41 Jaula

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Mike

Andei com dificuldade de volta para o motel onde já morava há duas semanas. Minha vontade era desistir de tudo, ir para a estrada e pedir carona para voltar para casa, me enterrar no colo de Mariany e esquecer tudo aquilo. Eu queria minha paz, queria apenas mergulhar no cheiro dela que me acalmava, e fingir que não passei por aquilo de novo. Que não ouvi aquelas loucuras, e que não estava prestes a enfrentar uma droga de treinamento outra vez.

Fui para meu quarto, e tranquei a porta. Não dormi, não fui capaz, nunca imaginei que a maldade daquela mulher chegasse a tanto. O maldito amor... O amor que a levou a loucura completa. Amor que eu conhecia bem. Não dava para negar que fiz quase o mesmo que ela. Prejudiquei Mariany tentando ajudá-la. No fim, eu não era tão diferente assim...

Deitei minha cabeça no travesseiro, fechei os olhos, mas a minha dor... A minha culpa não me deixaram dormir. Mariany tinha razão, interpretar papéis exigia mais energia do que eu contava. Mas depois que conheci a liberdade, voltar para minha jaula se tornou doloroso demais.

Tomei meu café da manhã sozinho, e às nove da manhã, atendi a porta depois de ouvir batidas leves.

— Oi Mike.

Arregalei os olhos para ela — Danny? — Ofeguei.

— Surpreso? — Ela riu — Vim te levar para o treinamento.

— Quem é? — Arrisquei perguntar, já tremendo por dentro.

— Vai descobrir. — Ela respondeu por fim.

Fechei os olhos, lutando contra meu interior trêmulo, e a segui. Ela parou na porta da sala de vidro e a abriu para mim.

Olhei em volta, mas não vi ninguém, e me sentei em uma das cadeiras, esperando.

Alguns minutos depois, vi Edith, Maria e Alexandre parados do outro lado do corredor, fingi que não havia visto eles parados me olhando como se eu fosse um bicho de zoológico.

Observei suas cabeças virarem para a porta da sala, e Tom trazia não só Wes, como também Mariany com as mãos amarradas para trás, ele abriu a porta de vidro e os jogou dentro da sala.

Baixei a cabeça, tremendo de ódio.

Fechei minhas mãos em punho, sentindo tudo dentro de mim ferver. Me levantei, agarrei a cadeira de madeira onde eu estava sentado, e arremessei contra o vidro na direção deles. — Malditos! — gritei em fúria. — Eu vou matar todos vocês!

A cadeira mal arranhou o vidro, mas Danny e Alexandre se encolheram.

Maria me encarou, com seu olhar frio, mas sorriu. — Escute Mike, e será muito simples. Trouxe seu amor e a golpista que te prejudicou. Os dois são meus agora. E você vai treiná-los para mim. Sei o poder que seu treinamento tem.

A encarei com um olhar de pura ira. — Entre aqui maldita! E lhe mostrarei o poder do meu treinamento. Vou ensiná-la a não tratar pessoas como bicho.

Ela riu. — Ou os treina, ou os três morrerão de fome, e vamos assistir de camarote.

Me virei para eles, e alcancei Wes primeiro, soltei suas mãos, e segurei seu rosto. — Me perdoe Wes. — Beijei-o nos lábios demoradamente. E ignorei Mariany completamente.

Ainda segurando o rosto de Wes, sussurrei para os dois — Onde está a K?

Wes balançou a cabeça negativamente. E olhei para Mariany pela primeira vez. Seus olhos cheios de lágrimas quase me fizeram correr para ela e a soltar imediatamente.

— Não sabemos. — Mariany me sussurrou desviando o olhar de mim.

— Já que não quer treiná-lo Mike, pelo menos mate as saudades de seu amor, para que possamos assistir.

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora