9 Almoço

11K 1K 210
                                    

Mariany

Assim que a porta se fechou, soltei meu corpo tenso no sofá. Olhei ao redor, pensando em como eu adoraria comprar um apartamento como aquele para minha mãe. Olhei para a tela, cheia de vídeos para ver e me levantei, deixei o tablet sobre o sofá e andei pelo apartamento. Fui até o quarto, e a cama gigante com lençóis brancos estava perfeitamente arrumada. O banheiro grande junto ao closet me fez pensar na casa que deixei para trás, menor que aquele espaço, somente a área da banheira era do tamanho do nosso banheiro inteiro. Respirei fundo vendo meu rosto ainda inchado no espelho, e as marcas... Será que valia a pena? Será que eu suportaria aquilo? Para alguém de fora, pareceria ganância, uma vontade imensa de ter coisas que eu não podia. Mas não era isso. Não era só isso. Eu gostaria de poder um dia levar minha mãe para tomar um sorvete como aquele que comprei. Gostaria de levá-la a um salão como o que me mandaram. Queria que ela tivesse uma casa onde não se viam trincas nas paredes, onde houvesse uma grande mesa de jantar, e principalmente, com comida sobre ela. Não era errado sonhar. E Deus haveria de me dar forças, e me perdoar pelo que eu estava fazendo. Pois eu não fazia apenas por mim. E não para sempre. Mas precisava passar por isso. Precisava aguentar e estudar, estudar com a esperança de que aquilo seria passageiro.

Voltei para a sala e me sentei no sofá, arrumando a postura, como ele sempre implicava. Dei play no primeiro vídeo.

Meus olhos foram tragados para a tela. Um misto de medo, nojo e desespero me tomou. Horrorizada, passei para o segundo vídeo e depois por outro, e outro. E em cada um, eu me sentia ainda pior. O que ele fazia... Os machucados, as horas de sexo em um único vídeo, aceleradas. E cordas, e brinquedos, e joguinhos... Exatamente como ele tentou fazer comigo. Mas por algum motivo, não parecia o mesmo homem, aquele no vídeo não era a pessoa que tinha acabado de sair daquele apartamento. Nem quando me açoitou, e riu da minha dor. Não... Ele não era aquela pessoa, era algo diferente.

Tirei os sapatos e me encolhi no canto do sofá, admirando a destreza com que a garota o amarrava na aula seis. Como ela foi igualmente cruel com ele quando teve a chance. E de como ele não esboçou absolutamente nada. Nem uma cara de dor, de prazer, de nada, ele era um nada ali, nas mãos dela. Uma fera acuada, mas altiva como um verdadeiro príncipe, que não se curva a ninguém.

Dei um pulo quando ouvi um barulho. E me virei para a porta. Ele apareceu, carregado de sacolas. Soltei o ar olhando para a tela, pausando o vídeo.

Me levantei, e caminhei descalça até ele.

— Quero ficar! — falei determinada. Mesmo que eu não soubesse de onde aquela determinação tinha vindo.

Ele sorriu de lado. — Ótimo, então me ajude com as sacolas. — Ele me entregou algumas delas, e levou o resto para a cozinha. Coloquei as minhas sobre a mesa, espiando para dentro delas, sem abri-las.

Ele riu atrás de mim — Pode abrir, são para você.

Enfiei a mão dentro de uma sacola de papelão como aquelas do shopping. E toquei em um tecido fino. Tirei-o de dentro, e vi um vestido vermelho, casual de malha com mangas compridas, e curto, acho que na altura das coxas. A estampa de borboleta, era tão pequena e delicada que pareciam joias, adornando o vestido.

Ele me observava de perto, enquanto eu admirava o vestido.

— Você gosta?

Assenti, com os olhos cheios de lágrimas — É lindo.

— Vai usar hoje á noite.

— Mas ele é curto... — Antes que eu terminasse a frase, ele pegou outra sacola e tirou de lá uma meia calça grossa.

— Isso vai resolver seu problema. Pensei em te levar a um restaurante, mas apesar da carta branca, não quero correr o risco de nos verem juntos.

AudazOnde histórias criam vida. Descubra agora