Capítulo 32 - O primeiro encontro físico

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LISIE

As lágrimas deslizam pelo meu rosto, as minhas mãos impede-as, limpando-as. Eu saio da suite, percorro o corredor e passo pela frente da receção. Aquela loira olha-me de lado, eu desvio o meu olhar e desloco-me á grande porta azul rolante. Deixa-lo sozinho no mesmo lugar que ela faz-me querer voltar para trás mas o meu coração não me deixa. Eu continuo a caminhar, entro na porta rolante e saio do hotel. A brisa fria da manhã choca com o meu rosto húmido e a luz da manhã já reflete nos vidros do edifício. O primeiro sol da manhã está a aparecer e uma parte do céu encontra-se escura enquanto uma parte do céu já se encontra azul claro. Eu olho na minha frente e vejo o carro vermelho de Diego mas eu desvio o rosto para não voltar para trás. Eu sei que o irei perder e que desistirá de nós. Acredita que sai por nós, Diego. Eu sei que será difícil entenderes, mas aquele traidor ainda tem uma parte de mim que quero te entregar. Ser tua por inteiro. Eu preciso de ver o seu rosto e de terminar a história que ele já finalizou. Automaticamente viro o rosto para o lado, desloco o meu corpo para a esquerda e começo a caminhar sem destino. Eu ando pela rua rodeada de prédios gigantes com uma agitação enorme para estas horas. Depois eu reparo numa fila de carros de táxis estacionados perto do hotel e bato ao vidro de um táxi antigo com uma fraca cor amarela. Rapidamente, o vidro desce. Eu aproximo o meu rosto da janela e vejo um senhor com uma certa idade, a sua pele negra e os seus cabelos brancos dão-lhe um enorme encanto. Quando ele repara em mim abre um sorriso simpático.

- Posso ajuda-la? – o seu olhar é tão simpático como o seu sorriso.

- Desculpe incomoda-lo. Eu não sou desta cidade por isso não conheço nada. Você conhece algum café que fique perto de uma esquadra da polícia? – o seu sorriso fecha um pouco, encontra-se pensativo e reticente enquanto o seu olhar simpático mantêm-se.

- Sim, tem o Century Coffe que fica a 20 minutos daqui. - ele volta a sorrir com carinho no olhar.

- Você está disponível? – pergunto.

- Sim menina, entre. – ele solta um grande sorriso.

Eu abro a porta de trás e sento-me num banco de cabedal preto que tem o mesmo cheiro que o antigo carro do meu avô. Nostalgia. Ele arranca fazendo a manobra para sair do parque e em pouco tempo observo a grande rua cheia de prédios a ficar para trás. Esta cidade é muito diferente da minha, os prédios da minha cidade são antigos e cheios de história enquanto que estes edifícios não me transmitem algum sentimento. A minha cidade está repleta da verde natureza enquanto que esta é rodeada pelos enormes prédios urbanos e o cinzento chão sem vida. Eu pego o meu telemóvel da mala, ligo-o e recebo dezenas de mensagens de Thomas. Sem as abrir, saio da caixa de mensagens e procuro o seu nome nos meus contactos. Quando "Thomas" aparece no ecrã um aperto grande surge no meu peito, combato-o com a coragem que me faz iniciar a chamada. Eu levo o telemóvel á minha orelha e a cada toque sem atender, desejo mais ouvir a sua voz.

- Ly, estava a morrer de saudades tuas. Por favor ouve-me! A Vera manipulou aquelas imagens! Aquela conversa era de um mês atrás. Ela nunca foi á minha, á nossa ilha, eu juro! As provas estão no teu e-mail, eu enviei para ti. Eu nunca te faria mal, Ly.– a sua voz rouca de ter acordado fala apressadamente enquanto o meu peito mata a saudade da sua voz.

- Thomas, diz-me o quanto desejas ver-me? – interrogo esperando a sua resposta.

- O quanto desejo recuperar as minhas asas que foram arrancadas de mim devido á falta da tua voz. – eu já tinha saudades das suas palavras poéticas.

- Eu estou na tua cidade. – afirmo rapidamente.

- Estás onde? – oiço o seu gaguejar.

- Eu estou a caminho do Century Coffe. Eu preciso de esclarecer a nossa história! Por isso, preciso de te ver á minha frente senão vou deixar-te no esquecimento.– desligo a chamada.

Eu amo uma pessoa que não conheço e que nunca desejei tanto conhecer alguém. Eu preciso de vê-lo na minha frente, de sentir e ver que é um ser de carne e osso. Eu preciso de saber quem mexe mais comigo: os olhos castanhos-claros de Thomas ou os olhos verdes de Diego.

THOMAS

A sua chamada foi uma grande surpresa. O meu coração estava a morrer aos poucos com a sua falta. Eu preciso dela mais do que eu pensava. Sem ela é como se as minhas palavras fossem vagas nos meus poemas, é como se o meu respirar não satisfizesse as minhas células. Eu levanto-me da cama, visto a primeira coisa que me aparece e faço uma chamada.

- Peter, prepara o jato. – digo enquanto me calço.

- Mas está tudo bem? – oiço a sua voz preocupada.

- Sim, despacha-te por favor. – desligo a chamada.

Eu pego no meu telemóvel, em dinheiro e saio de casa. O Peter é o meu motorista e piloto privado, hoje eu dei-lhe folga porque a minha vontade de sair de casa era nenhuma. Pego num táxi e dirijo-me á pista de aviação. Quando lá chego já tenho o jato pronto. Rapidamente eu sento-me dentro dele e aviso-o da cidade onde precisamos de aterrar. A viagem ainda dura cerca de 40 minutos logo, eu estarei incontactável. Espero que ela me aguarde. Durante esta viagem irei ganhar forças para enfrentar o seu rosto ao ver quem eu sou de verdade. A hospedeira aproxima -se de mim e caminha como se o corredor fosse uma passarela. O seu corpo é alto, a sua anca larga sobressaísse na sua saia até joelhos e o seu peito firme está escondido pela camisola que cobre o seu peito. O seu cabelo ruivo faz a sua pele branca sobressair com os seus olhos azuis.

- Deseja alguma coisa? - fala educadamente e com um posição que favorece as suas grandes mamas.
- Não. - respondo seco.

Eu tenho todos os dias dezenas de pessoas que se mostram para mim devido à minha beleza e á beleza da minha fortuna. Pela primeira vez eu tenho alguém que me gosta de mim pelas minhas palavras. Ela é tão especial e a sua simplicidade faz-me não querer mais ninguém. Eu nunca a vi, será pela primeira vez, confesso que tenho medo de nunca mais querer parar.

********

Após algum tempo, Peter avisa que vamos aterrar e o meu peito esmaga-me por estar mais perto do dela. Quando sinto o jato a parar retiro o cinto e apresso-me para a porta branca de saída.

- Peter, arranja um carro e anda ter comigo ao Century Coffe. Eu apanho um táxi. – a porta abre-se e rapidamente eu desço as suas escadas e corro em direção á rua.

Eu saio da pista de aviação, entro num táxi e felizmente estou a cinco minutos do local de encontro. Depois de chegar ao meu destino, pago ao taxista e ofereço-lhe o troco. Quando os meus olhos observam as grandes janelas transparentes do café noto que a esquadra da polícia é ao seu lado e alguns policiais encontram-se a tomar café ao balcão. Ela escolheu este sitio de propósito porque não me conhece e sabe que aqui estará em segurança, tão esperta. Não precisas de ter medo, eu preferia ferir-me a magoar-te. Eu percorro os meus olhos pelas diversas mesas á sua procura e o meu peito aperta de uma forma tão intensa quando a vejo tranquilamente sentada. Os seus cabelos negros e longos caem pelos seus ombros e as suas finas mãos seguram uma caneca branca que toca os seus lábios. Os seus lábios têm traços ainda mais belos de como eu os imaginava. Eu coloco o meu carapuço, aproximo-me da porta enquanto ganho forças e coragem para me apresentar a ela. Dois polícias abrem a porta e olham-me com desdenho por usar o carapuço do meu casaco. Eu ignoro os seus olhos arregalados por verem quem eu era. Com a minha distração, o seu corpo encontra-se em movimento a dirigir-se ao balcão. Ela é tão simples e tão bela que nem precisa de maquilhagem. As suas roupas simples deixam aqueles olhos verdes brilhar no seu rosto tornando-a ainda mais bela. O seu rosto vira-se para mim e rapidamente eu viro a cara. Eu engulo em seco e começo a caminhar o mais longe possível. Sou tão cobarde! Eu não consigo mentir-lhe mais, eu preciso de dizer-lhe a verdade e se ela me amar aceitar-me-á tal como eu sou. Cobarde! O meus pés já fogem, eu não sou capaz por isso acelero os meus passos apesar do meu peito querer ver o seu rosto mais uma vez.

- Thomas? – oiço a sua bela voz nas minhas costas nesta rua ainda escura.

BETWEEN I - entre corpo e voz [Português De Portugal]Onde histórias criam vida. Descubra agora