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Mariany

Ele me fez usar aquele short ridículo, havia algo que o fazia ter tanto orgulho das marcas que deixou em mim, que me fazia ter vontade de dar um soco na cara dele. Mas a sensação de suas mãos, daquela corda em meu pescoço, sempre me fazia pensar duas vezes.

Segui calada, enquanto ele dirigia, e entrou em uma garagem de um prédio muito alto e aparentemente, muito caro.

— Pegue o tablet no porta-luvas. — Ele apontou para mim.

Abri, e peguei o aparelho com cuidado, nunca havia pego um nas mãos. Tive medo de quebrar, e desencadear uma fúria repentina nele.

Ele saiu do carro, deu a volta para abrir minha porta, e sorriu me estendendo a mão. — Veja só... Já aprendeu alguma coisa. — Ele tirou sarro de mim. — Mas isso em sua mão é um eletrônico, não um bebê. Não aja como uma caipira desprovida de tecnologia.

— Mas só de olhar já dá para ver que é caro.

— E daí? Você tem dinheiro?

— Não! Por isso mesmo.

— Não olhe para as coisas vendo uma etiqueta de preço Mariany, pense que logo, você terá tudo o que quiser, e de fontes diferentes.

Assenti para ele, e ele me conduziu até o elevador no saguão vazio.

— As pessoas vão chamar a polícia para você se me virem assim.

Ele deu de ombros. — Ninguém ousaria.

Encarei-o — Você é tão fodão assim?

Ele riu. — Vou te dar um dicionário de sinônimos, você insiste nessa linguagem chula. Parece que não aprendeu que isso me tira do sério.

— Muitas coisas tiram você do sério. — falei ironicamente, ainda abraçada ao tablet.

Saímos do elevador para um corredor iluminado, com o piso tão brilhante que eu conseguia ver até as marcas em minhas pernas refletidas ali. Ele me conduziu até uma porta, a abriu e me empurrou levemente para dentro.

Um apartamento todo branco, com um sofá de couro, uma grande tela na parede e uma cozinha separada por um balcão de pedra amarelada.

— Você mora aqui? — falei abobada, olhando para tudo.

— Não. Mas uso esse lugar vez ou outra. Algumas clientes são reservadas, não querem correr o risco de serem vistas acompanhadas e prejudicarem seus casamentos. E para ser sincero, tenho certo problema com motéis.

Coloquei o tablet sobre a mesa e andei pelo ambiente, luxuoso demais para meu gosto. — Então você também trabalha?

Ele suspirou — Mais do que eu gostaria.

— Hum... E por que me trouxe aqui?

— Quero te explicar umas coisas, e se depois dessa conversa, você achar que não quer arriscar, então levo você para sua casa daqui mesmo.

Assenti, esperando ele continuar.

— Primeiro, não tenho a intenção de tocar em você, embora isso seja necessário. Vou deixar a seu critério quando o momento chegar.

— Mas vai me bater?

— É necessário. — Ele falou sem me olhar, e por um momento, achei que havia pesar em sua voz.

Soltei os braços ao longo do corpo — Mas que porra!

Ele me lançou um olhar de advertência. E me calei.

— Você viu o que houve hoje? Quando desfilei com você toda marcada pela agência?

Assenti. — Aquele velho quase salivou, me olhando. — Estremeci de nojo.

— Exatamente! E depois de ele ver aquilo, me deu carta branca. Significa que posso cuidar de você como eu quiser. Ainda tenho relatórios sobre você para preparar, mas acredito que ele não vá mais se meter.

— E por que me trouxe para cá?

— Por isso. — Ele apontou para o tablet sobre a mesa. — Quero que estude todos os vídeos, na ordem em que estão.

— Então basicamente vai me fazer ficar vendo pornô o dia todo? Vou ter aulas teóricas?

Ele quase riu — Sim e não. Algumas coisas aí levam tempo, não tenho tempo disponível para tentativa e erro. Em outras palavras, é como tirar habilitação, você aprende a passar no teste, mas não a dirigir de verdade.

— O que é esse teste afinal?

— Antes, era um conjunto de requisitos que eram avaliados em vídeo... — Fiz uma cara de que não estava entendendo nada e ele recomeçou — Os treinadores mostravam do que suas garotas eram capazes, e isso englobava tudo, todas as técnicas. Mas agora... As coisas mudaram, e isso não é uma boa notícia para você.

— Por que não?

— Porque o teste agora é chamado de dia da vingança. Danny, vai me mandar o vídeo do teste que avaliei, e sinceramente, no ritmo em que estamos, você não vai passar.

— O que acontece com quem não passa? — Ofeguei com a possibilidade.

— Depende do grau que se atinge. São designados a serviços inferiores, ou descartados.

Engoli em seco — Isso é tão cruel... As pessoas passam um mês passando por tudo isso, e depois são simplesmente descartadas?

— Sim. Eu assisti a muitos casos. — Ele respirou fundo — Mas não vou deixar que aconteça com você. Tenho uma carta na manga. Se a quiser, depois de ver isso.

— Não entendo... Você... Eu não sei o que você quer de verdade, parece ser muitas pessoas em uma só, estou confusa.

Ele chegou até mim, segurou minhas mãos delicadamente, e me levou até o sofá.

— Não posso te dar muitos detalhes sobre meu trabalho Mariany. Mas eu te garanto, que te machucar, não é algo que eu faça por prazer. Sobre ser várias pessoas, em uma... Também vai aprender que é necessário.

— Por que comprou roupas para mim?

— Porque vou ter que te marcar durante nosso mês, e seria bem pior se você estivesse nua.

Baixei os olhos — Você faz isso com todas? Quer dizer, você faz esse teatro...

Ele riu — Não mesmo!

— Então...

— Já te disse... Você não é, nem vai ser uma das minhas. Eu reconheço isso, mas vejo o quanto é determinada, e quer realmente trabalhar. Vou te ensinar o quanto eu puder, e será um belo produto Mariany.

— Mas no dia do teste...

Ele balançou a cabeça — Não se preocupe com o teste. Não ainda.

Baixei a cabeça pensando.

— Tenho que decidir agora?

Ele sorriu. — Não, assista aos vídeos primeiro. — Ele se levantou para pegar o tablet, e colocou-o em minhas mãos. — As pastas estão numeradas. Não trapaceie! Assista na ordem. Estou falando sério.

Olhei para ele receosa, não tinha ideia do que esperar. — O que são?

— Minhas garotas. — Ele clicou em uma pasta, e todos os quadradinhos na tela tinham cenas horripilantes. — Antigamente, gravávamos o treinamento. Hoje, conseguimos que parassem com isso, somente os testes são gravados. Alguns são usados como divulgação.

— Elas ainda trabalham lá?

— Algumas sim. Outras se casaram, algumas saíram do país. — Ele se levantou do sofá — Leve o tempo que quiser. Vou sair, mas volto logo. Meu número está na tela inicial, ligue se precisar. Tem comida na geladeira se sentir fome. — Ele se afastou, indo para a porta. — Não abra a porta para ninguém, se a diarista chegar, dispense-a.

Assenti — Mike — chamei, e ele olhou para trás — Por que eu?

Ele pareceu pensar por um momento — Chame de instinto se quiser. Assista.


AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora