22 Noite de folga

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Mike

Na manhã seguinte, acordei com a luz do sol invadindo as cortinas do quarto dela. A porta estava aberta, e me espreguicei antes de seguir o cheiro delicioso de bolo de milho saindo do forno. Tive que verificar se não estava sonhando, porque acordar em um quarto, e com cheiro de comida, era novidade para mim, há pelo menos um ano.

— Bom dia, querido. — Ela colocou o bolo sobre uma tábua na mesa, colorida com frutas e variedades de sucos. — Sei que precisa ir. Mas quero que tome café da manhã antes.

Olhei desconfiado para ela. Mas entrei em mais aquele jogo. — Bom dia K. Eu tenho mesmo que ir embora.

— Tome seu café primeiro. — Ela sorriu.

Sentei-me diante daquele banquete, e me servi de um pedaço de bolo quente. Deslizei um pouco de manteiga sobre a fatia, vendo-a derreter. Meus olhos quase brilharam com a cena. Por quê? Por que ela se dava ao trabalho de cuidar de mim? Por que depois de duas míseras noites?

Ela se sentou ao meu lado, sorrindo e me observando. Sua mão direita pousou delicadamente sobre minha coxa, e olhei para ela.

— Seu pagamento está no bolso do seu casaco.

Olhei para trás, onde eu o havia pendurado na noite anterior.

— Eu não...

Ela me calou com um beijo. — Seu tempo é valioso. E sei reconhecer que o que fizemos ontem, foi seu trabalho mais difícil. — Ela sorriu na minha orelha — Você pode... Adorar me comer, mas sei que odeia responder perguntas.

Baixei os olhos. — Tem razão. Eu realmente odeio. Mas de alguma forma bem esquisita, você consegue tirar tudo de mim.

— Devo ficar lisonjeada? — Ela brincou.

— Talvez. Mas isso me coloca em uma posição difícil. — Ponderei.

Ela me estudou por um momento. — Não entendi.

Fechei a cara, usei de minha máscara mais fria — Dê meu contado a sua irmã! Eu realmente preciso trabalhar.

— Posso pagar por nós duas. — Ela rebateu.

— Não trabalho dessa forma. Vou encontra-la. E vou estar sempre disponível. Não só para você... — falei rispidamente.

— Mas...

Levantei-me, dei um beijo em sua testa. — Não banque a maluca possessiva K. Isso nunca acaba bem.

— Mike...

Me virei. Peguei meu casaco e saí, indo até meu carro.

Enfiei a mão no bolso, e só de passar os olhos pelos bolos de notas, dessa vez de cem, vi que tinham quase dois mil reais.

Calculei mentalmente minha dívida após os trabalhos, e arranquei com o carro.

Parei na primeira banca que encontrei, e coloquei crédito no celular.

Com os dedos trêmulos, fui até meus contatos e liguei para Ge.

Fechei os olhos enquanto os toques lentos pareciam acelerar meu coração. E ele finalmente atendeu.

— Ge!

— Mike, eu sei, estou atrasado, mas minhas equipes saíram hoje. Pode ficar tranquilo.

— Não, não, você não entendeu, eu quero cancelar o trabalho. — falei aflito.

Ele ficou mudo. — Ah cara...

— Ge, por favor, pela nossa velha amizade, vou te recompensar, mas cancela essa porra, por favor.

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