Audaz

44 Melhor presente

Mariany

Me levantei antes que o sol nascesse, me soltei dele, cobrindo seu peito nu, ele estava tão exausto que não acordou. Vi as marcas de agulhas em seu joelho, Vi a dor em seus olhos quando entramos naquela jaula. Senti seu pavor quando aquela mulher mandou que ele estuprasse Wes. E principalmente, vi seu medo quando eu pedi que ele me usasse no lugar do Wes. Aqueles olhos, aquele olhar perdido enquanto ele se tornava o Audaz por completo. Eu já havia visto. No dia em que ele me açoitou. Era como se nem fosse ele mesmo, como se algo tomasse conta de seu corpo. Tive que bater nele para que ele despertasse. E não queria ver aquilo nunca mais. Aquela mulher fez aquilo com ele. Transformou-o naquele mostro.

Qualquer um a mataria, eu a mataria se pudesse, por tudo o que fez com ele durante todos os anos.

E a mãe dele? Meu Deus... Como ele podia ser assim, tendo crescido em meio a tudo isso?

Tomei um banho, ainda imaginando, e me lembrando de tudo que havia acontecido. O plano todo saiu de controle quando não imaginei que Danny estivesse com eles, e que eles ainda trabalhassem juntos, os quatro. E agora eles estavam mortos. E Danny não seria mais um problema.

Saí do banho, e me sentei em frente a TV, liguei-a no volume mais baixo para não acordá-lo. Procurei pelo canal de notícias e não se falava de outra coisa. O "massacre" no motel da rodovia. A polícia investigava como sendo um local de venda de drogas. E me surpreendi quando todas as notícias giravam em tordo de confrontos entre os próprios bandidos. Ninguém mencionou o grupo de K, ou o envolvimento do pai do Mike. Eles limparam toda a sujeira. E não daria em nada.

Pelo menos isso.

Eu gostaria de falar com ele, talvez resolver a situação do Mike. Se ele conseguia limpar uma sujeira com mortos, ressuscitar Mike, devia ser algo fácil para ele.

— Mariany... — Ouvi sua voz sonolenta e olhei por cima da poltrona, vendo-o sentado na cama com cara de assustado.

Sorri, e fui até ele, dei um beijo em seu rosto. — Pode dormir Mike, eu estou aqui com você. Deve estar cansado, amor...

Ele balançou a cabeça negativamente e me agarrou, me puxando para seus braços. — Você saiu de perto, e não consigo dormir longe de você.

Me virei para ficar de frente para ele. — Estava vendo as notícias.

— Falam algo de nós?

Fiz que não com a cabeça — Nada, e nem falam dos feridos. Apenas sobre dezoito mortos.

— Dezoito? — Ele ergueu as sobrancelhas sussurrando.

— Sim, mas não falam nada sobre a K e Wes.

— Temos que ver se ele está bem. — Ele falou preocupado.

Assenti — E você tem que cuidar desse joelho.

Ele fechou os olhos. — Sei disso, mas prefiro fazer isso em São Paulo, para poder ficar no meu apartamento... Com você.

— De qualquer forma temos que ir ver Wes, vamos aproveitar para tirar um raio-x disso, e ver como está. Estou preocupada Mike.

Ele me apertou ainda mais. — Eu estou bem... Não consigo andar, mas estou bem. — Ele suspirou — E você? Tem que tomar algum remédio, ou sei lá? Tem que... — Ele coçou a cabeça — Caramba, sou muito analfabeto nessas coisas...

Eu ri e o beijei — Eu vou ao médico quando voltarmos Mike. Mas está tudo bem. — Tranquilizei-o.

Ele sorriu — Não é verdade o negócio de ficar enjoada e com vontade das coisas?