7 O Peso

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Mike

Parei o carro na garagem de meu prédio e arrastei os pés até a recepção. Wes sorriu para mim, mas não tive vontade de retribuir.

— Sua avó pediu para que eu o avisasse que ela passará o fim de semana em Caieiras.

Suspirei — Já disse a ela que eu poderia ir buscá-la. Parece que ela gosta de me tirar do sério.

Ele sorriu e se aproximou. — Você parece cansado. Com o que trabalha mesmo?

Pensei em não responder, mas a inocência dele me despertava uma vontade de brincar.

— Gestão de pessoal. — respondi tentando não rir.

— E... É muito difícil? Quer dizer, é um trabalho...

Me virei para ele. — É complicado. Às vezes parece que tenho que espancar um por dia.

Ele riu. — Sei como é, antes de trabalhar aqui, eu fui estoquista, e não havia um dia em que eu não sentisse como se tivesse levado uma surra. A portaria é uma benção.

Dei tapinhas em seus ombros — Que bom para você amigo. Não deixe sua benção escapar. Esse tipo de coisa não acontece muito.

Ele pareceu confuso.

Mas encerrei a conversa por ali. Entrei no elevador e subi de olhos fechados até meu andar.

Entrei, e me joguei no sofá, checando o celular, as quase trinta mensagens. Ignorei a maioria. Mas a do Alexandre me questionando de o porquê, de eu já ter ido para casa, me irritou profundamente.

Digitei brevemente "Tinha assuntos a resolver"

Joguei o celular de lado, e ele me ligou segundos depois.

— Pediu mais horas com a garota, mas deixa seu posto no meio da tarde?

— Vou compensar amanhã. Agora pare de me encher o saco. Desde quando te dei algum problema com minhas garotas?

— Mike...

— Ou me deixa trabalhar como quero, ou largo toda essa merda!

— Desculpe, só estou te achando distante ultimamente.

— Não se preocupe. Seus lucros não cairão por muito tempo.

— Tudo bem...

Desliguei na cara dele. E me estiquei no sofá. Liguei a TV apenas para ouvir murmúrios de vozes, não estava interessado em assistir nada, mas desejei apenas o som de algo preenchendo o vazio daquele apartamento.

Acabei dormindo por uma hora, acordei próximo às cinco da tarde, e resolvi ligar para minha avó.

Ela atendeu no segundo toque.

— Mike. Eu estou bem, pare de me vigiar, sou uma velha vacinada e livre.

Eu ri — Eu sei , e o Wes me deu seu recado. Mas posso ir buscá-la, estou de folga hoje. Isso é tão raro, queria que estivesse em casa.

— Você está bem, amor? Conheço sua voz, está chateado.

— Estou bem, só queria sua companhia hoje.

— Pode falar querido. Problemas no trabalho?

— Não. O trabalho vai bem. É só que... Bem, deixa pra lá. Divirta-se . E não faça nada que eu não faria.

Ela gargalhou. — Estou ciente do que você não faria, seu grande sem vergonha.

Ri também. — Até mais .

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora