finais do curso de literatura. — eu apertava as mangas do meu moletom e evitava o olhar

*
— E por que eu deixei você pintar seu cabelo com essa cor ridícula? — ele puxou meu cabelo com força, me jogando no chão.

— Me desculpa — eu já não conseguia mais conter minhas lágrimas

— Me responde! — ele encravou as unhas nos meus braços com tanta força, que eu senti elas, mesmo vestindo um moletom grosso. Ele me levantou pelo braço, pegou um papel que estava em cima da mesa de centro e o esfregou em meu rosto — Eu deixei você pintar o cabelo assim porque você tirou notas máximas no curso de matemática por um período inteiro, você lembra? — eu chorava e acariciava meu braços, como se aquilo fizesse a dor que eu sentia neles, passar. — Agora você me vem com essa nota patética?

— Eu estudei muito, estava muito difícil, eu não consegui.

— Não estudou o suficiente! — ele praticamente gritou

— Eu fiz tudo o que eu pude! — o respondi no mesmo tom, sem pensar antes. Arregalei os olhos assim que percebi que havia gritado com ele e senti seu punho no meu rosto segundos depois.

— EU NÃO DEDIQUEI MINHA VIDA A ESSA EMPRESA PRA MORRER E DEIXAR ELA COM ALGUÉM BURRO E INÚTIL COMO VOCÊ. — ele gritou e eu chorava, já no aguardo de outro soco, tapa, chute ou algo do tipo, e assim eu recebi: dois tapas fortes, um no rosto e outro no braço, me desequilibrei e tropecei em algo, caindo no chão novamente.

— E-Eu ainda estou na média, ainda sou o melhor aluno da classe.

— Média? Melhor aluno? As pessoas são péssimas, Kihyun. — "inclusive você" pensei e logo depois me condenei por pensar algo assim. — Você não tem que se preocupar em ficar na média ou ser melhor do que os outros, você tem que ser excelente e ponto. Você não pode se comparar aos outros, ser melhor do que lixo não é nada, só prova cada vez mais que você também é um. — sem dúvida alguma, a dor física que ele me causava, não era nada comparada às dores emocionais que eu sentia quando ele me humilhava com suas palavras. Ele começou a tirar o cinto e eu gelei.

— Não, por favor, o cinto não. — me encolhi e comecei a tremer, de medo. De todas as coisas, o que mais me assustava, era sem dúvida alguma, o cinto. Da última vez que meu pai utilizou cinto, eu pensei que fosse morrer de tanta dor.

— É, não mesmo. Tenho uma ideia melhor. — após escutar essas frases, o sentimento de alívio e desespero lutavam por espaço dentro mim.

Meu pai se abaixou e agarrou meus fios novamente, me arrastando pela sala até às escadas, consegui me levantar e subi as escadas com ele, enquanto sentia como se minha cabeça fosse rasgar por causa da dor que eu sentia em ter meu cabelo sendo puxado daquele jeito, eu segurava o braço dele, em uma tentativa falha de amenizar a força com que ele puxava meus fios.
*

Assim que chegamos ao segundo andar, meu pai adentrou o quarto dele e me levou até o banheiro, abriu o armário e pegou um frasco de tinta, que ele usava para pintar seus fios brancos que apareciam vez ou outra. Soltou meu cabelo e toda a região da minha cabeça doía, ele me puxou pela nuca e derramou toda a tinta preta em meus fios rosados, rosa esse que eu tanto amava, que eu passei dias sem dormir para estudar e ter a permissão de adquirir. Ele esfregou a tinta por todo o meu cabelo e eu já não mais lutava contra, apenas chorava e deixava que ele espalhasse sem se importar com o fato de manchar minhas orelhas, testa e nuca. Assim que ele terminou, me pegou pelo braço, manchando meu moletom favorito com a tinta preta em suas mãos e me jogou para fora do quarto, ato esse que fez com que eu caisse no chão novamente, deu um último olhar de desprezo antes de fechar a porta e me deixar alí.

Me levantei e andei até o meu quarto, entrei no mesmo e corri até o banheiro. Observei meu reflexo no espelho e chorei descontroladamente, tirei toda a minha roupa e entrei no chuveiro, lavei meu cabelo uma, duas, três, quatro vezes, até sentir que o mesmo já estava ficando absurdamente seco, na esperança inútil de tirar toda a tinta e manter a coloração anterior. Desliguei o chuveiro e me sentei no chão, abracei minhas pernas e deitei minha cabeça em meus joelhos, chorando. Eu sentia raiva, culpa, medo e tristeza, todos os sentimentos misturados, esmagando meu peito. Eu fiquei tanto tempo naquela posição, que quando resolvi me levantar, minhas pernas já doíam e meu cabelo estava praticamente seco, eu sentia frio por causa do tempo em que fiquei nú no chão úmido. Me levantei, fui até meu armário, peguei um moletom limpo e o vesti, evitei me olhar no espelho e deitei em minha cama. Senti um gosto de sangue me minha boca e deduzi que fosse de algum machucado causado pelo choque dos meus lábios com o meu dente quando o punho do meu pai encontrou com a minha boca, aquela região doía tanto quanto minha cabeça e meus braços.

A Bad Life [Changki; 2won]Onde histórias criam vida. Descubra agora