30 O Beijo

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Mike

Acordei com o barulho da porta sendo fechada, olhei para o lado e vi o bilhete.

"Wes chegará ás nove, deixei tudo pronto para seu café na geladeira, quando ele chegar, peça para ele pegar, tive que sair antes para resolver nosso probleminha com o Ge, volto mais tarde"

Beijos, comporte-se, ou bato em você.

Cocei os olhos rindo. Vadiazinha abusada. Nem acreditei que a teria todos os dias comigo. Tinha que concordar que algo naquela merda toda tinha que ser bom.

Apertei a lateral do corpo e coloquei minha perna imobilizada para fora da cama.

Me apoiei na parede próxima, e meu joelho menos ruim protestou. Respirei fundo e fui alternando meu peso entre as pernas, com passos quase de robô, sem articulações, me agarrando ás paredes.

O corredor pareceu ter quilômetros a percorrer, mas consegui chegar. Lavei o rosto, escovei os dentes, sem me dobrar, e molhei toda a minha camisa. Pensei em me jogar no box e tomar banho de roupa mesmo, mas desisti quando senti minha respiração arder meus pulmões. Ficar molhado por algumas horas poderia me ferrar outra vez.

Andei de volta até a cozinha, e segurando as costelas, me abaixei na geladeira para pegar a caneca de leite que ela deixou preparada e tampada com um plástico filme. Peguei-a, e me virei para fechar a geladeira, me desequilibrei e o leite fez uma poça no chão da cozinha, entre eu e a saída.

Suspirei, fervendo de raiva. Tomei tudo, coloquei a caneca na pia, e olhei para o chão, avaliando a poça. Respirei fundo e tentei pular, mas claro que aquele piso molhado não me deixaria escapar. Escorreguei, e cai sentado sobre o leite.

- Que inferno! - resmunguei, apertando minhas costelas doloridas com o tranco.

Tentei me levantar, mas me dobrar era uma tortura massacrante.

Com algum esforço, consegui me afastar da poça de leite e encostar minhas costas na máquina de lavar. Apoiei a cabeça nela, abracei meu próprio corpo, tentando amenizar a dor, e esperei.

***

Ouvi a porta se abrir, não sei quantas horas depois, e abri os olhos.

- Mike? Cheguei, desculpe o atraso eu... - Ele se virou para a cozinha e quase deu um grito. - Mike!

- Bom dia Wes... - falei entediado.

Ele deixou as sacolas sobre a mesa nova e correu para mim. - Você está bem? Se machucou?

Neguei com a cabeça. - Estou bem, só escorreguei na porra do leite.

Ele suspirou aliviado - E você ainda queria ficar sozinho... Espero que tenha entendido agora o porquê de estamos aqui.

Revirei os olhos.

Ele pegou um pano no tanque, enxugou o chão e voltou para mim. Pegando meu braço e colocando sobre seus ombros.

Me apoiei nele, e ele esticou o braço para me amparar. - Ai Wes... Minhas costelas. - reclamei.

- Desculpe... Quer que eu te leve até o banheiro?

Pensei por um instante. Mas não podia ficar molhado de leite o dia todo.

- Por favor.

Ele me levou até lá e nem reclamou em me carregar com aqueles passos irritantemente lentos.

Ele me deixou dentro do banheiro, e apoiei as mãos na pia, mas ficou parado na porta.

Pelo canto de olho consegui ver o conflito que ele estava. - Wes? - chamei-o, fazendo-o voltar para a terra. - Pode me ajudar com a camisa?

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora