16 Nova vida

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Mariany

Foi tudo exatamente como o Mike disse, virei um tipo de celebridade na agência depois que a notícia de eu não só ter passado, como tê-lo feito vomitar, ter se espalhado.

Nas semanas seguintes, trabalhei sem folga, quitei minha dívida e consegui alugar um pequeno apartamento, não muito longe dali. As coisas começavam a dar certo para mim finalmente.

Comecei as aulas, comprei todos os materiais e mandei dinheiro para minha mãe, dinheiro esse, que ela nunca vira na vida junto.

Conciliei bem os estudos e o trabalho. Nenhum dos meus clientes era difícil, eram homens comuns, poderosos, mas não abertos a excentricidades. Lidava com eles muito bem. E sabia que Mike ainda cuidava de mim, escolhendo a dedo cada cliente. Ainda me protegendo.

Eu não o via mais. Não falei com ele após a manhã seguinte ao teste, quando ele me deu um beijo demorado no banheiro do quarto, antes de me entregar ao homem que destrancou a porta naquela tarde, ao fim das vinte e quatro horas.

Esse mesmo homem, agora era tão próximo a mim, como um amigo. Ge virou meu motorista, me levava e buscava em todos os trabalhos, e um dia me confessou que cumpria ordens do próprio Mike. Eu duvidava que as outras tivessem essa mesma regalia.

Mais rápido do que eu podia acompanhar, minha vida se transformou. Em quatro anos, tinha um apartamento modesto, mas muito bem decorado, uma boa quantia de dinheiro na conta, e havia reformado a casa de minha mãe em Campinas, dando a ela uma vida confortável com o dinheiro que lhe mandava todos os meses. Eu não poderia esperar nada melhor, e agradeci por ter insistido, em todas as oportunidades em que Mike quis que eu desistisse.

Eu praticamente não voltava à agência, só ia até lá para novas fotos, nunca encontrava com Mike, mas recebi um telefonema me chamando, era quinta-feira, e eu estava terminando meu turno da tarde no hospital onde eu estagiava, e quando saí, Ge já me esperava para me levar até a agência.

Tudo estava como sempre. A mesma fachada de sempre, modelos e fotógrafos passando para lá e para cá nos corredores. As mesmas fotos e panfletos pelos corredores, e o mesmo cheiro... Aquele lugar era parado no tempo, mesmo que muitas pessoas passassem por lá todos os dias.

Parei na recepção, e sorri para ela. — Oi Danny.

Ela arregalou os olhos para mim, e me abraçou. — Meu Deus, quanto tempo garota. — Ela me olhou de cima a baixo — Você está linda! Como vai a faculdade?

— Muito bem, minha formatura será no sábado. Estou muito animada.

Ela sorriu — Que bom, não sabe como fico feliz por você. — Ela me abraçou novamente.

— Mariany! — Uma voz grave me fez soltá-la imediatamente. Me virei para ele, parado no corredor, sorri, e tentei não correr para ele e abraçá-lo. Ele estava lindo como sempre, com a barba um pouco mais cheia do que costumava ser, e seu rosto de menino, havia mudado levemente para um mais adulto. Ele me lançou um olhar de advertência, e parei de sorrir — Venha até minha sala. — Ele falou sério.

Olhei para Danny, me despedi, e comecei a segui-lo. Andei atrás dele até sua sala, e assim que ele fechou a porta atrás de mim, pulei em seu pescoço, abraçando-o com toda a minha gratidão e saudade.

— Mike... Você não faz ideia, eu estou tão feliz... Como você está? Me conte, por que não me procurou...

Ele se soltou de mim. — Sente-se, vamos conversar. — Ele apontou para uma cadeira em frente a sua mesa.

Minha alegria diminuiu. — O que foi? Aconteceu alguma coisa? Alguém reclamou de mim?

Ele balançou a cabeça negativamente. — Não. Quero saber como andam suas contas.

— Minhas contas? — falei confusa.

Ele assentiu.

Me ajeitei na cadeira em sua frente — Bem, eu tenho algum dinheiro guardado...

— Ótimo, — ele me interrompeu — designei você para um trabalho esta noite, o pagamento já está na sua conta a partir de agora, acabei de fazer a transferência.

— Tudo bem... — falei sem graça, imaginava que ele não iria me tratar daquela forma depois de tanto tempo. — Minha formatura será no sábado.  — falei tentando puxar algum assunto. — Você quer...

Ele me encarou — Eu sei. Sei de todos os seus passos.

Sorri para ele — Não esperava menos do meu monstro favorito.

— Sua mãe virá?

Me surpreendi com a pergunta. Mas assenti.

— Sim, ela está tão animada. Minha formatura é o sonho da vida dela. — sorri.

Ele sorriu também — Que bom que as coisas deram certo para você. Eu cheguei a duvidar. Mas é muito bem ranqueada na agência. Existe uma fila de espera por você, depois daquele teste. Mas... Vão continuar esperando. — Ele piscou para mim.

— Você escolhe cada um deles não é?

Ele assentiu. — Prometi a você, não foi?

Fiz que sim com a cabeça. — Você é o melhor amigo que já tive Mike. Obrigada mesmo por cuidar de mim.

Ele se inclinou para mim. — Não agradeça. — Um sorriso irônico cruzou seus lábios. E ele me entregou o papel com o endereço — Entregue ao Ge. Ele a levará até lá. Pagaram cinquenta mil por essa noite, então, apenas faça seu melhor.

Arregalei os olhos. — Isso é muito dinheiro...

Ele assentiu — Sim, é quase sua média do mês. — ele deu de ombros, e abriu uma das gavetas de sua mesa. — Isso é para você.

Ele me entregou um envelope pardo, grande, fiquei confusa e o abri. — O que é?

Ele segurou minha mão. — Não abra aqui, coloque na bolsa, não deixe ninguém ver.

— Mas o que é isso? — Enfrentei-o.

— Nada com que deva se preocupar agora. Só quero que guarde em segurança. — Ele olhou para a porta atrás de mim. — Agora vá, ou vai se atrasar para o trabalho.

Assenti, enfiando o envelope dentro da bolsa, me levantei, e sorri para ele. — Foi bom te ver de novo.

Ele suspirou e se levantou, vindo na minha direção. Agarrou minha cintura me olhando nos olhos. — Você é como uma porra de vinho Mariany. Está cada vez mais deliciosa. Não é a toa que dúzias de homens brigam por você...

— Queria que estivesse entre eles Mike — Mordi o lábio — Você sempre teria preferência para mim.

Ele sorriu. — Sei que sim. Quem sabe um dia...

Ele me virou, e deu um tapa em minha bunda. — Agora vá trabalhar, vadia.

Me virei para olhá-lo por cima do ombro — Qualquer dia vou encontrar você fora desse lugar, e vou obrigá-lo a não me tratar como cadela.

Ele piscou para mim — Combinado.

Eu ri e saí da sala.

Fui para a casa me arrumar, coloquei meu melhor vestido, o sapato mais elegante. Imaginei o quão poderoso era esse cliente para pagar tanto por mim... Fiz uma maquiagem leve, e um penteado sofisticado no cabelo. Ge me levou até a mansão onde eu iria trabalhar naquela noite.

E aquele... Foi meu último trabalho...

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora