47 O melhor de mim

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Mike

Nosso filho nasceu dia dois de maio, com cinquenta e sete centímetros, e pesando quase quatro quilos. Acompanhei a cesariana ao lado dela, limpando suas lágrimas, e segurando as minhas próprias.

Ouvir o primeiro choro dele naquela sala pareceu fechar o buraco permanente em meu peito. Aquele que o Wes deixara. Pela primeira vez depois de meses, eu sorri, sorri com tudo de mim, de verdade, e completamente. As enfermeiras o limparam, embrulharam-no em uma manta, e uma delas o entregou a mim. Segurei-o desajeitado, e coloquei-o próximo ao rosto de Mariany

Conferi seus dedinhos, o rostinho, seu corpinho pequeno e frágil. Um serzinho lindo, que tanto fez Mariany sofrer, e que agora estava ali, diante de nós.

— Olha só a cara dele — Sorri feito bobo — Ele é perfeito... Tão perfeito...

Ela sorriu chorando — E parece com você Mike.

— Não parece não, não parece ninguém ainda. — Brinquei, e ela sorriu beijando-o. Vi seus olhos brilhando para ele, lhe dei um beijinho. Mas antes do que eu gostaria, a enfermeira voltou para pegá-lo. Entreguei-o com dor no coração. Acompanhei cada passo dela até ele ser levado, e fiquei com Mariany.

— Você está bem? — sussurrei para ela.

Ela riu — Estou... Estou morta da cintura para baixo, mas estou ótima. — Ela sorriu ainda mais — Vai lá dar uma olhada vai.

— Nem fodendo, se nem para seu braço cheio de agulhas eu estou olhando. — Ela riu, e lhe dei um beijo na testa — Vai ser bom ter você só para mim de novo.

Ela revirou os olhos — Bem se vê que você não entende nada de bebês.

— Não mesmo. — Sorri, e me abaixei para sussurrar em seu ouvido. — Mas entendo de você. E sei que é muito boa em dar atenção a mais de um homem.

Ela cerrou os olhos para mim, e se ela pudesse, me daria um tapa.

Eu ri, e fui convidado a me retirar da sala para eles terminarem de fechar Mariany. Não gostei, mas precisava ver para onde tinham levado nosso molequinho.

****

Saímos do hospital dois dias depois, mais perdidos que cego em tiroteio com tantas recomendações. Mas na medida do possível, estávamos indo bem. A mãe dela ficou com a gente nas duas semanas seguintes. E apesar de eu detestar, ela foi de grande ajuda.

Eu estava me preparando para uma criança infernal que não pararia de chorar, que não nos deixaria dormir, e que nossa vida viraria um pandemônio. Mas ele era quieto, acordava duas vezes durante a noite para mamar, e só. Até mesmo os pediatras concordaram que ele era uma criança extremamente "boazinha".

***

Fiz questão de ajudá-la em tudo, e quando eu chegava do trabalho, ela podia relaxar, tomar banho, dormir tranquila. Esse era nosso combinado, pelo menos até ele crescer um pouquinho. Já fazia quatro meses, mas eu ainda não conseguia me acostumar.

Me sentei no tapete em frente ao berço, olhando para ele dormindo após eu trocar suas fraldas.

— Mike... — Ela sussurrou da porta. — O que está fazendo aí? São quase duas da manhã. — Ela riu.

Fiz sinal para que ela entrasse. Ela parou ao meu lado em pé, olhando para dentro do berço, e puxei seu braço para ela se sentar ao meu lado.

— Ah Mike... — Ela reclamou — Não vou conseguir levantar daqui. — Ela resmungou baixinho.

Eu ri — Eu levanto você depois. — Passei o braço por suas costas — Olha como ele dorme...

Ela encostou sua cabeça em meu ombro. — Como um anjo... E nem de dia ele dá trabalho...

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora