10 Perdendo o controle

11.5K 1K 287
                                    

Mike

— Até que vídeo assistiu? — perguntei enquanto levava a louça de volta para a cozinha.

— Sexta aula — Ela falou baixo, com os olhos fixos nas mãos.

Voltei para a mesa encarando-a — E o que achou?

— Horrível...

— No entanto, aqui está você. — Sorri.

Ela engoliu seco. — Estou.

Ofereci minha mão a ela, para que ela ficasse em pé. — Venha.

Ela tremeu, mas segurou firme minha mão para não cair.

Passei o braço por sua cintura, mantendo-a presa a mim.

— Olhe para mim, não para baixo, para mim. — Mandei. E seus olhos ficaram fixos nos meus. — Coloque os braços ao redor do meu pescoço. — Ela obedeceu. — Me acompanhe.

Dei dois passos para trás, e ela cambaleou, apertei ainda mais minhas mãos em sua cintura. — Não olhe para baixo. — repeti sussurrando.

Mais dois passos para trás e ela acompanhou. — Direita. — Mais dois passos, e mais dois para trás. Ela sorriu, e continuei, até bater as costas na bancada da cozinha. — Parece que ficamos sem espaço. Que tal voltar sozinha?

Ela sorriu, e a virei de costas para mim. — Não vou te deixar cair. Ande. — sussurrei em seu ouvido.

Ela ajeitou os ombros e começou a andar, deu três passos até que eu soltasse sua cintura para admirar seu caminhar ainda vacilante, mas imensamente melhor que anteriormente.

Ela se virou quando chegou ao sofá e sorriu animada.

— Agora volte aqui. — chamei.

Ela caminhou ainda melhor, e parou a minha frente. — Ainda acha que sou uma pata choca?

Sorri. — Arrancaria os olhos de quem ousasse dizer isso de você. — brinquei.

Ela apoiou uma das mãos em meu ombro, acompanhei o movimento, e segurei sua outra mão antes que me alcançasse, e começasse a se inclinar para mim. Ela arregalou os olhos, e apertei delicadamente sua mão na minha, olhando para baixo.

— Isso... Mariany, não vai acontecer.

— Por que não Mike? Cedo ou tarde, nesse treinamento louco, você vai ter que...

Nem mesmo percebi minha respiração se acelerando.

Segurei seu rosto. — Por favor, Mariany...

Ela sorriu, acariciando meu rosto. E ofeguei. — Sabe Mike, eu tinha um namorado... Ficamos juntos por três anos, e... —Voltei meus olhos para ela. — Ele fazia coisas muito piores do que você já fez comigo. E ao contrário de você, ele gostava disso. — Ela sorriu — E ele também não alternava de príncipe a monstro... O monstro estava lá todo o tempo.

Senti meu interior ferver — Por que ficou com ele? — falei baixo.

— Porque durante esses três anos, ele era a nossa fonte de alimento. Minha mãe era faxineira na casa dele, ganhava cerca de cem reais por semana, mas me obrigava a estudar... — Ela fez uma pausa. — Sempre me disse que se eu fosse doutora, nossa vida mudaria. Gui foi meu primeiro, e transei com ele em troca de uma cesta básica. Ele gostou tanto, que passou a me recompensar sempre com comida, algumas vezes pagava a conta de luz de minha casa... Ele quis assumir o namoro. Minha mãe ficou tão feliz. Um "bom" rapaz, que poderia me dar um bom futuro, e nos ajudava tanto...

— Mas ele não era tão bom... — falei.

Ela fez que não com a cabeça. — A primeira vez que ele me forçou, achei que iria morrer. Senti tanto nojo de mim, que senti meus valores morrerem ali. Mas continuei com ele para manter a dispensa de minha casa abastecida. E quando decidi vir para São Paulo para estudar, terminamos. — Ela segurou minha mão — Então, você pode me ensinar a ser uma garota de luxo, educada, refinada, uma dama. Mas você não tem que se preocupar com meu lado puta. Esse já veio pronto.

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora