32 Eu te amo, vadia

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Mike

As coisas saíram de controle, a reunião acabou, e ninguém havia tocado no jantar. Mariany levou K até a porta e voltou para se sentar ao meu lado. Fiquei perdido por um tempo, tentando guardar as lembras em seus arquivos escondidos longe de mim outra vez.

— Você precisa comer para tomar seus remédios. — Ela falou baixinho ao meu lado.

— Não quero nada. — respondi sem olhá-la. — Não consigo comer coisa alguma agora. Meu estômago...

— Me desculpe, desculpe por fazer você relembrar tudo isso, mas ela precisava saber a que nível a Maria chega.

Assenti. — Tudo bem. — Dei de ombros. — Não me importo.

Ela me observou tão atentamente que me fez virar para ela.

— Mike... Eu sei que lembrar essas coisas deve ser horrível. — Ela se abaixou na minha frente — Mas acabando com elas, nós vamos ficar em paz.

— Não ligo para nada disso Mariany... Estou pouco me lixando para essas lembranças...

— Então por que está tão quieto?

Lutei contra mim mesmo, mas não consegui, não consegui olhar naqueles olhos e mentir.

— Porque durante um breve momento, achei que eu fosse humano o suficiente para perceber que me importava com o sofrimento dos outros... Quando dei ao Wes seu primeiro beijo, — Ela arregalou os olhos para mim, mas ignorei — quando te vendo cozinhar, vislumbrei uma vida que podia ter... Mas eu não sou isso... Você me diz para pensar nas pessoas que vamos salvar de ter o mesmo destino que tivemos... Mas a verdade é que estou pouco me fodendo para todas essas pessoas, eu mesmo as torturaria se fosse necessário. A única coisa que me importa é você. E não sei se isso me torna melhor ou pior.

Ela engoliu seco, e seus olhos se encheram de lágrimas. — Mike...

— O amor não é bonito como nos filmes Mariany... Ele é feroz, audaz, cruel, e sei disso desde que te vi naquele terminal, e mandei que uma das minhas te abordasse, que fosse convincente e persuasiva... E disse a ela que se não me trouxesse você, a surraria sem piedade...

Ela se levantou empurrando a cadeira — Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca! — Ela gritou tapando os ouvidos. — Por que você faz isso? Por que quando uma ponta de algo bom aparece, você estraga tudo Mike? Por que está me contando isso? Por que está falando como o monstro que sei que você não é?

Fiquei de pé também, me segurando na parede. — Porque você está me tratando como um bebê desamparado. Um coitado que sofreu tanto na vida que justifica seus erros! Acorde Mariany, não justifica! Nada justifica! Eu sou um merda, e isso não vai mudar. Mas ainda sou o merda que morreria e mataria por você. Então pare de se meter nesses assuntos. Eu ajudo como puder, mas você fica fora disso.

— Não! Você não manda em mim, vou ajudar, e não é pelo que passei na sua mão... Não Mike... Vou ajudar pelo que você teve que fazer comigo. Naquele teste eu senti, eu entendi que estar no seu papel, era muito pior que estar no meu. Te machucar, foi mil vezes pior para mim do que ser machucada por você, então cale essa boca, porque você não é meu dono! E eu me meto onde quiser.

Olhei sério para ela — Se algo acontecer com você nessa brincadeira, juro que mato todos eles, K e até meu pai... — Soltei a parede e abri os braços — Venha aqui. — Ela chorou, mas me abraçou, colocando sua cabeça em meu peito, e me apoiei nela, repousando meu queixo sobre sua cabeça.

— Estou fazendo isso para te proteger também Mike... — Ela sussurrou no meu peito.

— Então lembre-se que meu coração bate em você, e se quer me proteger, cuidará de você primeiro. — Ela levantou a cabeça, e limpei seus olhos — Eu amo você. — sussurrei. — Sempre amei. Desde a primeira vez que coloquei os olhos em você, desde que deslizou aquela droga de sorvete para mim. Desde que me beijou, quebrando todas as minhas regras. — Fechei os olhos respirando fundo — Os anos que passei longe de você foram... Mais dolorosos que toda essa porra que acabei de contar Mariany. Por favor, por favor! Não se meta!

Ela sorriu espantada — Eu acho que te amo também Mike. Porque depois de tudo aquilo, depois de tudo que passei, eu não consigo virar as costas para você. A cada vez que fui atrás de você, eu queria me lembrar das surras, da vez que me fez vomitar para se mostrar para aquele desgraçado do Alexandre. Da minha formatura perdida... Mas eu só conseguia me lembrar daquele teste, das minhas mãos machucando você, de como eu te fiz chorar com as agulhas... — Ela escondeu o rosto — E eu me odeio, me odeio de verdade por te amar tanto. Seu monstro desgraçado. — Ela chorou.

Meu coração deu três saltos mortais no peito. E balancei a cabeça negativamente. — Você é realmente maluca... Você devia me odiar. Você precisava...

— Devia, mas acho que de tanto lutar contra, acabei te amando mais. Você não sabe Mike... Mas aqueles clientes... Todos certinhos e cheios de dedos comigo. Me cuidando como se eu fosse um bibelô. Eu queria você, queria você no lugar de cada um deles!

— Isso não é bom para você Mariany. Ficar perto de mim agora... — Apertei-a ainda mais em mim — É um jogo perigoso, principalmente com esses planos.

Ela riu, se afastando um pouco — Um jogo? Sou uma jogadora também Mike. Não vou ficar de fora.

Segurei seu rosto, afagando seu cabelo — Não... Sem jogos, estou cansado dessa merda toda. Só quero ter o resto da vida para te provar o quanto eu te amo. — Mordi seu lábio — E para te mostrar que eu sempre venço.

Ela avançou para mim, e me entreguei ao beijo, ignorei sua mão sobre minhas costelas, e a apertei, puxando seu rosto para mim, intensificando o beijo, me perdendo em sua boca deliciosa. E dessa vez, era eu, eu por inteiro, sem machucá-la, sem ordens, sem regras... Eu e ela... E que se fodesse o resto do mundo.

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora