Capítulo 2

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Breno não tinha o costume de ir até a escola no final da tarde, mas a vontade de conversar com Paula estava mais forte que sua rotina.

Havia se passado uma semana desde que falara a última vez com a morena. Não sabia se ela estava fugindo por não querer falar sobre o assunto ou se realmente era o destino que queria deixar Breno preocupado e curioso. Ele nunca mais havia conseguido cruzar com ela na escola já que, ou a morena deixava Jade e saia, ou chegava depois que ele já havia ido embora.

- Filho?- Maria Olívia olhou estranhada para Breno ao ver ele entrar pelos portões do lugar.

- Oi, mãe- ele deu um beijo no rosto dela.

- Aconteceu alguma coisa?

- Eu disse que ia conversar com a Paula, mas acabou que eu não encontrei mais com ela aí vim agora pra ver se a encontro- ele explicou.

- Ela tá chegando um pouco atrasada ultimamente, como eu já havia dito- Maria Olívia ajeitou os óculos no rosto- Vai falar com ela aonde?

- Não sei, mas quero falar com ela nem que seja em um restaurante ou outro lugar.

- Ficou preocupado também?

- Sim, quero saber o que ta acontecendo e ver se posso ajudá-la de alguma forma.

A maioria das pessoas já haviam ido embora, estava apenas Jade e mais meia dúzia de crianças esperando seus pais.

- Como vai, pequena?- Breno sorriu e acariciou o cabelo de Jade quando ela parou ao seu lado.

- Muito bem, Breno- ela sorriu para ele.

- Sabe se sua mamãe tem alguma coisa pra fazer depois daqui?- Maria Olívia quem perguntou.

- Hoje é sexta-feira, mamãe costuma sair nesse dia- ela falou.

- E você fica com quem?- o loiro questionou.

- Fico com a nossa vizinha. Ela é muito legal e faz vários doces pra mim- a menina falou abrindo um largo sorriso.

Breno se repreendeu mentalmente por julgar Paula sendo que nem sabia o que a morena iria fazer.

- Mamãe!- a pequena exclamou animada e olhou para o portão onde a morena entrava atraindo o olhar de Maria Olívia e Breno também.

A mulher abriu um sorriso ao ouvir o grito da filha e apressou o passo para chegar mais rápido até ela.

- Meu amor- ela pegou Jade no colo e deu vários beijos em seu rosto- Olá- ela falou sorrindo para os outros dois enquanto sentia a filha repousar a cabeça em seu ombro.

- Oi- eles responderam sorrindo.

- Se importa se eu for ao banheiro? Eu to realmente necessitada- Paula mordeu o lábio inferior aguardando a resposta.

- Fique a vontade, querida- Maria Olívia respondeu e a morena pegou a bolsa de Jade entrando na escola- Essa moça tem uma postura tão forte que eu não consigo nem imaginar se ela passa por algum problema.

- Os olhos dela falam muito- Breno comentou- Mas realmente é difícil de adivinhar qual a dificuldade já que ela não transparece nada.

- Vai lá, conversa com ela e depois me fala pra eu ver se posso ajudar em algo também- a mulher pôs a mão no braço do filho.

- Vou fazer isso- ele sorriu- Eu vou pedir pra Jade vir pra cá aí a senhora fica com ela, tá?- ele perguntou e Maria Olívia assentiu com a cabeça.

Breno se dirigiu até a área dos banheiros e ficou lá até Paula sair com Jade em seus braços.

- Pequena, a tia Maria Olívia tá te chamando lá na frente- ele falou sorrindo para ela.

- Posso ir, mamãe?- ela olhou para Paula.

- Claro- a morena a deixou no chão- Só cuida pra não cair.

Jade foi correndo e, quando saiu do campo de visão deles, Breno se virou de frente para Paula.

- Você pode falar agora?

- Posso sim- ela falou após olhar para o relógio.

- Vamos até uma sala.

Eles se dirigiram até uma das salas de aula e Breno se sentou em uma mesa enquanto a morena puxou uma cadeira para ficar de frente com o homem.

- Tá acontecendo algum problema?- ele foi direto ao ponto- Eu não to aqui pra te julgar ou por qualquer outro motivo que não seja oferecer ajuda.

Paula suspirou e olhou para o chão.

- Eu perdi meu emprego e as coisas começaram a apertar lá em casa.

- Seu marido é desempregado?- Breno não sabia de ela era casada então decidiu jogar verde.

- Eu moro sozinha com a minha filha- ela explicou- Então...- o loiro ficou esperando o resto da fala, que não veio.

- Isso tá te deixando preocupada?- sabia que era uma pergunta idiota, mas queria que ela se abrisse.

- Demais- ela levantou a cabeça olhando para o teto- Parece que o mundo tá desmoronando na minha cabeça.

- Quer falar sobre?- ele pegou uma cadeira pra ficar mais perto dela.

- Eu moro de aluguel e tem a escola aqui pra pagar, então o meu emprego era tudo pra mim. O salário não era muito bom, mas era o necessário pra eu e minha filha vivermos- ela voltou a olhar para o chão.

- E sua faculdade?

- Eu estudo na universidade pública- ela explicou- Esse foi o motivo de eu ter vindo pra Goiânia.

- Você não é daqui?- ele já havia reparado que o sotaque dela era diferente, mas nunca perguntou sobre.

- Sou de Minas Gerais, mas eu fiz o vestibular e passei pra universidade daqui então resolvi agarrar a oportunidade.

- Então sua família não é daqui?

- Não- foi a única coisa que ela disse.

- O que eu posso fazer pra te ajudar?

- Nada- ela suspirou- Eu estou procurando emprego em tudo que é lugar, uma hora eu vou achar, não se preocupe- Paula olhou para Breno pela primeira vez desde que a conversa iniciou e seu olhar transmitiu um misto de força e preocupação.

- Mas aqui é cheio de empresas, certeza que em algum lugar estão precisando de secretária.

- Aí que tá, Breno- ela se mexeu sem graça na cadeira- O meu antigo chefe me queimou com todo mundo e eu nunca mais vou conseguir trabalhar de secretária.

- Mas sua demissão aconteceu por algum motivo sério?

- Não é interessante o motivo- ela não queria ser grossa, mas também não queria tocar no assunto- E não se preocupe que eu vou dar meu jeito- Paula se levantou da cadeira- Posso ir?

- Claro- ele também se levantou.

Ambos voltaram para o pátio onde só estavam Maria Olívia e Jade.

- Vamos, filha?- Paula já pegou a mochila da menina.

- Estão de carro? Querem carona?- Breno perguntou.

- Não precisa, obrigada- Paula pegou a pequena no colo- Até segunda-feira!

Ela saiu do local sem nem deixar os outros dois se despedirem.

- Aconteceu algo?- Maria Olívia questionou quando eles foram para o estacionamento.

- Ela tá precisando da nossa ajuda, mãe.

Take Me HomeOnde histórias criam vida. Descubra agora